A segunda etapa dos Pirenéus, abençoada pelos míticos Cols d’Aspin e do Tourmalet, e escaldante final em Cauterets, permite duas ilações sobre este Tour 2023. A primeira é que Tadej Pogacar, de que se temia que estivesse à mercê da sentença fatal de Vingegaard e da Jumbo-Visma após a derrota na véspera no Marie-Blanque, afinal está vivo, e bem vivo.

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Não só resistiu à pressão, ao desgaste e à estratégia da formação neerlandesa, e depois aos subsequentes ataques de Vingegaard, como guardou forças para contra-atacar o dinamarquês e ganhar quase 30 segundos. Ainda que menos de metade do tempo perdido na quarta-feira.

O que aconteceu foi uma réplica aproximada ao que Pogacar fez e refez no Tour de 2022, quando se desdobrou em múltiplas ofensivas ao rival, para lhe roubar a camisola amarela que este lhe arrebatou nos Alpes (Granon), e depois, na última semana, nos Pirenéus (Hautacam), expôs-se à fadiga e aí perdeu definitivamente a possibilidade de revalidação do título conquistado nos dois anos anteriores.

Do que ressalta destes dois duelos empolgantes em dois dias seguidos de alta montanha é que em ambos houve vencedor e vencido, ao contrário do ano passado, em que sucederam vários empates, à exceção de pequenas vitórias parciais e tangenciais de Pogacar e os dois referidos KO que foram aplicados ao esloveno por Vingegaard.

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Vingegaard está pela primeira vez de amarelo e a Jumbo-Visma pode controlar, como gosta e tão bem sabe, e a UAE Emirates vai ter de partir para o ataque, o que está por provar que saiba fazer, porque controlar – dizia e bem Wout van Aert após a etapa do Marie-Blanque – está visto que é inábil.

A segunda conclusão, muito mais óbvia, ou se se quiser, menos surpreendente do que a primeira, é que Pogacar e Vingegaard estão nesta luta pelo Tour completamente… sós – e a milhas da concorrência. A candidatura de Jai Hindley foi uma miragem, ténue e breve – e a não se que suceda um incidente a algum daqueles.

Marc Madiot, diretor geral da Groupama-FDJ, teve uma declaração curiosa e elucidativa dos sentimentos de impotência – e de resignação… – que grassam entre os adversários dos dois primeiros classificados do Tour. “São duas corridas, mas não se precisa de ter tirado a graduação em Saint-Cyr [principal academia militar de França] para se saber. Uma corrida com dois extraterrestres e o resto dos humanos do pelotão”.

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De resto, o francês foi bastante crítico da estratégia da Jumbo-Visma nesta etapa, um pouco ao estilo e tom usados por Van Aert na véspera para classificar a capacidade de controlo das etapas da UAE Emirates. “Facilitaram muito a vida a Tadej Pogacar. Andaram com ele na roda, no Tourmalet e na subida final. É um bom caso para as escolas de ciclismo, não entendo, neste momento de altíssimo nível competitivo, que se cometa esse erro. A Jumbo-Visma queria metê-lo no vermelho e rebentá-lo, mas Pogi não é um qualquer. Brincaram com fogo e queimaram-se”, afirmou Madiot.

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Imagens: Tour de France Twitter

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