Diversão a 100%. Vamos alongar-nos mais no veredicto da GT Force GT-E Amp, mas na verdade esta é a forma mais direta e precisa que encontramos para resumir a nossa experiência com esta bicicleta elétrica de BTT. E essa experiência foi bem “intensa”, com especial foco nas capacidades da bike em termos de motorização e autonomia.

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Antes de mais, ressalve-se que a GT Force GT-E Amp leva já algumas temporadas sem alterações consideráveis, pois o feedback dos seus utilizadores é muito positivo, garante a marca.

Trata-se de um modelo com um “corte” totalmente all mountain, que tanto serve os amantes dos percursos mais trail como os aprecidadores das grandes tiradas e das descidas típicas de um circuito EWS-E de enduro. Vamos ver tudo mais em pormenor já a seguir.

Quadro em alumínio

Comecemos pelo quadro. Ao assistirmos à chegada de tantas bikes elétricas deste género  em carbono, este quadro em alumínio chega quase a ser um “estranho”. Mas depressa percebemos que este material casa perfeitamente com o tipo de uso a que esta GT se destina, e que requer uma resistência total ao “abuso” nos trilhos.

Porque esta é uma bicicleta para abusar, disso não temos dúvidas. O quadro é atrativo, num cinzento de tom chumbo que ostenta sem pudor as soldaduras de união dos tubos, transmitindo robustez e durabilidade.

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Todo o design e estrutura integra muito bem o motor e a bateria, ainda que a tampa que cobre estes dois elementos resultaria melhor caso fosse pintada à cor do resto da bike. Isto visualmente, claro.

Há uma espécie de “autenticidade encantadora” neste modelo, no fundo, o que dá origem também a pontos que podem ser melhorados. Um pequeno exemplo disso é a forma como o cabo do travão de trás surge preso ao longo da escora, tal como do outro lado a corrente insiste em atingir a outra escora recorrentemente. Dois “pormenores” que geram algum ruído.

Quanto à geometria, há claramente uma vocação para descer, com cotas descontraídas (ângulo de direção a 65 graus) e um perfil comprido (1.234 mm entre eixos, escoras de 455 mm no tamanho M). Isto dá “vida” à bike, com uma direção fácil de controlar, ainda que seja um pouquinho “nervosa” tanto a rolar como a descer. Os cursos de suspensão de 150 mm em cada eixo são os ideias para o que esta GT-E é capaz de fazer.

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Shimano EP8 e bateria de 504 Wh

Haveria muito para falar sobre a capacidade elétrica desta GT, pois com a app GT E-Tube podemos alternar entre dez níveis de assistência à pedalada cinco níveis de assistência ao arranque (o que permite assim selecionar a quantidade máxima de potência a debitar em cada um dos três modos principais).

Mas vamos centrar-nos na configuração que vem de origem em cada modo (Eco, Trail e Boost) neste motor Shimano EP8, que é uma opção sólida.

Com a app GT E-Tube podemos alternar entre dez níveis de assistência à pedalada cinco níveis de assistência ao arranque.

Este motor (85 Nm e 400% de apoio máximo à pedalada) é o nosso melhor amigo em cima desta bike, é certo, mas entrega potência de forma um pouco brusca no modo Trail e especialmente no modo Boost.

Isto faz com que para trepar alguns trilhos cheios de pedra prefiramos o modo Eco, que liberta um apoio mais suave e progressivo. Os cranques Shimano de 165 mm são uma escolha acertada, pois deixam longe muitas pedras mais salientes nos trilhos.

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A bateria? Talvez 504 Wh de capacidade possam parecer pouco, mas, num uso de sobe e desce constante na montanha, o nosso corpo irá “fraquejar” antes dela. Em percursos de 50 km em que em 90% do tempo usámos o modo Eco, sobraram ainda dois traços da energia disponível (20 a 30% do total). Se usarmos o modo Boost em 10% desses momentos, a bateria é reduzida para metade, como acontece com a maioria destes sistemas.

É a própria GT que indica que futuras versões trarão a bateria de 630 Wh, algo que será muito bem-vindo!

Por sua vez, o display está presente e mostra muita informação útil: kms totais e parciais, velocidade instantânea, velocidade média, cadência, autonomia, hora, tempo de utilização… O alternar entre ecrãs podia ser mais fácil de acionar durante a marcha.

Amortecimento eficaz

O conjunto de suspensões instalado dá boa resposta a uma configuração com uma relação componentes/preço equilibrada. A suspensão frontal RockShox 35 Gold RL (e-MTB approved) mostra um comportamento aceitável, um degrau abaixo das topos de gama.

Lida bem com os obstáculos e o dial de controlo permite ajustar a compressão “clique a clique” para uma personalização em tempo real. Numa bike com 23,9 kg, agradecemos tudo o que possa ser personalizado!

Esta suspensão contribui para esse peso, com um offset reduzido (44 mm), o que a torna um pouco “nervosa” a rolar e descer. A subir, contudo, e especialmente em trilhos técnicos, este componente torna esta GT mais manuseável do que se podia pensar à partida.

Já o sistema de amortecimento traseiro (LTS System), com um RockShox Deluxe Select R, trabalha ao mais alto nível: “absorvente” e muito confortável, contribuindo para descidas divertidas em que as rodas teimam em sair do chão. Isto tanto pode ser bom como menos bom, depende do nosso estilo de condução de uma e-BTT e dos trilhos que percorremos normalmente.

 

Uma verdadeira GT-E!

Já falámos bastante sobre a performance da GT Force GT-E Amp e da diversão que ela nos traz nos trilhos. Aliás, diríamos que é uma bicicleta mais divertida que eficaz, até, o que não é pouco!

Para quem deseja entrar em competições, não é a escolha ideal, nem é esse o seu habitat natural, pois seria preciso efetuar muitos ajustes e alterações para deixar o resultado final ao nível de várias concorrentes diretas.

No entanto, como companheira de aventura no monte, é genial. E falamos de subir e descer, porque a rolar, especialmente quando vamos acima dos 25 km/hora a que o motor deixa de assistir, esta é uma bicicleta pesada e complicado de mover como desejamos.

Na subida, é uma surpresa: pode não ser a mais fácil de levantar para superar alguns obstáculos, mas é muito reativa, responde bem ao que “mandamos” com o guiador nas mãos… Com o modo Eco ativo e alguma técnica é incrível o que se torna possível subir entre regos, raízes, pedras…

Na descida, por outro lado, apela à diversão. Mas há aqui uma curva de aprendizagem e habituação à bicicleta, visto que a direção é um pouco “nervosa”, como já referimos, e é necessário sabermos levar a roda da frente exatamente para onde queremos. Aqui, mesmo sabendo que vamos ficar “presos” em alguns arbustos mais “chatos”, o guiador bastante largo dá uma boa ajuda no controlo.

Nos saltos, talvez por causa do peso, é normal que a bike tenda a fazer descer a frente mais depressa do que seria suposto. Isto leva-nos a encontrar primeiro o “jeito”; a partir daí, talvez seja uma das e-BTTs mais divertidas com que já andámos.

À medida que vamos fazendo os mesmos percursos e trilhos uma vez atrás da outra notamos que acabamos por ir cada vez mais depressa. E isso não é coincidência, certamente; é sim fruto da confiança extra com que a GT Force GT-E Amp, muito robusta, nos presenteia.

Alguns destaques:

Transmissão Sram SX Eagle

O conjunto Sram SX Eagle é sinónimo de um funcionamento “discreto”, por assim dizer. Um acionamento “duro” mas preciso, sendo por vezes necessário levar o manípulo Single Click um pouco mais à frente para fazer a mudança entrar.

Como o próprio nome indica, cada toque coloca uma nova e única mudança. Preferimos quando é possível avançar duas ou mais prolongando o acionamento do manípulo, mas também compreendemos que se trata de uma forma de proteger o material quando a rolar ou a descer mais depressa.

Travões Shimano MT420

Os travões Shimano MT420 de quatro pistões nas pinças e discos de 203 mm em ambos os eixos mostraram-se “frios” e duros demais nos primeiros kms, mas ao longo do tempo foram mostrando o que valem.

É certo que é preciso saber aliviá-los no momento certo para termos uma travagem à medida da curva que vem a seguir. Não são uns XT ou XTR, contudo cumprem a missão. Nota para o facto de na ficha técnica da bicicleta poderem aparecer uma versão diferente. A conferir o momento da compra.

Rodas WTB e pneus Maxxis

As rodas WTB STX i30 não comprometeram e não deram qualquer sinal de problema, o que é sempre bom. Belas, com 30 mm e muita robustez sobre alumínio. Já os pneus, com 2.60”, transmitem a largura e tração necessárias para este tipo de uso.

Do pneu traseiro, um Maxxis Minion DHR II, nada a apontar. Já o da frente, um Maxxis Minion DHF, pareceu-nos perder tração em certas situações de descida com a roda inclinada lateralmente. Mas é possível que tal também seja fruto de uma direção um pouco “nervosa” demais.

Guiador e espigão telescópico

Entre os principais periféricos, destacamos o guiador GT All Terra Riser de 780 mm, que contribui para reduzir algumas dificuldades de controlo da roda da frente.

E o espigão de selim telescópico TranzX Dropper, que se revela eficaz, apesar de o tubo permitir apenas a presença da versão de 100 mm.

A nossa avaliação

Há bicicletas mais bem equipadas que esta, sim; também as há mais com um comportamento mais assertivo nos trilhos. Mas o encanto desta GT Force GT-E Amp está na quantidade de diversão que nos consegue trazer se a nossa ideia for subir e descer, subir e descer…

Alguns defeitos assumidos transformam-se em vantagens quando ficamos a conhecer bem a bicicleta, além de que a assistência à pedalada gerada pelo sistema EP8 satisfaz todas as necessidades, sejam elas um arranque mais brusco ou uma transposição de obstáculos mais suave.

Pontos mais positivos

  • Os travões funcionam muito bem, com facilidade para modularmos a travagem e libertarmos potência progressivamente.
  • Gostámos mais desta GT a subir trilhos técnicos do que a descê-los, o que é curioso; tração no ponto e manuseamento equilibrado (desde que a técnica do “condutor” dê uma ajuda…).
  • O look robusto de toda a bicicleta acaba por ser atrativo para quem gosta de modelos com um ar mais “durão”.

Pontos a melhorar

  • A descer, a direção transmite menos segurança do que é suposto numa bike com este patamar de peso. Trocar o pneu da frente por um mais competente pode solucionar a situação, acreditamos.
  • Não é propriamente um ponto negativo da bike, mas sim do lote de equipamento: o conjunto SX Eagle é algo que podemos querer trocar no primeiro upgrade a esta GT, pois o sistema Single Click nem sempre é a solução mais adequada para o tipo de trilhos a que a bike se destina.
  • O design da escora direita não consegue impedir que a corrente a atinga frequentemente, gerando ruído. Uma proteção de silicone para aquela zona do quadro é algo obrigatório.

Especificações da GT Force GT-E Amp:

  • Quadro: GT eForce em alumínio
  • Suspensão frontal: RockShox 35 Gold RL 150 mm
  • Amortecedor: RockShox Deluxe Select R 150 mm
  • Motor: Shimano Steps EP8
  • Bateria: E8035 504Wh
  • Transmissão: Sram SX Eagle (prato 34t e cassete 11-50t)
  • Travões: Shimano MT420 de quadro pistões (discos de 203 mm)
  • Rodas: WTB STX i30
  • Pneu da frente: Maxxis Minion DHF 29”x2,60”
  • Pneu de trás: Maxxis Minion DHR II 29”x2,60”
  • Guiador: GT All Terra Riser de 780 mm
  • Espigão selim: TranzX Dropper
  • Selim: WTB Silverado
  • Peso: 23,9 kg (verificado, com pedais)
  • Preço: 5.199 euros

Site oficial:

Todas as fotos:

Galeria de pormenores:

Vídeo oficial:

The Force GT-E Is So Much Fun It Should Be E-Legal

Neste teste:

  • Texto: José Escotto
  • Fotos: Samuel Escotto e Antonio Iglesias
  • Captação de vídeo: Samuel Escotto e Antonio Iglesias
  • Edição de vídeo: Jorge D. Lopes
  • Rider: José Escotto

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