Confiança, motivação, entusiasmo, união… Mas não dar nada como garantido. Na Glassdrive / Q8 / Anicolor não se teme assumir o favoritismo que é atribuído à equipa, mas há uma ressalva: são uma das formações favoritas à vitória na Volta a Portugal, mas não a única. A época tem sido inesquecível e conquistar finalmente a Volta após uma década de espera – e de no ano passado a ter perdido por dez segundos – é o grande desejo, mas não uma obsessão. Falámos com Rúben Pereira.

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“Não menosprezo ninguém. Como a Volta a Portugal se apresenta, temos de ter muita atenção às fugas, aos grupos. Mas claro que há equipas que se fazem notar. O Tavira tem uma boa equipa com o Alejandro Marque, o Delio, o Emanuel Duarte, o Boavista tem um coletivo muito coeso e a própria Efapel tem uma boa equipa, que pode estar na linha da frente.

O Louletano tem o De Mateos que é um ciclista que geralmente anda bem na Volta a Portugal, a ABTF tem o André Cardoso… Quase todas as equipas têm ciclistas que podem estar bem. Será uma corrida bastante aberta”, destacou ao GoRide.pt o Diretor Desportivo da Glassdrive / Q8 / Anicolor.

A época tem sido quase perfeita – 15 triunfos, mais 13 classificações entre pontos, montanha, juventude e coletiva -, com a formação de Águeda a dar pouca hipóteses à concorrência de celebrar vitórias. Já 2021 tinha sido de destaque, mesmo perdendo a Volta a Portugal, mas na qual a estrutura amealhou seis triunfos de etapas e a camisola verde com Rafael Reis.

O que está na base do sucesso?

“Para acertar temos que errar. Quando comecei como diretor tive bons professores, principalmente o meu pai [Carlos Pereira, diretor da estrutura]. Tinha pouca experiência para tirar o máximo rendimento de um grupo. Foquei-me nos últimos dois anos no grupo em si, na parte humana, do ambiente, do coletivo. Isso para mim foi o maior foco, dar as melhores condições aos ciclistas”, começou por explicar.

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Acrescentou: “Tem sido uma época brilhante, já no ano passado foi e muito se deve à união deste grupo. Eles têm uma entrega por todos e isso é incrível. Como equipa somos muito forte. Tenho um grupo muito unido e nota-se quando uma equipa corre unida ou quando cada um corre a pensar nos seus interesses. Aqui o único interesse é o coletivo. É esse o sucesso da nossa equipa.”

Equipa para a Volta: Frederico Figueiredo, António Carvalho, Fábio Costa, Javier Moreno, Afonso Eulálio, Rafael Reis e Mauricio Moreira.

Motivação em alta

Vários ciclistas da Glassdrive / Q8 / Anicolor têm estado em destaque em determinadas corridas e tal faz parte da estratégia da equipa.

“Nós tentamos dar oportunidades a todos. Planeamos muito bem a época desde o início, para ver quem tem de estar a andar em que altura do ano e isso também nos leva a ter solidez como equipa. Não temos a equipa toda a disputar uma corrida, tentamos dividir consoante as características de um ciclista e o calendário”, referiu.

Realça que, “como é óbvio”, a equipa está muito motivada para a Volta a Portugal e que perante a época ganhadora só têm de estar contentes. Porém, afasta a pressão de ter de vencer a corrida.

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“Vamos para ganhar, mas se não ganharmos também não é o fim do mundo. É o ponto alto da época, mediaticamente, tudo o que envolve a Volta, são 15 dias fantásticos de ciclismo. Também temos que ver que damos o retorno aos nossos patrocinadores de janeiro a janeiro”, afirmou, apesar de ressalvar que a Volta é um momento importante para os patrocinadores.

E frisou: “Se temos obsessão? Não. Se é algo que nos motiva, sim. Felizmente esta equipa nunca viveu de vitórias na Volta a Portugal para garantir a sua sustentabilidade. Isso para nós também nos dá tranquilidade.”

No entanto, no dia antes da Volta ir para a estrada, Luís Mendonça acabou por ser substituído, após ser um dos ciclistas alvo de buscas pela Polícia Judiciária.

“[A situação] não abalou a equipa, mas vamos sentir a falta dele. Para mim, o Mendonça é insubstituível”, realçou. Afirmou ainda que o afastamento do ciclista foi também “para o proteger”. “Não é arguido”, garantiu, dizendo que nada foi descoberto nas buscas e que o corredor estava livre para correr na Volta.

As etapas em que não se pode falhar

Para Rúben Pereira, o percurso desta edição – que começa esta quinta-feira – e o facto de não existir muitas equipas com capacidade de controlo da corrida, obrigará a uma constante atenção. “A Volta é longa, mas de repente fica curta. Há pouca margem para erro.”

Se se proporcionar a corrida dessa forma, vamos tentar ganhar as etapas. Não vamos correr só para a geral.

Para o diretor desportivo todas as tiradas serão fulcrais, mas, inevitavelmente, destaca as de montanha, assim como a chegada a Fafe e Braga.

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“A subida em Miranda do Corvo, já fiz o reconhecimento, é uma chegada muito dura. A chegada a Fafe, Braga, Senhora da Graça, Torre são etapas em que todas elas temos de ter uma atenção muito grande”, disse.

Se a geral é o objetivo, ganhar novamente etapas também está no plano: “Há uma forma de correr que nos diz muito: mais vale um pássaro na mão que dois a voar. Nós não somos egoístas, mas vamos atrás das oportunidades. Se se proporcionar a corrida dessa forma, vamos tentar ganhar as etapas. Não vamos correr só para a geral. É a nossa filosofia de trabalho. Queremos fazer uma grande Volta a Portugal.”

Começar com uma vitória no prólogo de Lisboa é um desejo, afinal a Glassdrive / Q8 / Anicolor conta com o campeão nacional de contrarrelógio e medalha de ouro nos Jogos do Mediterrâneo: Rafael Reis. Já por três vezes que este ciclista venceu o prólogo da Volta e tentará dar o mote para o que a equipa quer desta prova.

Quem é o líder?

Com mais que um possível líder, Rúben Pereira aceita que é um risco, mas também vê esse mesmo risco em se apostar apenas num ciclista. Mauricio Moreira parte como principal favorito, até pelo que fez na Volta passada. Apesar de uma época algo apagada devido a doença e lesões, regressou às vitórias no Grande Prémio Anicolor.

Frederico Figueiredo tem estado em grande (três vitórias em 2022), mas, ao contrário do companheiro, peca no contrarrelógio. Porém, ambos vão ataque da Volta.

“Tem funcionado [divisão de liderança]. 50% das corridas que ganhámos nunca o fizemos com a pessoa que estava estipulada para ganhar. Isso diz muito desta equipa. Ganhámos o Grande Prémio O Jogo com o Rafael e não era ele estipulado para ganhar. Ganhei a Clássica Ribeiro da Silva com o Mendonça e não era ele o estipulado. A própria corrida se proporcionou assim”, contou.

Custa [perder a Volta por 10 segundos]… Saiu tudo perfeito. Aconteceu tudo como idealizei, menos um pormenor: a queda.

“Temos dois candidatos muito fortes, o Frederico e o Mauricio. O Mauricio é mais candidato pelas suas características… Ok, concordo plenamente. Mas é uma corrida muito aberta, correr só para um ciclista é um risco, para dois também. É um pau de dois bicos. Se apontas tudo só para um, uma queda, um furo e a corrida vai por água a baixo”, acrescentou.

Recordou ainda o momento penoso em que a Volta lhe escapou por tão pouco em 2021: “Eu perdi a Volta a Portugal da pior maneira. Nunca demonstrei que achava que o Mauricio ia ganhar, mas sempre acreditei.

Sempre tive esse convicção. Achava que ele ia disputar a Volta. Aqueles 42 segundos [com que partiu para a última etapa], achava que eram suficientes para ganhar. Uma queda é algo que não posso planear e perdi a Volta por 10 segundos.

Custa… Saiu tudo perfeito. Aconteceu tudo como idealizei, menos um pormenor: a queda.”

Ansiedade para terminar a longa espera

O espanhol David Blanco conquistou a última Volta para esta estrutura em 2012. A espera é longa e Rúben Pereira não esconde alguma ansiedade e o normal nervosismo pré-Volta. Porém, tanto favoritismo, recusa que tal só exista pela ausência da W52-FC Porto.

“Ganhar perante eles têm um significado importante, não menosprezando as outras equipas. O Porto é um grande rival, por tudo o que envolve a marca Porto. Não posso aceitar pela época que fizemos que só vamos ganhar porque não estão.”

“Há outras equipas em Portugal muito boas. A Efapel tem um grupo muito coeso, o Boavista tem uma equipa muito interessante e tem tido uma atitude muito positiva no calendário.”

Nós fizemos o nosso trabalho, trabalhámos muito para chegar bem a esta altura do ano. Agora chegou a altura de desfrutar desse trabalho.

“São equipas com muito peso no ciclismo nacional. Nós não corremos sozinhos. Queremos ganhar a Volta, mas só termina em Gaia. Há que ver a corrida o dia a dia. Fazer a nossa corrida. É o mais importante.”

E com tudo pronto para começar a 83ª Volta a Portugal, o responsável já deixou bem claro o que mais deseja: desfrutar da corrida.

“Ainda ontem dizia ao Mauricio [Moreira] algo que é muito importante estarmos conscientes: nós fizemos o nosso trabalho, trabalhámos muito para chegar bem a esta altura do ano. Agora chegou a altura de desfrutar desse trabalho.”

Mais info:


Todas as imagens: Glassdrive / Q8 / Anicolor (via Facebook)

Apresentação (resumida) da 83ª Volta a Portugal [com vídeo]

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