Ainda alguém tem dúvidas de que o gravel veio para ficar? Pedalar em estradões (e até trilhos) quase à velocidade a que andamos na estrada, partir à aventura numa bela viagem de bicicleta… E até competir. A juntar aos vários e bons modelos de bicicletas de gravel que já experimentámos, agora chegou a vez da nova Specialized CruX Comp 2022.

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É um facto que, ultimamente, as diversas marcas têm-nos solicitado cada vez mais a realização de testes a este tipo de bicicletas. Isto acontece não só por este novo segmento do ciclismo ser novidade, mas também por ser um mercado em que há efetivamente uma forte aposta.

Há cada vez mais modelos de bikes de gravel, praticamente todas as grandes marcas já as têm nos seus catálogos, dando resposta à crescente procura de ciclistas que se vão rendendo a esta vertente. É um sector em crescimento, por certo, com eventos e provas do género a despontarem por essa Europa fora, inclusive em Portugal.

E por essa razão, além das outras, surge uma Specialized CruX com grande apetência para competir, precisamente.

Specialized CruX vs. Diverge…?

Esta não é a primeira bicicleta de gravel da Specialized, claro. Antes desta novidade, a marca apostou principalmente na Diverge, um modelo que também já experimentámos. Aliás, a Diverge foi uma das primeiras de gravel em que andámos a fundo, um pouco à semelhança do que também fizemos com a 3T Exploro Team Force Base.

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Com a Diverge ainda temos na memória os mais de 180 kms que completámos numa longa e desafiante viagem que fizemos ao longo da costa alentejana (entre a praia da Comporta e Vila Nova de Mil Fontes). Deixamos o convite para reveres o vídeo dessa “aventura”. Não faz parte deste teste à CruX, é só mesmo um reminder. Está abaixo:

Agora, apresentamos as nossas impressões sobre esta nova Crux, completadas pelo que mostramos e referimos no vídeo no início deste artigo, mais acima, com imagens também da Diverge. Explorámos nesse dia alguns dos pontos mais altos do Oeste, ligando a Praia Azul à Serra de Montejunto, isto a juntar a bastantes kms que percorremos noutros dias com a CruX.

E não temos dúvidas de que este modelo é um “foguete”. Mais: será, provavelmente, a bicicleta de gravel mais leve do mundo. O quadro em carbono pesa uns meros 825 gramas, a forqueta pesa 400 gramas, diz a Specialized, e os restantes elementos fazem com que a balança não vá além dos 8,5 kg. Talvez um pouco mais quando lhe montamos os pedais (de BTT).

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No início, nem nos apercebemos que vamos numa bicicleta de gravel.

A CruX quase se assemelha a uma bike de estrada pela sua rapidez, reatividade e respetiva velocidade que ganha rapidamente. Tudo isto é notório nos primeiros kms percorridos, quando ainda estamos com força plena para aplicar nos pedais.

Para obter performance a este nível, é notório que o departamento de investigação e desenvolvimento da Specialized recorreu ao know how acumulado ao longo de anos a criarem bicicletas de estrada e de ciclocrosse. Aliás, esta CruX é UCI approved, pelo que pode ser utilizada também em provas de ciclocrosse.

Quem colaborou no desenvolvimento deste modelo foi Peter Denk, um engenheiro sobejamente conhecido pela sua obsessão pela leveza. Ou seja, alguém que procura conceber os quadros de carbono mais leves do mercado, tendo já participado no projeto Specialized Aethos, uma bicicleta de estrada com um quadro que pesa menos de 600 gramas. Também já a testámos.

Também vale a pena referir que esta Crux, no modelo S-Works, tem um quadro com apenas 725 gramas. Neste modelo Comp o peso do quadro é de 825 gramas.

A bicicleta tem umas linhas sóbrias, aparentemente “comuns”, mas com detalhes minimalistas de elevado rigor. Os tubos do quadro ainda apresentam umas linhas um pouco ao estilo oldie, de secção redonda, logo não muito aerodinâmicos. Mas as geometrias vincam a alma e o carácter da CruX.

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É normal encontrarmos bicicletas (leves ou pesadas, mais ou menos rápidas…) que nos transmitem alguma dureza e não atenuam as forças ascendentes da leitura de terreno.

Neste caso, mesmo sem incluir qualquer sistema de amortecimento como acontece com o Future Shock 2.0 na Diverge, a CruX tem alguma capacidade para absorver vibrações provenientes do terreno. Faz isso através do quadro e através das rodas.

O quadro consegue assim ser confortável, ao mesmo tempo que tenta otimizar todo o desempenho do contacto das rodas com o solo. Diz a Specialized que não há perda de energia quando o ciclista exerce “poder” na pedalada. Confirmamos, sim, que há uma forte sensação de progressão quando “apertamos” com ela…

Nos estradões abertos, a rolar e a descer com uma pedalada fluida e constante, é fácil alcançarmos velocidades elevadas. Alertamos para o cuidado que é preciso ter nestes momentos, pois é possível que entremos em algumas secções mais depressa do que é recomendável.

Nos trilhos mais “fechados”, quando é preciso passar neles, dentro do que uma bike de gravel permite fazer é bastante fácil manusear o cockpit, o triângulo traseiro, a bicicleta como um todo. Andar mais ou menos depressa, aí já depende do “kit de unhas”.

Componentes na média gama

Nesta versão CruX Comp de 2022, a bicicleta está equipada quase na totalidade com a gama Sram Rival 1: travões, desviador, transmissão… Isto com exceção da cassete, que é uma Sunrace 11-42t de 11 velocidades.

No pedaleiro, o prato é 40t. Ajudou-nos (e muito!) nos muitos kms que fizemos com a CruX, já que o que não faltou foi subidas íngremes e outros caminhos onde habitualmente andamos com bicicletas de BTT. A CruX “devora” caminho…

É notório que a Specialized desejou aqui completar a sua gama de gravel com uma CruX que vem satisfazer clientes que desejam começar a competir, por contraponto com uma Diverge, por exemplo, que é destinada mais a viagens em cima da bicicleta.

A CruX é para quem adora baixar o seu melhor tempo em cada troço semana após semana, e não tanto para as grandes tiradas. Não tem fixações ou furações para colocar acessórios como alforges e bolsas. Também não tem o compartimento SWAT para arrumação de ferramentas e outros itens no interior do quadro. Apenas apresenta furação para instalar uma segunda grade de e outra grade de bidon.

Clearance gravel

Para fechar o texto, que já vai longo, fazemos referência a grande mais-valia desta Specialized CruX Comp: os pneus. E o espaço que o quadro apresenta para instalar pneus mais largos, esclareça-se.

Em bicicletas sem qualquer tipo de amortecimento, os pneus montados podem ser ainda mais importantes no comportamento dinâmico que se obtém, dado que uma grande percentagem da eficácia da máquina vai depender da altura desses pneus e das medidas possíveis de instalar.

Assim, a Specialized equipou originalmente a CruX Comp com os excelentes e sobejamente conhecidos pneus Pathfinder Pro 2BR 700X38. Um grip fantástico. Mas é possível montar pneus e rodas diferentes, de acordo com os desafios que temos pela frente. Podemos utilizar pneus de até 47 mm em 700c ou de até 2,1″ em 650b (27,”).

Este é um dos pontos que caracterizam as bicicletas de gravel dos tempos que correm, pelo menos as mais versáteis e “eficazes”. A marca consegue com a CruX compor da melhor forma a oferta de gravel, preparando “terreno” para o aumento das competições e passeios de gravel que acontecerá este ano. Outras marcas também estão a fazê-lo, esperamos com a mesma qualidade e diversão que encontramos na Specialized CruX.

Pontos mais positivos

  • O clearance para montagem de pneus mais largos, como mandam as “regras” do gravel (700 x 47 mm ou 650b x 2.1”).
  • A geometria apurada e que torna a bicicleta muito reativa sempre que imprimimos força nos cranques e nos pedais.
  • A bicicleta é muito leve tendo em conta o uso a que se destina: 8,5 kg sem pedais e outros acessórios adicionais. O quadro tem 825 gramas apenas (!) e a forqueta 400 gramas.
  • As rodas DT Swiss G540 para gravel portam-se muito bem.

Pontos a melhorar

  • Talvez numa próxima geração da CruX a marca decida incluir neste modelo o amortecimento Future Shock. Seremos dos primeiros a agradecer!
  • O design e aspeto mais old school pode não agradar a todos os amantes do gravel de hoje em dia. Nós gostamos!

Especificações da Specialized CruX Comp:

  • Quadro: Crux FACT 10r Carbon, Rider First Engineered, Threaded BB
  • Guiador: Specialized Adventure Gear
  • Avanço: Specialized, 3D-forged alloy, 4-bolt, 7-degree rise
  • Selim: Body Geometry Power Sport
  • Espigão selim: Roval Terra Carbon Seat Post, 20mm offset
  • Travões: Sram Rival
  • Manípulos: Sram 1
  • Desviador Traseiro: Sram Rival 1, long cage
  • Cassete: SunRace, 11x, 11-42t
  • Pedaleiro: Sram Rival 1x40t
  • Corrente: KMC X11 Extra 11x
  • Rodas: DT Swiss G540 Disc
  • Pneus: Pathfinder 700×38 Pro 2BR
  • Peso: 8,5 kgs (tamanho equivalente ao L)
  • Preço: 4.200 euros

Site oficial:

Todas as fotos (clica/toca para aumentar):

Galeria de pormenores (clica/toca para aumentar):

Neste teste:

  • Texto: Nuno Margaça e Jorge Lopes
  • Fotos: Jorge Lopes
  • Vídeo (captação, edição, produção): Diogo Caramujo
  • Rider: Nuno Margaça

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