Pode não ser fácil “encaixar” as bicicletas de BTT de hoje em categorias específicas… E isto é mais flagrante quando falamos de uma e-bike de montanha, pois é normal que as opiniões se dividam e que “comentários” que referem que este tipo de bicicletas “roubam” um pouco da essência do BTT convencional.

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Aliás, em concreto entre as e-BTTs, este assunto ficou ainda mais “animado” com a chegada de cada vez mais modelos na categoria das e-bikes de montanha “super leves”, que se vão aproximando em termos de peso e características a uma BTT “normal”, sem motor.

Mas afinal que grandes diferenças existem entre uma e-bike de montanha mais tradicional, por assim dizer, e uma e-bike de montanha na categoria “super leve”, que facilmente fica abaixo dos 20 kg?

São bastantes. Mas isso também não significa que o tipo de utilização seja assim tão distinto, até porque a maioria dos modelos se destina à prática do BTT na vertente trail (e algumas ao e-enduro, admitemos…).

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Para tentar listar algumas diferenças, recorremos neste artigo a uma comparação de duas bicicletas da Trek. Do lado das e-BTTs mais convencionais, a Trek Rail, que já tivemos oportunidade de experimentar na versão de 2022 e de que falámos recentemente em relação ao modelo de 2023.

Do lado das e-BTTs super leves, a Trek Fuel EXe, que pelas nossas experiências (vale a pena ver o vídeo do nosso teste…) nos parece ser uma das melhores bicicletas do seu segmento. Vamos então à comparação!

Trek Fuel EXe 9 9 XX1 AXS | GoRide.pt

Motor

Uma e-bike “tradicional” como a Rail tem normalmente um motor mais poderoso e um pedalar assistido mais linear. Neste caso, a unidade motriz é o Bosch Performance Line CX G4 de 85 Nm, que multiplica a força exercida pelo ciclista nos pedais até 340%.

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Esta bicicleta está equipada com a versão do Smart System que incorpora o denominado ‘Extendend Boost’, uma ajuda extra nos momentos mais exigentes, facilitando a progressão em subidas íngremes e a transposição de obstáculos (pedras grandes, raízes…) sem se perder a entrega de potência.

Ao experimentarmos a Rail 9.9 XTR de 2022, embora tenha sido sem o novo motor Bosch e o Smart System, ficamos a perceber isso mesmo, sem esquecer que este tipo de e-BTT pode ser uma bicicleta pesada e mais volumosa.

Por outro lado, o motor que equipa uma bicicleta como a Fuel EXe é o muito popular HPR50 da TQ, com um design minimalista e apenas 1.85o gramas. Comparando, o motor Bosch ronda os 2.900 gramas… Este HPR50 é ainda bastante compacto e tem um Q factor muito idêntico a bicicletas convencionais: 135 mm.

O TQ funciona com o sistema patenteado Harmonic Pin-Ring (é constituído por anéis dentados em substituição das habituais engrenagens), algo que faz com que seja bastante silencioso.

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Por ser um motor relativamente pouco potente (apenas 50 Nm), não se sentirá um impulso brusco. Isto significa que ainda existe muito trabalho físico em cima da bicicleta. A potência constante andará a rondar os 250 W, com um pico que pode chegar até aos 300 W. No motor convencional como o da Bosch, por seu turno, esta potência pode chegar aos 500 W.

Bateria

Todos queremos e-bikes mais leves e o que pesa mais numa bicicleta elétrica é a bateria, certo? Mas, pesando menos, terá menor capacidade… Tem de ser forçosamente assim? A bateria instalada na Rail, por exemplo, é a Powertube da Bosch com 750 Wh (nos tamanhos mais pequenos de quadro é de apenas 625 Wh…).

E a autonomia depende de fatores vários, sendo eles as características do motor e da bicicleta, os diferentes tipos de utilização, as voltas e os modos selecionados a cada momento… As diferenças podem ser enormes. Por exemplo, a bateria Powertube 750 da Bosch pesa 4,3 kg.

A bateria que está com o motor TQ na Fuel EXe é uma unidade de 360 Wh, menos de metade da capacidade que está na bateria Bosch. Pesa 1,83 kg e tem autonomia inferior, cerca de metade, dadas as características da bicicleta.

A Bosch afirma que o alcance máximo é de 180 km, com médias de 20 km/hora e cadências a rondar as 60 rpm. Isto equivale, sensivelmente, a uma volta de nove horas com condições normais.

Por outro lado, a TQ diz, que nas condições mais favoráveis possível, a autonomia da sua bateria de 360 Wh dura até cinco horas. Ainda conseguimos mais se o Range Extender estiver presente, acrescentando 160 Wh de capacidade, o que dá mais 2,5 horas de utilização. E sim, incluir este pack extra na EXe tem um custo adicional em euros e cerca de 950 gramas.

Quadro

Com tamanhos diferentes de motores e baterias, é normal que os tamanhos dos quadros das bicicletas sejam maiores ou menores, sendo que as light se  assemelham cada vez mais a uma bicicleta convencional neste ponto…

Nesta comparação, o tipo de uso de ambas as bicicletas é parecido, mas não igual: a Rail é mais direcionada ao all Mountain/enduro (com cursos de suspensão de 160/150 mm), ao passo que a Fuel EXe tem mais “queda” para o all mountain e trail, com cursos de 150/140 mm. Desta forma percebemos logo que a Rail terá dimensões maiores a vários níveis…

O motor é também maior e há uma distância entre eixos de 1.236 mm, escoras de 448 mm, reach de 452 mm e uma direção com ângulo de 64,2º. Isto no tamanho M e na posição inferior do Minolink (o sistema flip-chip que a marca integra neste modelo para ajuste da geometria).

Já a Fuel EXe conta com uma distância entre eixos de 1.217 mm, escoras de 440 mm, reach de 453 mm e ângulo de direção de 64,8º; também no tamanho M e posição inferior do flip chip. Em geral, é uma bicicleta mais compacta e reativa.

Para finalizar, comparemos os pesos: a Rail 9.9 AXS G4 pesa 23,60 kg e a Fuel EXe 9.9 XX1 AXS 18,45 kg. Estamos a falar de cinco kg de diferença. No papel não faz grande diferença, mas no terreno nota-se bem…

E deixamos um conselho que é válido para qualquer segmento de e-bike de montanha e também de qualquer bicicleta: é importante escolher em função do tipo de uso que lhe vamos dar nos trilhos; e experimentar de antemão na loja ou num evento de test drive ajuda muito a perceber se é mesmo aquela bicicleta que procuramos.

Mais info:


Imagens: Arquivo GoRide / Trek Bikes

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