A Torre lá estará, a 1993 metros de altitude, com temperaturas entre os quatro e seis graus! Sensação térmica de -1, dados do Instituto Português do Mar e Atmosfera. Não parece que será uma etapa da Volta a Portugal e nem será apenas por falta de público devido às restrições de pandemia. Será mesmo porque o habitual é a preocupação com um eventual calor a mais. Esta quinta-feira estará muito frio, num cenário a que o pelotão nacional não está acostumado enfrentar quando tem de enfrentar a sempre difícil subida à Torre.

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E se subir ao ponto mais alto de Portugal Continental nunca é fácil, a escolha para a Edição Especial foi pelo lado da Covilhã, considerado o mais exigente. Vai ser um dia imprevisível muito devido às condições atmosféricas, pois não só está em causa a forma física, como também quem se adaptará melhor ao muito frio.

São contingências de uma Volta adiada para esta altura do ano e que terão entrar nas contas das equipas, que sabem que os seus líderes estão proibidos de falhar se querem estar na luta pela camisola amarela, ou pelo pódio, ou dependendo dos objectivos traçados. Fazer uma táctica resultar, não será fácil.

A etapa

A quarta etapa será a mais curta em linha – 148 quilómetros -, mas também a rainha. Afinal, a Torre é a única categoria especial a entrar no percurso, com os seus cerca de 20 quilómetros de extensão, com pendentes médias a rondar os cinco/seis por cento. Até lá, o pelotão terá as Penhas Douradas (segunda categoria) e Sarzedo (terceira), mas a expectativa é que os ataques decisivos fiquem guardados para a última subida.

Com quatro etapas pela frente, após a desta quinta-feira, talvez não se possa dizer que da Torre sairá com certeza o vencedor da Volta. Porém, todos estão cientes que se pode perder a corrida e são vários os ciclistas que sabem como esta subida é madrasta.

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Amaro Antunes (W52-FC Porto), o líder com 13 segundos de vantagem sobre Frederico Figueiredo (Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel), já ganhou uma etapa na Serra da Estrela, mas nesse 2017 não terminou na Torre. Espera-se nova luta entre ambos, depois do espectáculo dado na Senhora da Graça, na terça-feira.

A recuperação física desse esforço também será essencial. Só um dia separou as duas etapas mais complicadas a nível de montanha. E Joni Brandão terá de se apresentar mais forte. O ciclista da Efapel está a 1:20 depois de uma Senhora da Graça que não lhe correu bem, nem à equipa, pois António Carvalho estava bem colocado na geral e tem agora 1:47 de desvantagem.

Vicente García de Mateos (Aviludo-Louletano) tem 1:25 para recuperar, com João Benta (Rádio Popular-Boavista) a estar de olhos postos no pódio (1:17), enquanto a equipa tentará proteger a camisola da montanha de Hugo Nunes. Gustavo Veloso (1:13) pode ser uma arma para a W52-FC Porto fazer os adversários estarem atentos a mais do que um candidato. O espanhol é daqueles que sabe o que é ver a Serra da Estrela estragar uma Volta, quando se tem um dia mau. E não esquecer que foi outro atleta da W52-FC Porto a ganhar na Torre em 2019: João Rodrigues, que acabaria por vencer a Volta a Portugal. Está a 1:29 de Amaro Antunes.

Entre homens da geral e outros ciclistas que estarão mais focados em ganhar a etapa, Henrique Casimiro (Kelly-Simoldes-UDO), Ricardo Vilela ou talvez o colega da Burgos-BH (algo discreto até agora), José Neves, são possíveis apostas. Será curioso ver a exibição de Daniel Freitas. O ciclista da Miranda-Mortágua surge no top dez após a Senhora da Graça, a 1:25, com alguma surpresa, ele que esta quarta-feira esteve no sprint final, algo mais habitual da sua parte.

Numa Volta mais curta (nove dias em vez de 12), mais intensa, depois de uma Senhora da Graça com tanto espectáculo e com as diferenças ainda a permitirem que tudo possa acontecer, a Serra da Estrela surge com um cenário de incerteza que prenderá as atenções.

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“A Torre por si só ‘mata’ muitos atletas no pensamento. Quando se entra na Torre já com 150 ou 160 quilómetros e começamos a pensar naquele percurso até ao alto… É temeroso para muitos.” A frase é de Rui Sousa e refere-se a dias com condições atmosféricas bem diferentes. Porém, aplica-se quando a mente tem muita influência nos momentos mais difíceis.

Sprinters “fintados”

Apesar de uma terceira e uma segunda categoria nos 171,9 quilómetros entre Felgueiras e Viseu, os sprinters sabiam que era dia para tentarem a vitória. No entanto, a etapa mais pareceu uma clássica com ataques e contra-ataques, com o pelotão a não conseguir controlar tantos ciclistas que tentavam a sua sorte.

© João Fonseca Photographer

O espanhol Oier Lazkano foi dos que tentou mais do que uma vez. O último ataque resultou mesmo. O próprio admitiu que pedalou para ir o mais longe possível isolado, vencesse ou não. Foi assim que cortou a meta, com 15 segundos do pelotão. Nele estava o favorito Daniel McLay, da Arkéa Samsic, que venceu o sprint, mas apenas para o segundo lugar.

Nas camisolas, Amaro manteve a amarela, mas cedeu a vermelha dos pontos a Luís Gomes (Kelly-Simoldes-UDO) – vencedor da etapa no Alto de Santa Luzia, enquanto Hugo Nunes (Rádio Popular-Boavista) e Simon Carr (Nippo Delko One Provence) continuam a ser os líderes da montanha e juventude, respectivamente. A W52-FC Porto é a primeira entre as equipas.

Classificações completas, via FirstCycling.

(Texto originalmente publicado no blog Volta ao Ciclismo.)

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