Igual a si próprio. Mauricio Moreira pode agora ser um vencedor da Volta a Portugal, mas nada mudou na sua forma de ser. Mudou, isso sim, como ciclista, nomeadamente na confiança no que pode alcançar. No que pode vencer.

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“Continuo a ser o mesmo Mauricio de toda a vida. Ganhar a Volta a Portugal não me mudou. Antes de sermos bons desportistas, temos de ser boas pessoas. Não esquecer isso só porque um dia ganhámos alguma coisa. Até prefiro que me continuem a ver como sempre me viram, até antes de vir para cá”, realçou ao GoRide.pt.

O uruguaio da Glassdrive-Q8-Anicolor apenas deseja que reconheçam o esforço que ele, e os outros ciclistas, fazem sempre que estão nas corridas e na preparação para estas.

Para Mauricio Moreira, 2022 foi um ano que começou quase como um pesadelo, mas acabou em grande.

“Tive duas vezes covid-19, lesão no joelho… Uma coisa atrás da outra… Faltou-me muito tempo tanto de treino, como de competição. Foi um momento muito duro”, confessou.

É a única coisa que posso agradecer por não ter corrido no início. Cheguei mais fresco ao final da temporada

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Não esconde que estava a precisar de terminar bem a temporada. Vitórias no Anicolor, Volta a Portugal e depois Grande Prémio Jornal de Notícias… “Estou com força neste final de época! É a única coisa que posso agradecer por não ter corrido no início. Cheguei mais fresco ao final da temporada”, salientou ao recordar as vitórias.

Mas não se pense que até gostaria que a época ainda não tivesse terminado: “Não sei se quero que a época se prolongue… Acho que estou a precisar de uma paragem, mais psicológica do que física.”

Festejos depois da Volta? Regressou logo aos treinos

Seria de pensar que ganhar a Volta a Portugal teria sido motivo para uns bons festejos. Ou pelo menos uns dias seguintes a saborear o feito.

“Ainda não tive esses dias! Não descomprimi. Tenho de reconhecer que sou o tipo de pessoa que quando acaba uma corrida já está a pensar na outra. Mesmo sendo a Volta a Portugal! Acabou, descansei no dia seguinte e, depois, já estava a treinar a pensar no JN e nas outras corridas”, admitiu.

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Houve um jantar com a equipa, mas com a família foi tudo muito calmo. Talvez agora que a época terminou, já consiga descontrair: “Eles [familiares] compreendem, sabem como sou. Sou bastante rigoroso em cuidar de mim e em manter uma rotina até a época acabar.”

A família tem um peso importante no equilíbrio psicológico de Mauricio Moreira. O uruguaio frisou como foi importante ter os pais a seu lado nesta fase vitoriosa da sua carreira. E claro, a sua namorada, Nataly.

Não passámos um momento muito bom e ter superado isso e estar a acabar a época desta maneira, dá força aos dois

Tem sido um grande apoio e o ciclista nunca negou que o ajudou a não deixar o ciclismo quando as coisas não correram bem aquando da passagem por Espanha. Chegou a baixar ao escalão amador, antes da vinda para a Glassdrive-Q8-Anicolor.

Vencer a Volta a Portugal valorizou o esforço de ambos, tanto nessa fase da vida, como neste 2022 tão difícil nos primeiros meses da temporada: “Quando falo de mim, também falo dela. Não passámos um momento muito bom. Ter superado isso e estar a acabar a época desta maneira… Dá força aos dois.”

Após receber o troféu de vencedor da Volta em Gaia, não houve grande troca de palavras e Mauricio explica porquê: “Se dizem que sou um pouco tímido… Ela é ainda mais. Ela é uma pessoa muito calada. Deu-me os parabéns, mas a alegria que sentiu… Eu sei que ela está contente. Não precisa de falar muito.”

Força mental

Todos os desafios que Mauricio Moreira tem encontrado, testam a sua força mental. O ciclista tem uma motivação para tentar ultrapassar sempre os obstáculos.

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“Acho que estar longe de casa tanto tempo dá-me essa força mental. Afinal estou longe por causa do ciclismo, então tenho de ter forças para me manter focado, mesmo quando acontecem estas situações. E sem dúvida que a minha namorada também me ajuda”, realçou.

A confiança que ganhar uma Volta dá

É sincero ao revelar que ainda está a assimilar a magnitude do seu feito, tendo em conta a importância que a Volta a Portugal tem no ciclismo nacional. Lá está, ainda não parou para sequer saborear o momento.

Queria mostrar a mim mesmo [no JN] que aquela confiança que tinha apanhado na Volta era real e que poderia continuar a discutir corridas

Porém, já entendeu como isso mexeu com ele, como desportista. “Ajudou-me muito como ciclista. A ter mais confiança, de sentir-me mais seguro comigo mesmo… Percebi isso nas corridas depois da Volta. Se calhar, tira-me um bocado de pressão. Agora, se calhar, estou mais tranquilo”, disse.

Foi o que demonstrou com a conquista do Grande Prémio Jornal de Notícias: “Queria continuar a fazer as coisas bem. Queria mostrar a mim mesmo que aquela confiança que tinha apanhado na Volta era real e que poderia continuar a discutir corridas.”

Um pouco sobre a Volta a Portugal

Foram duas semanas intensas em agosto, com Mauricio Moreira no centro das atenções na maioria dos dias, tal como Frederico Figueiredo. E há algo que continua a custar ao uruguaio: ter ganho a Volta a Portugal a um companheiro de equipa.

“Não é bonito para ninguém discutir a Volta com um colega de equipa”, desabafou. O respeito e gratidão pelo companheiro são enormes.

“Sempre disse que não há palavras para descrever uma pessoa como o Fred. Tem um coração muito grande. Acho que nos respeitamos muito como colegas. Tivemos muito respeito, tanto quando eu estava de amarelo, como quando ele estava de amarelo. Acho que é isso que tem de ficar. Ficámos unidos em torno do nome da equipa”, afirmou.

Recordando um pouco a corrida, qual o momento que destaca pela positiva e qual pela negativa?

“Positivamente, logo o primeiro dia no prólogo. Havia ganho o Anicolor, mas vinha de um ano muito mau. Fazer segundo no prólogo, atrás do companheiro Rafa [Rafael Reis], foi uma alegria muito grande e deu-me confiança no início da Volta.”

O dia mais difícil foi o de Miranda do Corvo [quinta etapa]. Passei um dia muito mau. Tive de gerir as forças e tentar, apesar de ter estado mal, olhar positivamente para o resto da Volta.”

Sendo um ciclista mais confiante, também olha para o futuro com esperança renovada. Tem 27 anos e como qualquer outro corredor continua a sonhar com o World Tour: “É algo que nunca posso deixar de querer.”

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Fotografia principal e com o troféu: Agnelo Quelhas/Podium Events

Restantes fotografias: João Fonseca Photographer/Glassdrive-Q8-Anicolor

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