Foram várias as cenas e fotos que falhámos nos dias em que fomos filmar e fotografar a Canyon Spectral Mullet CF 8 2022 aqui em teste… Razão: a bike não se ouve… É de uma suavidade tal que nem dávamos por isso quando se aproximava. E nada daqueles ruídos “parasitas” que por vezes afligem as bicicletas neste segmento.

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Em cima dela, seja qual for o cenário, notamos o mesmo: a palavra de ordem é suavidade. Seja com as rodas nos trilhos, a derrapar, seja a aterrar mais um salto, esta versão mullet da nova Canyon Spectral assenta-nos que nem uma luva a todos os níveis.

Isto significa que ao longo desta review vamos identificar muitos pontos fortes e quase nenhum ponto fraco. Porque, confessemos, a bicicleta não os tem, tirando um ou outro componente que podia ser da gama acima, como acontece com qualquer modelo de BTT. Vamos então começar o “recital”…

Como ‘peixe’ na água

Nas semanas em que a Spectral nos fez companhia “deambulámos” em três tipos de cenários diferentes: 70% do tempo em trilhos monte abaixo, com muitos saltos e secções repletos de pedras e muitos obstáculos naturais. Enduro puro, com momentos muito intensos.

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Depois, 20% das nossas experiências foram em saltos assumidamente de dirt e os restantes 10% nos skate parks onde andamos de BMX. E há aqui desde já uma grande parecença, diga-se dessa forma: a agilidade.

Tanto a geometria do quadro em carbono (escoras incluídas…) como o cockpit estão feitos para que seja possível colocar a bike onde queremos, com agilidade e robustez ao mesmo tempo, seja para descer um rock garden a fundo como para passar uma tarde a andar num skate park.

Tanto a geometria do quadro em carbono como o cockpit estão feitos para que seja possível colocar a bike onde queremos.

Um dos segredos está no flip chip integrado e que permite ajustar a geometria o suficiente para que a bike se adapte ao que queremos fazer, deixando-a quase com o feeling de agilidade de uma BMX, se assim o desejarmos.

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Não temos dúvidas de que o conceito Mullet também aqui é determinante, pois as 27,5” da roda de trás dão-nos a destreza e a reatividade que são precisas nas manobras, enquanto as 29” da roda da frente asseguram alguma estabilidade a descer trilhos e a saltar.

Por outro lado, temos de compreender que, até mesmo por ser uma versão mullet, esta Spectral pode não ser a melhor roladora da gama. Tal como não será porventura aquela que melhor sobe, apesar de até nos sentirmos bem como ela nestes momentos.

A versão de roda 29” à frente e atrás será sempre mais favorável nesses segmentos rolantes ou a subir, tal como acontece com outras marcas. Aliás, na verdade nem existem muitas que disponibilizem versões mullet, pois trata-se de uma bike que responde a uma “desafio” muito específico: “brincar” nos trilhos.

Muito amortecimento

Estas sensações levam-nos ao tema das suspensões, que desempenham aqui um papel fundamental. O curso é de 160 mm à frente, com uma suspensão Fox 36 Performance Elite Grip 2 que cumpre as suas funções sem problema.

O destaque está, no entanto, no amortecedor de mola helicoidal Fox DHX Factory com 150 mm, que faz toda a diferença e que se sente que foi a escolha certa por parte da marca, ainda para mais algo que não é muito normal de ver hoje em dia.

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Este amortecedor de mola revela-ase super sensível e deixa a bicicleta confortável e eficaz em todas as ocasiões. Mesmo em situações de grande impacto nunca sentimos a suspensão traseira a esgotar o seu curso.

Ainda estamos à procura dos settings ideais tanto de um suspensão como da outra, sendo que o amortecedor pode ser regulados em 12 posições distintas, dependendo do que queremos fazer com a bike.

Andar bem, travar melhor

Esta Spectral “não perdoa” nos trilhos: rápida, ágil, responsiva. Melhor a descer do que no resto, como já referimos várias vezes. A contribuir para tudo isto está um lote de equipamento à imitação do preço: transmissão maioritariamente Shimano XT e adequada ao que se pretende neste segmento, com 12x e cassete 10-51t (a cassete é SLX).

Destaque para a possibilidade de avançar duas mudanças ao mesmo tempo, com um só toque mais longo, algo muito útil em trilhos  em que encontramos algumas subidas a meio e de seguida logo uma descida.

Já os travões, também XT, denotam um toque bastante suave e progressivo. É importante que esta bike trave bem, pelo que melhor do que isto apenas conseguimos com XTR, em teoria.

Alguns destaques:

Pormenores estéticos

Vale a pena repararmos em alguns elementos de design e estéticos que existem no quadro desta Canyon Spectral. A inscrição do nome do modelo e versão no top tube e outros itens originais…

Flip Chip

Este pequeno “parafuso” integrado na suspensão traseira permite alterar sensivelmente a geometria da bicicleta, de certa forma. O que muda? O ajuste do ângulo do tubo principal e do tubo do espigão é de 0,5 graus. Já o ajuste de altura do suporte inferior é de 8 mm. É ajustar consoante o que se pretende fazer e consoante o gosto pessoal de cada um.

Entre um extremo e outro o que notamos mais é que a bike fica mais “compacta”, mais versátil, mais ágil a saltar. Na outra “ponta” notamo-la mais rápida a descer. Não há muito mais a dizer, só no terreno é que cada rider conseguirá encontrar a definição ideal, tal como acontece com os 12 pontos de possível ajuste do amortecedor traseiro.

Rodas DT Swiss de 30 mm

Como referimos antes no preview a esta bike, as rodas DT Swiss Ex511 350 montadas não são as mais leves do segmento, o que talvez até favoreça este modelo no momento de enfrentar os trilhos mais exigentes, e os saltos em particular.

Parecem-nos ser rodas boas para enduro, em alumínio, com 30 mm de largura e feitas para aguentar muita pancada. Desempenham a sua função sem mácula e até ao momento que devolvemos a Spectral não notámos qualquer desajuste derivado da utilização. Os pneus Maxxis Assegai 2.5 e Minion DHR 2.4, respetivamente, dão conta do recado.

As pequenas ‘coisas’…

Falamos de alguns pormenores de engenharia que a Canyon já nos habituou a ter nos modelos de há dois anos a esta parte. Damos quatro exemplos: as proteções de borracha na escora do lado da corrente, que ajuda a reduzir o barulho; a cablagem interna sem ruídos; o sistema de aperto da roda traseira; a minúscula guia de corrente…

Espigão telescópico

Para este tipo de utilização, é obrigatória a sua presença. Neste caso é um eficaz G5 Adjustable Dropper Post. Com comando no guiador, claro.

A nossa avaliação

Não transmite más sensações nem a subir, esta nova Canyon Spectral em carbono e em versão mullet. Mas não temos dúvidas de que não é a melhor bicicleta da gama para “trepar” ou rolar. É sim uma opçõa incrível para “brincar” nos trilhos ou em qualquer outro cenário, literalmente.

Devia ter um dispositivo que conta o airtime, de tanto que nos deixa ter as rodas no ar… Saltos, descidas, drops, regos, rock gardens… Uma boa mistura de robustez, agilidade, versatilidade e equipamento em bom nível faz com que a bicicleta nos deixe muito satisfeitos a vários níveis.

Por outro lado, é impossível ficar indiferente a um design tão repleto de pormenores deliciosos.

Quem percebe do “assunto”, passa orgulha-se dela; quem percebe de BTT e é curioso neste segmento mais radical, passa uns bons minutos a apreciá-la. Parabéns à Canyon aqui e também por ter arriscado lançar uma versão com roda de 27,5” e 29” “misturadas”!

Finalmente, a questão da relação entre preço, desempenho e equipamento. É das melhores que existem neste segmento e com este posicionamento de mercado. E isto é sempre uma vantagem face à concorrência, que é sempre muito forte no que diz respeito a bicicletas assim tão divertidas e versáteis. Passa no teste com distinção, disso não temos dúvidas.

Especificações da Canyon Spectral Mullet CF 8:

  • Quadro: Canyon Spectral CF
  • Suspensão: Fox 36 Performance Elite Grip 2 (160 mm)
  • Amortecedor: Fox DHX Factory (150 mm)
  • Desviador e manípulo: Shimano XT 12x
  • Cassete: Shimano SLX 12x 10-51t
  • Travões: Shimano XT (discos de 203 mm)
  • Rodas: DT SWISS EX511 350 e 370LN
  • Pneus: Maxxis Assegai 29” x 2,5″ e Maxxis Minion DHRII 3C MaxxTerra EXO+ 2,4 x 27,5″
  • Avanço: Canyon G5 Stem (alumínio, 40 mm)
  • Guiador: Canyon G5 Riser Bar (alumínio, 780 mm)
  • Punhos: Canyon G5 Grips
  • Espigão: G5 Adjustable Dropper Post (30,9 mm)
  • Selim: Ergon SM10 Enduro Comp
  • Peso: 15,16 kg (anunciado); 15,9 kg (pesada por nós, sem pedais e outros itens)
  • Preço: 4.149 euros

Site oficial:

Todas as fotos:

Galeria de pormenores:

Neste teste:

  • Texto: Rodrigo Vicente e Jorge Lopes
  • Fotos e vídeo: Rodrigo Vicente
  • Rider: Rodrigo Vicente

Vídeo oficial da gama Canyon Spectral:

One Family - Any Trail‌ | The New Canyon Spectral Range

Fotos e vídeo principal: Rodrigo Vicente

 

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