Se és praticante de enduro, sabemos que conheces esta gama de bicicletas da Trek. Mais: sabemos que conheces esta Trek Slash 9.9, aqui na versão 2021 e com uma configuração de topo no que toca a componentes, o que faz com que apresente um preço perfeitamente a condizer com isso.

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Se fazes enduro há pouco tempo (ou pelo menos tens a ideia fixa nisso) e não conheces a bike, então aí a nossa “missão” com este teste redobra na importância. Porque andar nesta nova Slash é toda uma experiência de adrenalina, diversão e puro prazer, garantimos. Ora lê com atenção… E vê o vídeo, claro, vale a pena!

Fazemos esta afirmações sem problemas porque, na verdade, esta Trek Slash 9.9 é uma verdadeira “puro sangue” do enduro. Podemos mesmo dizer que quanto mais bruto é o trilho e todo o percurso, melhor se sente e constata o que a bicicleta é capaz de fazer. Pelo que experimentámos ao longo das últimas semanas, o que não falta aqui é rapidez, robustez, amortecimento e “genica”.

Trek Slash 9.9

Ou seja, condições de topo reunidas para a prática da modalidade. E garantidas por um conjunto de componentes de topo, isto para não falarmos num quadro em carbono afinado ao pormenor e devidamente preparado para enfrentar os desafios na montanha. É precisamente pelo quadro que começamos a nossa análise.

Trek Slash 9.9: construção em carbono OCLV

Estamos perante um quadro de luxo e produzido totalmente em carbono OCLV. Esta tecnologia nativa da Trek para a criação de quadros de BTT é bastante mais resistente, garante a marca, e está assente na qualidade e especificidade das telas de carbono empregues, bem como na colocação sobreposta das sucessivas camadas de material.

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Vale a pena ver o vídeo que deixamos abaixo caso tenhas interesse extra nos contornos técnicos relativos ao modo como este quadro é feito e respetivas características. No que na prática diz respeito, a questão é simples: notamos que o quadro faz três coisas diferentes, mas igualmente importantes.

OCLV Mountain ft. Cam McCaul

Em primeiro lugar, por ser leve, também acrescenta leveza a este modelo, passamos a redundância; depois, acaba por apresentar tanto uma geometria como uma possibilidade de ajuste que facilita a forma como o corpo se habitua à bicicleta, além de nos parecer que as subidas saem facilitadas um pouco. E todos sabemos que nos enduro estas partes podem ser um desafio extra a ultrapassar.

Trek Slash 9.9

Por último, o quadro “comunica” tão bem com os sistemas de suspensão… Talvez seja mesmo esse o segredo que faz com que levar a Trek Slash 9.9 para a montanha ao fim de semana seja algo por que ansiamos ao longo de toda a semana. Performance de topo, à imagem das tecnologias empregues, do lote de componentes e… do preço.

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Prototype

O amortecedor traseiro RockShox Super Deluxe ThruShaft com 160 mm de curso dá-nos três modos de ajuste: Standard, Minus e Plus.

Essa “comunicação” entre o quadro, a suspensão frontal e o amortecimento traseiro dá ainda algo determinante: possibilidade de ajustes personalizados, de certa forma.

E o mais importante no campo do amortecimento assenta nos três modos de ajuste do amortecedor montado na traseira, o RockShox Super Deluxe ThruShaft com 160 mm de curso. São os modos Standard, Minus e Plus.

Ora, o primeiro é o modo mais concensual, com compressão para uma baixa velocidade e pronta a oferecer desempenho e eficiência para desfrutar a bike num regime mais soft, digamos desta forma. Normal.

Trek Slash 9.9

Já o modo Minus parece mais dirigido aos singletracks de downhill mais técnicos e íngremes. Aqui, o amortecedor desempenha a sua função na totalidade do curso, comprimindo de uma forma mais livre; ou seja, faz milagres quando pensas que já foste para lá dos teus limites.

Depois, o modo Plus é claramente para um controlo exímio em velocidade e em qualquer tipo de terreno. Excelente para a máxima velocidade em curva, com grandes relevos pela frente e na passagem de whoops a todo o gás.

Agora, falando da RockShox ZEB Ultimate com mola DebonAir que está montada à frente. O curso, como mandam as regras no enduro, é generoso: 170 mm. Junto com um cockpit bem conseguido tanto no design como na ergonomia, conseguimos fazer o que queremos com a frente. Cuidado com os primeiros momentos, pois o excesso de confiança pode causar problemas!

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Riese & Müller Multitinker

“Puxando” por esta ZEB a fundo, notamos alguma falta de sensibilidade no início de curso. A leitura do terreno num registo de andamento suave e a rolar (por exemplo, num estradão com alguma irregularidade) é algo que não existe. Talvez seja pelo facto de ser nova e precisar de acamar os retentores, mas acabámos por dar uns quantos passeios e muita pancada à suspensão. Portanto achamos que é mesmo da natureza da própria suspensão, pois tivemos o cuidado de ir verificando o sag e a pressão adequada para cada situação em causa.

Por outro lado, quando afundamos no curso a “conversa” é outra. A firmeza e a precisão são estonteantes! Há um bom suporte de médio curso, o bom feeling está sempre lá e é excelente leitura do terreno independentemente dos impactos.

Comportamento em geral

Partimos do princípio de que normalmente nos sentimos mais alegres numa plataforma mais compacta e com menor curso, que favoreça uma tremenda agilidade e facilidade em manobrar. Posto isto, confessamos que ficámos impressionados com a facilidade com que brincamos nesta 29er com 170 e 160 mm de curso. Esperávamos um comportamento mais desvanecido e até “preguiçoso”; estávamos enganados.

Na Trek Slash 9.9 jamais nos sentimos apenas como um passageiro a viajar no “comboio”. Apesar de ter uma base longa e estável, a bike transmite uma excelente sensação do que se passa no terreno e permite usufruir disso com bastante facilidade, especialmente se a pendente estiver a favor da gravidade.

Apesar de ter uma base longa e estável, a bike transmite uma excelente sensação do que se passa no terreno.

Brilha especialmente em zonas extremamente técnicas, onde o curso generoso, em cumplicidade com as soberbas rodas em carbono, filtra tudo o que aparece no caminho, desde cascalho solto a grandes calhaus plantados.

Diga-se, contudo, que em trilhos mais apertados, com curvas acentuadas e em pendentes inconstantes que nos submetam a mudanças abruptas de inclinação, velocidade e direção, esta Trek obriga-nos a adotar uma condução muito ativa a pedalar e exige algum esforço adicional da nossa parte para manter um certo flow”.

Acredita que demos “calor” suficiente à Trek Slash 9.9. Mas mesmo assim sabemos que estamos longe de chegar ao seu limite; se isso é possível, sequer. Nunca tivemos um momento de imprecisão ou dificuldade na manobra desta fantástica bicicleta. Como referimos atrás, a geometria é atual e está bem “no ponto”. Diríamos mesmo exímia!

Agora, uma nota importante para a transmissão montada, a muito recente X01 Eagle da SRAM. Aqui encontramos qualidade, fiabilidade e baixo peso, pontos que complementam a excelente performance da Trek Slash 9.9, naturalmente. Os kms percorridos não foram assim tantos que possamos dizer que este sistema pode trazer problemas. Pela nossa experiência, isso não acontecerá tão depressa, da mesma forma que sistema concorrentes acabam por também apresentar desempenho e durabilidade semelhantes. Não é por aqui.

Os nossos ajustes…

Na verdade, gostaríamos de ter tido tempo e possibilidade para adaptarmos alguns componentes ao nosso gosto, como por exemplo a largura do guiador (800 mm), que para as nossas características é claramente demais. Adaptamo-nos bem a guiadores largos, mas 2 cm a menos de cada lado fariam maravilhas por estas bandas.

À conta disso, e como podem ver no nosso vídeo no Trilho da Caverna, em Sesimbra, acabámos por dar um soco numa pedra ao fazermos uma razia a um arbusto. Podia ter sido ao contrário, não era? Um soco no arbusto e uma razia à pedra!

Ficámos admiradíssimos com a capacidade deste “colosso” a subir.

Mudámos do modo Minus para Plus para colocarmos a geometria ligeiramente mais favorável a rolar e a subir. Podemos ser levados a pensar que estas novas bikes de super enduro só são boas a descer, mas temos de confessar que ficámos admiradíssimos com a capacidade deste “colosso” a subir.

Diríamos que ficámos mais perplexos com isso do que a descer, e este é sem dúvida um dos grandes pontos positivos desta Slash. Para baixo já esperávamos que fosse o tal “tapete voador”. Aliás, o amortecedor esteve quase sempre na posição aberta mesmo a subir e raramente utilizámos o bloqueio a não ser quando pedalámos em alcatrão durante um bom bocado.

O que nos salta à vista

Falando um pouco dos aspetos que saltam mais à vista na bike, gostámos de ver a proteção integral no downtube: dá aquele aspeto radical e robusto que nos sugere imediatamente que podemos abusar da bicicleta a sério.

Já o compartimento de armazenamento no mesmo downtube (mas em cima) é um pormenor fantástico, pois é algo que admiramos no design dos modelos mais recente. Com a utilização, agora em pleno inverno e com lavagens sucessivas para remover a lama, constatámos que não é estanque. Algo a rever para a próxima.

Um espaço perfeito para levar barras de cereais e um pouco mais. Cabe à conta uma câmara de ar, com dificuldade, pelo que, mesmo sendo bastante prático, este compartimento não é adequado para levar tudo e mais alguma coisa. Apenas o essencial.

How To: Pack Your BITS Bag (with Cam McCaul!)

Por usa vez, o sistema Knock Block funciona na perfeição. O que é este “palavrão”? É simplesmente um redutor do ângulo de viragem que em muitos casos, além de impedir os manípulos de estragarem o top tube aquando de uma queda (ou quando a arrumamos), mantém o bom funcionamento dos cabos e das bichas, sem grandes torções.

Os cabos internos deixam a bicicleta com um ar muito clean, mas achamos que fazem algum ruído. Não conseguimos ver o que se passa lá no interior, mas achamos que o facto de ser tudo oco para aproveitar o espaço para arrumação pode estar a amplificar o ruído dos cabos com a trepidação.

Tal como noutros modelos da Trek (e de outras marcas), a rota interna dos cabos tem de estar 100% otimizada, para que haja silêncio total a este nível e facilidade na manutenção. Um ponto a rever.

Rodas de topo

Temos de sublinhar a boa performance sentida nas rodas que a Trek instala neste modelo, mais concretamente as Bontrager Line Elite 30. A marca já nos habituou a rodas de alta qualidade, seja para bikes de estrada, seja para de XC, sendo que está assegurada garantia vitalícia para o primeiro proprietário.

No entanto, quando falamos de bikes de trail/hard enduro, todos sabemos os riscos inerentes e a que pressões estas rodas estão sujeitas. Têm deser mesmo o topo dos topos. Aqui, pelo menos durante todo o tempo em que experimentámos esta bicicleta, as todas portaram-se muito bem. Dinâmica e absorção irrepreensíveis. Fiabilidade saberíamos apenas ao longo de muitos e muitos mais trilhos percorridos…

Alguns destaques:

Compartimento para a BITS Bag

Deixamos os pormenores deste compartimento mais acima neste artigo, aqui fica o pormenor na imagem de novo. Algo que consideramos efetivamente útil no BTT, sem dúvida, e que já se tornou habitual em modelos não só de enduro como em e-bikes de BTT, por exemplo.

Trek Slash 9.9

Espigão de selim telescópico

E também com 34,9 mm, o que é um pouco mais que o normal. O objetivo é dar mais robustez a este componente, bem como durabilidade ao longo do tempo. Esta dimensão mais larga do espigão destaca-se logo à vista e torna mais rápido o processo de subir e descer o selim.

Trek Slash 9.9

Tecnologia Knock Block

O já habitual sistema que impede que as extremidades do guiador batam no quadro por este rodar demasiado em caso de queda, por exemplo. Também evita “puxões” dos cabos e das guias nessas situações.

Trek Slash 9.9

Rodas de topo

Estas rodas são sensacionais. São as Bontrager Line Elite 30, em carbono. Pneus Bontrager SE4 Team Issue.

Proteção completa do quadro

As proteções substituíveis do tubo inferior protegem a parte inferior do quadro contra pedras e detritos que podem saltar do terreno E diz a marca que salvaguardam o mesmo nas cadeiras elevatórias dos bike parks, que normalmente não se preocupam com esta questão.

Trek Slash 9.9

Tecnologia Active Braking Pivot

Esta tecnologia permite mais controlo em situações limite, dado que a suspensão reage à potência que colocamos na pedalada ou mesmo em travagem de forma independente.

Trek Slash 9.9

A nossa avaliação…

Sem dúvida uma bicicleta para os praticantes de enduro mais experientes, para os que competem ao mais alto nível (mesmo sem sabermos quando e como voltarão datas para a competição). Contudo, como também conhecemos muitos praticantes de BTT que estão a dar os primeiros passos nesta vertente, temos a certeza que esta é uma bicicleta a considerar também por esses, isto se tiverem orçamento para “chegar” a esta Trek Slash 9.9. Porque é uma bike de topo, com componentes de topo, com desempenho de topo.

E dá gosto andar nela, sejamos nós mais atrevidos ou menos impetuosos no “atacar” dos trilhos. A descer e a abordar obstáculos é exímia, a subir é surpreendente e um “argumento” contra os que garantem que para praticar enduro o melhor é optarmos por uma e-bike.

Se tivermos “mãozinhas” para ela, conseguimos fazer coisas maravilhosas; se não as tivermos, não faz mal, pois esta “máquina” ajuda-nos muito a aprender com os trilhos, perdoa bastantes erros e dá um gozo tremendo em cada situação.

Não é perfeita a 100% (pelo preço deveria sê-lo, não?), mas anda lá perto, pois apresenta-se com um quadro concebido ao mílimetro, com amortecimento de um nível superlativo, com sensações de travagem eficazes e com um poder de aceleração distinto. Juntamos a isso um par de rodas muito competente e temos então uma referência no mundo do enduro. Sê bem-vinda, Trek Slash 9.9!

Pontos mais positivos

  • Todo a plataforma desta Trek Slash, pensada ao pormenor, que se mostra tão “vivaça” quanto o melhor que já vimos no enduro. Isto apesar do curso bastante generoso.
  • Além de todo o desempenho fora de série, diga-se que a geometria parece-nos muito favorável nas subidas, também. Evolução.
  • A “política” de proteção do downtube, com a adição de uma segunda “camada” para prevenir as pancadas acidentais do costume…

Pontos a melhorar

  • Pelo que pudemos verificar, o compartimento de arrumação integrado no quadro não é estanque. A corrigir na próxima versão.
  • Notámos um ligeiro ruído parasita provocado pelos cabos internos.

Todas as fotos:

Especificações da Trek Slash 9.9 XO1:

  • Quadro: em carbono OCLV Mountain, com compartimento interno de arrumação, tubo de direção cónico, sistema Knock Block 2.0, sistema de cabos internos Control Freak e eixo pedaleiro roscado.
  • Amortecedor: RockShox Super Deluxe Ultimate, DebonAir, amortecimento de 3 posições.
  • Suspensão frontal: RockShox ZEB Ultimate com curso de 170 mm.
  • Rodas: Bontrager Line Elite 30 Tubeless Ready.
  • Pneus: Bontrager SE4 Team Issue, Tubeless Ready, paredes laterais Core Strength.
  • Manípulo de mudanças: SRAM X01 Eagle, 12x.
  • Desviador: SRAM X01 Eagle.
  • Pedaleiro: SRAM X01 Eagle Carbono 32t (175 mm).
  • Cassete: SRAM Eagle XG-1275, 10-52t, 12x.
  • Selim: Bontrager Arvada.
  • Guiador: Bontrager Line Pro, OCLV Carbon.
  • Avanço: Bontrager Line Pro, 35 mm, com Knock Block.
  • Travões: SRAM Code RSC.
  • Peso: 14,12 kg no tamanho M (com selante TLR, sem câmaras de ar).
  • Preço: 8.999 euros.

Site oficial:

Neste teste:

  • Texto: Carlos Bruno ‘Carecovzki’ e Nuno Margaça
  • Fotografia e vídeo: Carlos Bruno ‘Carecovzki’ e Carlos A. Costa
  • Riders: Carlos Bruno ‘Carecovzki’
  • Capacete e equipamento: Bontrager

Vídeo oficial da Trek Slash:

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