Aqui não há outro remédio: o início de cada ano no ciclismo obriga ao exercício de nos adaptarmos às muitas diferenças entre o ano anterior e o corrente, isto no que diz respeito ao World Tour: equipas, atletas, marcas, expetativas…

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Ou seja, para 2022 há equipas com novos nomes (e equipamentos), corredores que mudaram de ares (e não foram poucos), a saída de uma marca histórica de bicicletas no World Tour e o regresso de outra, atletas que já não vamos ver competir (porque se retiraram), havendo ainda alguns que querem prosseguir carreira, mas não está fácil garantir um contrato. Vamos então tentar dar aqui uma ajuda com algumas das diferenças.

Menos equipas?

Para começar temos logo menos uma equipa no World Tour. A sul-africana Qhubeka-Assos (durante a temporada passou a Qhubeka NextHash) não conseguiu encontrar patrocinadores para continuar com o projeto a este nível. Desta forma, o escalão mais alto do ciclismo mundial passa a contar com apenas 18 formações. Já no lado feminino, cresce de nove para 14 equipas!

E atenção aos nomes. A Quick-Step mantém-se e lá vai alternando entre ser o patrocinador principal ou secundário. A Deceuninck-QuickStep passa a Quick-Step Alpha Vinyl, em princípio até 2026. A Astana Premier Tech foi uma relação difícil e a formação cazaque é agora apenas Astana Qazaqstan Team, com a Israel Start-Up Nation a passar a Israel Premier Tech.

Por sua vez, a australiana BikeExchange “recebe” mais um nome, ficando BikeExchange-Jayco, enquanto a equipa que conta com o português Rúben Guerreiro troca o segundo nome, deixando de ser Nippo: fica EF Education-EasyPost.

E nesta estrutura verifica-se a única mudança de bicicletas anunciada no World Tour. A Bianchi esteve muitos anos com a Jumbo-Visma, mas numa autêntica dança de bicicletas entre equipas do World Tour no final de 2020, a marca passou a fornecer bicicletas à formação australiana da BikeExchange.

Porém, a relação foi curta. A Giant regressa depois de ter ficado sem presença ao mais alto nível do ciclismo com o “fechar de portas” da CCC. De referir que esta mudança significa que a equipa feminina passa a contar com bicicletas da Liv.

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© GreenEdgeCycling

De referir também que, apesar do adeus da Qhubeka-Assos, a BMC não perde lugar no World Tour, pois em 2021 iniciou uma parceria com a francesa AG2R-Citroën.

Como curiosidade e dada a transferência de Peter Sagan para a TotalEnergies, do segundo escalão (ProTeam), a Specialized não deixa o ciclista que há muitos anos se tornou a sua imagem, passando assim a patrocinar a equipa francesa.

À procura de contrato

O final da equipa sul-africana deixou muitos ciclistas numa situação difícil. Tudo foi feito para que o projeto continuasse, mas o arrastar da indefinição não ajudou. Sergio Henao (Col, 34), Robert Power (Aus, 26) e Domenico Pozzovivo (Ita, 39), na foto abaixo, são exemplos de ciclistas que vêem o futuro na modalidade ao mais alto nível muito complicado.

O italiano Domenico Pozzovivo. © Team Qhubeka

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Tal como Pozzovivo, a idade pode estar a ter o seu peso para Maximiliano Richeze (Arg, 38) e Marcus Burghardt (Ale, 38). O primeiro há muito que é visto um dos melhores lançadores de sprint, mas mesmo sendo um homem de confiança de Fernando Gaviria, a UAE Team Emirates não quis renovar contrato.

O mesmo aconteceu com a Bora-Hansgrohe, que prescindiu de um ciclista que já foi um dos homens fortes da estrutura, principalmente pela sua valiosa capacidade de trabalho.

Ponto final na carreira

Ao longo de 2021 fomos assistindo a algumas despedidas, casos de Tejay van Garderen (EF Education First-Nippo, 33) e Fabio Aru Fabio Aru (Qhubeka NextHash, 31), por exemplo. Porém, muitos só terminaram a carreira mesmo no final da temporada, com destaque para uma das grandes referências do ciclismo atual: Tony Martin (Jumbo-Visma, 36).

O quatro vezes campeão do mundo de contrarrelógio, dez vezes campeão nacional da especialidade, vencedor de cinco etapas no Tour e duas na Vuelta (uma carreira brilhante) saiu pela porta grande ao sagrar-se campeão do mundo no contrarrelógio misto a 22 de setembro. Despedida perfeita para o ciclista que conquistou duas Voltas ao Algarve (2011 e 2013).

Destaque ainda para a despedida de um dos melhores sprinters da história: André Greipel.

Destaque ainda para a despedida de um dos melhores sprinters da história: André Greipel. Foram mais de 150 vitórias na carreira, incluindo 11 etapas no Tour, sete no Giro e quatro na Vuelta.

Foi lançador de Mark Cavendish, mas foi um ciclista que fez a passagem para líder dos sprints com muito sucesso e despediu-se aos 39 anos, depois de duas temporadas na Israel Start-Up Nation.

Aqui ficam mais alguns dos ciclistas que terminaram a carreira: Daniel Martin (Israel Start-Up Nation, 35), Mathias Franck (AG2R, 35 anos), Moreno Hofland (EF Education First-Nippo, 30), o alemão Andres Schillinger (Bora-Hansgrohe, 38), Eros Capecchi (Bahrain-Victorious, 35), Nicolas Roche (DSM, 37), Kévin Reza (B&B Hotel p/b KTM, 33) e Michal Golas (Ineos Grenadiers, 37).

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As transferências (e não só as principais!)

A pandemia está a influenciar mais uma vez o arranque da temporada. As provas australianas foram novamente canceladas, o que significa que a nível do calendário World Tour a primeira prova será a Volta aos Emirados Árabes Unidos, de 20 a 26 de fevereiro.

Para já, as restantes corridas estão marcadas para as suas alturas normais. Já as corridas da ProSeries começam com a Volta à Comunidade Valenciana, de 2 a 6 de fevereiro, mês também da Volta ao Algarve (16 a 20).

Um dos portugueses que vai dar as primeiras pedaladas oficiais em 2022 e por uma nova equipa na Volta aos Emirados, é João Almeida. Uma das estrelas jovens do pelotão World Tour mudou-se para a UAE Team Emirates, depois dois anos tremendos na Deceuninck-QuickStep.

© UAE Team Emirates

Assinou até 2026, juntando-se aos gémeos Oliveira (Ivo e Rui) e ao campeão do mundo de 2013, Rui Costa. Serão companheiros do quarteto português George Bennett (ex-Jumbo-Visma), Marc Soler (ex-Movistar) e Alvaro Hodeg (ex-Deceuninck-QuickStep).

Uma das grandes surpresas foi também o anúncio da saída de Dylan Groenewegen da Jumbo-Visma. Apesar de ter contrato com a equipa holandesa e de ser o seu sprinter puro principal, com Primoz Roglic e Wout van Aert (também ele com total capacidade para sprintar, além de muito mais) a ocuparem o topo da hierarquia nas escolhas, Groenewegen quis mudar de ares para poder apontar às principais corridas, pensando muito na Volta a França.

A BikeExchange agradece, pois bem precisa de um ciclista que dê mais garantias de vitórias, apesar de Groenewegen ainda não ter regressado completamente ao seu melhor depois da suspensão.

O belga Tiesj Benoot vai tentar reencontrar-se na Jumbo-Visma.

O belga Tiesj Benoot vai tentar reencontrar-se na Jumbo-Visma. Apontado como uma das grandes esperanças do ciclismo belga, não está fácil para comprovar as expectativas. Não fez na Lotto Soudal, muito menos na DSM, mas a sua qualidade é inegável e a Jumbo-Visma reforça assim o seu bloco para as clássicas, enquanto para os sprints foi buscar Christophe Laporte à Cofidis.

Depois de dois anos de enorme sucesso na QuickStep e de dois anos para esquecer na Cofidis, Elia Viviani regressa à Ineos, que deixou ainda quando era Sky. Na altura fartou-se da equipa não apostar em sprinters, apesar de conseguir alcançar algumas vitórias, mas as grandes corridas estavam destinadas aos trepadores, com a equipa britânica a pensar apenas neles.

© Wout Beel

Porém, aos 32 anos e depois de ter caído quase no esquecimento tão fracos foram os seus resultados mais recentes, Viviani procura revitalizar a carreira numa Ineos agora com mentalidade um pouco mais ampla e não tão centrada nos seus líderes trepadores, ainda que saberá que estará em segundo plano sempre que uma vitória numa classificação geral estiver em causa.

Giacomo Nizzolo é um daqueles sprinters que tanto entra numa senda vitóriosa, como quase sai de cena. Mas quando está bem, está mesmo bem e, com o fim da Qhubeka NextHash, o italiano vai ocupar a vaga de sprinters deixada vaga pela retirada de André Greipel na Israel Start-Up Nation. Na estrutura israelita entra ainda o dinamarquês Jakob Fuglsang (Astana Premier Tech)

Outro ciclista obrigado a procurar equipa devido aos problemas na formação sul-americana foi Victor Campenaerts. Porém, para o belga de 30 anos não foi difícil a escolha. A Lotto Soudal abriu-lhe novamente as portas, depois de ter sido a sua casa entre 2016 e 2019. Agora, o recordista da hora tem contrato até 2024.

A Bora-Hansgrohe também irá receber de novo o sprint Sam Bennet (Deceuninck-QuickStep), contratando ainda a referência atual russa, Alekasandr Vlasov (Astana Premier Tech). Jay Hindley (DSM) e Sergio Higuita (EF Education First-Nippo) também são reforços para a formação alemã.

A Bora-Hansgrohe também irá receber de novo o sprint Sam Bennet (Deceuninck-QuickStep).

John Degenkolb regressa à estrutura onde conheceu a melhor fase da sua carreira e de onde saiu no final de 2016, então como Giant-Alpecin, agora DSM. E, por falar de regressos, destaque para o de Vincenzo Nibali à Astana.

Aos 37 anos, o italiano está na recta final de uma gloriosa carreira e ainda vai dar uma mão à equipa cazaque, que precisa de recuperar de um 2021 terrível e que, com tanta instabilidade na liderança, acabou por ver vários ciclistas importantes saírem.

Além de Vlasov e Fuglsang, Luis León Sánchez vai para a Bahrain-Victorious, os irmãos Izagirre separam-se, com Ion a ir para a Cofidis e Gorka para a Movistar e Omar Fraile reforça a Ineos, por exemplo.

Vinokourov ainda assim conseguiu boas contratações. Beneficiando do desentendimento com a Movistar, recuperou Miguel Ángel López, Gianni Moscon procura um novo desafio na carreira e deixou a Ineos, tal como Sebastian Henao, David de la Cruz e Joe Dombrowski querem mais protagonismo e deixaram uma UAE Team Emirates centrada nos jovens valores que tem.

Também Alexander Kristoff deixa a equipa dos Emirados e assumirá um papel de destaque na Intermarché-Wanty-Gobert Matériaux, que foi buscar também a essa formação o norueguês Sven Erik Bystrøm. A EF Education First-Nippo assegurou o jovem ucraniano da Bahrain-Victorious, Mark Padun.

Da extensa lista de transferências – e neste artigo estão apenas referidas algumas das principais -, naturalmente que não poderia ficar de fora uma, senão a maior, surpresa: Peter Sagan.

Aos 31 anos (celebra 32 a 26 de Janeiro), é inegável que o eslovaco perdeu fulgor, ganha pouco, mas… é Sagan. Continua a ser dos ciclistas mais populares do pelotão, lá vai ganhando, contudo, a Bora-Hansgrohe já não quis continuar a apostar num corredor tão caro, mas com pouca rentabilidade competitiva.

© TotalEnergies

Depois de muita especulação sobre para onde iria e de alegadas exigências que levaram, por exemplo, Patrick Lefevere a considerar impossível contratar Sagan para a Quick-Step Alpha Vinyl, a francesa TotalEnergies chegou-se à frente e seduziu o tricampeão do mundo a aceitar o convite de uma equipa do segundo escalão.

Não é novidade e até tem sido uma tendência recente. Porém, não deixou de ser surpreendente, até porque se a TotalEnergies tem acesso a tudo o que é grandes provas francesas, já não haverá garantias para outras corridas.

Claro que, com Sagan, esses convites podem chegar, o que levou a formação a fazer tudo para convencer o eslovaco e a aceitar contratar ainda Daniel Osso, Maciej Bodnar e irmão Juraj Sagan, os fiéis escudeiras de Peter Sagan.

A equipa há muito que ambiciona entrar no World Tour e espera que o popular ciclista lhe abra mais portas no calendário e traga mais poderio financeiro, atraindo potenciais patrocinadores.

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Imagem principal: © Unipublic/Charly López

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