Temos tido o privilégio de experimentar boas bicicletas de BTT, deixando por aqui todas as sensações que elas nos transmitem. Algumas delas têm sido hardtail, com especiais atenções para dois modelos com que andámos recentemente. Um deles ainda está em teste e aparecerá por aqui em breve, o outro é esta “grande” Trek Procaliber 9.8 na sua versão de 2022.

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E dizemos “grande” não pelo tamanho da bicicleta (que até é bastante “curtinha” em dimensões neste tamanho M, já lá vamos…), mas sim pelo grande desempenho que demonstrou ao longo de umas boas centenas de kms em trilhos típicos dos troços de maratona BTT e de pistas de XCO, até.

Ou seja, estradões rápidos, seguidos de single tracks a descer forte e rapidamente, intercalados por secções muito “atribuladas”, a subir, com muitas pedras molhadas, regos provocados pelas chuvas do inverno, raizes de árvores em caminhos de floresta… XC puro.

Podemos dizer que a bicicleta andou metade do tempo deste teste nesses ambientes referidos acima, acrescidos de estradões de terra batida bem abertos, e também algum asfalto, talvez 5% apenas, e sempre a subir. O habitat natural da Trek Procaliber é este: o “cenário” de BTT que praticamente todos nós em Portugal adotamos nas nossas voltas de fim de semana (ou nos treinos semanais).

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Rápida e segura?

Esta espécie de conclusão é retirada por notarmos que se trata de uma bicicleta rápida, que reage a pronto quando pedalamos, especialmente a subir aqueles caminhos que puxam bem pelo “cabedal”, pelas pernas. Talvez consigamos ter uma explicação para notarmos esta diferença face a alguns modelos hardtail.

O quadro carbono feito com o carbono OCLV da Trek é bastante compacto, sendo que este adjetivo é um elogio, esclareça-se. O ângulo de direção a rondar os 69 graus medidas, juntamente com o ângulo do tubo do selim em torno dos 73 graus, deixa-nos com uma distância entre eixos de 110 cm neste tamanho M. E com a roda de trás bastante por baixo do selim, com o devido “recorte” no tubo do selim.

É assim que a Procaliber 9.8 fica mais curta, mais direta, mais reativa tanto à pedalada como à nossa ação no guiador. Vai para onde queremos, responde quando mandamos. A ajudar a isso está o facto de ser uma bicicleta relativamente leve.

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Na casa dos 10 kgs…

Pesando pouco mais de 10 kgs, podemos dizer que, nos tempos que correm (tempos estes em que a bicicletas estão mais caras que nunca…), o peso apresentado corresponde ao segmento de preço em que esta Procaliber 9.8 se insere. Isto não quer dizer que concordemos, pois achamos que este modelo, nesta versão, até podia custar um pouco menos…

Mas nota-se que a bicicleta não é pesada, tanto a pegar-lhe para colocar em cima do carro como a controlá-la nos trilhos. Já andámos com hardtails abaixo dos 10 kgs (a outra que temos em teste neste momento pesa 9,5 kgs!), sabemos como a leveza ajuda; aqui, tendo em conta o que se consegue fazer com a bike, ficamos confortáveis com o peso.

É leve q.b. e estes 10,80 kgs (na nossa balança, com pedais Shimano de gama média colocados) ajudam a subir, dão controlo a descer e, acima do resto, proporcionam prazer a pedalar em cada momento.

Fiabilidade XT

Das rodas, pneus, suspensão frontal e outros pontos em destaque falamos mais à frente neste artigo. Entretanto, e antes de falarmos dos periféricos que a Trek escolheu instalar nesta versão da Procaliber, fica a nota sobre o grupo de transmissão que move a bicicleta.

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É que o conjunto Shimano XT nunca nos falha, mais uma vez notámos isso neste Procaliber 9.8. Uma opção que encaixa perfeitamente nesta bicicleta, sem falhas, com uma cassete 12x 10-51t que combina bem com o prato de 34 dentes. Falemos um pouco deste ponto…

Na “concorrência”, leia-se Sram, há a opção 10-52t, que sempre ajuda um pouco quem está menos em forma a subir quando à frente o monoprato é 34t. Contudo, e porque o objetivo é que esta bike seja rápida e expedida (algo que ela é, disso não haha dúvidas!), esta combinação nipónica de cassete 10-51t e monoprato 34t funciona muito bem em praticamente todos os momentos.

Não estamos em baixo de forma, mas também não somos os melhores trepadores; no entanto, e perante subidas bastante exigentes, que representaram à vontade 1/3 dos kms que percorrermos com esta Procaliber, mantemos a opinião de que a escolha de 34t é o ideal para a estrutura desta Trek.

Refira-se, em complemento, que a juntar à fiabilidade do sistema XT vem a leveza dos cranques pedaleitos E*thirteen TRS Race, de 175 mm, que são feitos de carbono. Fantásticos e esteticamente apelativos.

Apesar da fiabilidade e leveza, lembramos que há melhor e mais leve que o XT, todavia… Isso existe no catálogo da Sram, mas também no da Shimano aqui presente, e concretamente através do grupo XTR, que é mais fluido que o XT, como sabemos.

Na travagem, a mesma coisa. Não podemos dizer que os travões XT funcionam mal; pelo contrário, são exímios, com a progressão certa e uma capacidade total para parar a bicicleta sempre que é preciso e sempre que o terreno o permite. Contudo, também se sabe que os XTR são também um “nadinha” melhores, especialmente porque mostram uma relação melhor entre aplicação de força e resposta junto dos discos.

Num caso ou noutro, na transmissão ou no sistema de travagem, todos ficamos bem servidos com os conjuntos Shimano XT. E é um facto que é este grupo que traz consigo relações mais equilibradas entre peso, qualidade, performance e preço, já que uma bicicleta com XTR será sempre substancialmente mais cara.

E que mais?

Alguns periféricos que, em adição aos pontos que destacamos abaixo, merecem algum relevo. A começar pelo selim que vem de origem, que também é da Bontrager, marca da “casa”. É o P3 Verse Elite, com estrutura em aço inoxidável e largura de 145 mm, adequada.

Por seu turno, outros dois elementos em carbono “portam-se” muito bem e ajudam a garantir o peso mencionado atrás nesta “conversa”. Um deles é o espigão de selim Bontrager Pro, o outro é o guiador com avanço integrado RSL Bontrager, também feito com o carbono OCLV da marca, um periférico de que gostamos particularmente e que achamos que fica “a matar” nesta Procaliber.

É compatível com os acessórios de encaixe Blendr (à frente, por baixo, como são exemplos alguns modelos de luzes frontais), tem 750 mm de largura e falamos um pouco mais dele mais baixo, nos destaques, sem esquecer os sempre bem-vindos punhos ESI Chunky que vêm de origem.

Alguns destaques:

100 mm de curso

É suficiente. Como esta é uma bicicleta rápida e reativa, apontada aos trilhos de XCM e XCO, montar uma suspensão da frente como a Fox Performance 32 Step Cast é uma decisão de certa forma acertada, se bem que surge aqui também em função do patamar de valor da bicicleta.

Há melhores, é certo, mas também é verdade que esta suspensão cumpre bem a sua missão, com 100 mm sempre “aprumadinhos” e prontos para amortecer na dose certa as irregularidades que encontramos tanto a descer como a subir.

Radioactive Red to Cobra Blood Fade!

É uma questão de gosto pessoal de cada um, claro, e nem temos por hábito tecer comentários relativamente às cores dos quadros das bicicletas, pois há sempre várias opções à escolha. Contudo, esta Trek Procaliber 9.8 que tivemos oportunidade de testar chegou-nos com a fantástica decoração Radioactive Red to Cobra Blood Fade, como a marca lhe chama.

Esta combinação de cores, bem como a forma como as letras da marca e do modelo ficam dispostas no quadro, agradam-nos bastante. A bicicleta fica com um look ainda mais agressivo e a estética salta bastante à vista. Bom trabalho da marca neste campo, tal como acontece na outra versão disponível, a Dark Prismatic/Trek Black.

Sistema Trek IsoSpeed

Na união entre o tubo do selim e o ponto onde o top tube dá origem às escoras, encontramos o sistema Trek IsoSpeed, a combinação de uma membrana em borracha com um pivot oscilante cuja missão é “suavizar o efeito desconfortável das pequenas lombas e das trepidação dos trilhos”.

Refira-se que esta é uma bicicleta hardtail e que este sistema não está sequer perto de um sistema de amortecimento traseiro. A ideia é apenas filtar vibrações, não amortecer, e esta é uma ação que não se sente diretamente, vai sendo sentida, no fundo.

Ou seja, tal como outras marca fazem ao nível do carbono das escoras, que conseguem de alguma forma “ceder” um pouco e amortecer vibrações vindas da roda de trás, este sistema pretende minimizar esse efeito, impedir que todos os impactos da rodagem sigam diretamente para o corpo do ciclista.

Da mesma forma, este absorver também tenta fazer com que toda a estrutura aqui no tudo do selim não “sofra” tanto, o que pode, no limite, impedir que o quadro sofra danos em alguns pontos em particular.

No fundo, a ação do IsoSpeed não se sente ostensivamente, mas vai estando lá para nos proteger a nós e à integridade da bicicleta. Algo com créditos já firmados entre as hardtail e algo que ajuda a fazer uma diferenciação face à concorrência.

Rodas Bontrager Kovee Elite 30

Destacámos a boa performance destas rodas da Bontrager, sub marca da Trek no segmento dos periféricos, logo na antevisão que fizemos a esta bicicleta. Agora, rodados algumas centenas de kms com ela desde então, continuamos com uma excelente opinião sobre elas.

Relembramos que se trata de um par de aros que custa 948 euros no total quando vendido em separado, além de terem garantia vitalícia (apenas para o primeiro dono). Ajudam a justificar o preço de 4.099 euros que é pedido pela bicicleta e eliminam por completo a eventual necessidade de upgrade deste componente, algo com que nos deparamos muitas vezes em certas versões de hartail, até mesmo no catálogo da Trek.

Largas, rígidas, resistentes, sinónimo de confiança a descer e leves a subir. Portaram-se de forma excelente e sem mácula em todos os trilhos mais exigentes por onde passámos, incluindo vários caminhos de pedra solta em plena Serra de Montejunto. Os pneus Bontrager Team Issue XR2 também são boa escolha, até porque preferimos estes aos XR3.

Cockpit RSL Bontrager

Temos de confessar que adoramos este sistema guiador/avanço, o RSL Bontrager em OCLV Carbon. Elevação negativa de 13 graus, guiador de 750 mm e caixa de direção com  Knock Block (que evita que o guiador rode totalmente em caso de queda, “para que as guias dos travões e das mudanças não sejam puxadas e para que os manípulos não batam no tubo superior”).

Está muito “limpo”, estética e ergonomicamente perfeito, neste tamanho de quadro M. Mas compreendemos que alguns utilizadores precisem de proceder a ajustes neste sector da bicicleta, o que fica impossibilitado por o avanço ser integrado no guiador (e vice-versa).

Quando compramos uma nova hardtail, há casos em que esta parte da bicicleta nos deixa sempre com vontade de melhorar e/ou mudar algo. Neste caso, este é mais um ponto em que não mexeríamos um mílimetro. Gostamos também que de origem venha um par de punhos ESI Chunky, são os nossos preferidos.

Especificações da Trek Procaliber 9.8 2022:

  • Quadro: Carbono OCLV Mountain, IsoSpeed
  • Suspensão frontal: Fox Performance 32 Step Cast 100 mm
  • Manípulo: Shimano M8100 12x
  • Desviador: Shimano M8100 12x
  • Pedaleiro: E*thirteen TRS Race em carbono, 175 mm, prato 34t
  • Cassete: Shimano M8100 12x 10-51t
  • Travões: Shimano Deore XT M8100
  • Rodas: Bontrager Kovee Elite 30 Boost
  • Pneus: Bontrager XR2 Team Issue tubeless
  • Selim: Bontrager P3 Verse Elite
  • Espigão: Bontrager Pro
  • Guiador/avanço: Bontrager RSL Bontrager em OCLV Carbon, 750 mm
  • Punhos: ESI Chunky
  • Peso: 10,26 kgs (anunciado); 10,80 kgs (pesados por nós, com pedais)
  • Preço: 4.099 euros

Site oficial:

Todas as fotos (clica/toca para aumentar):

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Neste teste:

  • Texto e teste: Jorge D. Lopes
  • Fotos: Nuno Granadas
  • Vídeo: Jorge D. Lopes
  • Rider nas imagens: Jorge D. Lopes

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