Tanta emoção! Mas percebe-se bem porquê. A vitória de João Matias na segunda etapa da Volta a Portugal, em Castelo Branco, chega num momento em que todos na Tavfer-Mortágua-Ovos Matinados querem homenagear Pedro Silva e por intermédio de um ciclista que há muito sonhava com este triunfo.

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João Matias tem sido um lutador. Quis ser ciclista profissional, mas também percebeu o quão complicado é. Chegou a ir até Espanha para fazer uma espécie de reset na carreira. Estávamos em 2016. Regressou a Portugal logo no ano seguinte.

Foto: Agnelo Quelhas/Podium Events

Entretanto, quando já muito se falava dos gémeos Oliveira na pista, Matias também mostrava o seu talento, merecendo a confiança do selecionador Gabriel Mendes em grandes competições, realizando boas exibições. Foi também aposta na procura por um inédito apuramento para os Jogos Olímpicos.

Na estrada, o desejo era ir a uma Volta a Portugal e em 2017 cumpriu esse sonho. Apesar de ser um ciclista mais conhecido pela capacidade de sprintar, andou vários dias com a camisola da montanha. Foi uma estreia para recordar.

Matias foi afirmando-se, demonstrando não só qualidade como atleta, mas também uma voz de liderança, sendo muito respeitado pelos companheiros. E não é para menos. Se pode ser primeira escolha, é também um fiel gregário quando as circunstâncias assim o exigem. Dá tudo de si em qualquer função.

Teve duas temporadas discretas na Aviludo-Louletano-Loulé Concelho, mudando-se este ano para a Tavfer-Mortágua-Ovos Matinados. Voltou a sorrir.

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Foto: Agnelo Quelhas/Podium Events

Foi à Volta ao Algarve mostrar-se novamente na montanha e, desta feita, venceu mesmo essa classificação, naquela que é a corrida portuguesa de categoria mais elevada a nível internacional.

Mas faltava esta vitória, na Volta a Portugal, que chegou aos 31 anos.

“Lutei tanto por este momento, para vencer uma etapa da Volta a Portugal… Esta vitória é para toda a equipa, para o Pedro Silva – mentor deste projeto que está lá em cima a olhar por nós -, para a minha família, esposa e futuro filho”, afirmou.

“Havia sempre algo que me acontecia, mas hoje foi tudo perfeito. É uma explosão de emoções, trabalho diário e de muitos anos. Tive quase a abandonar a modalidade e tenho de agradecer a todos os que me apoiaram. Para já, a Volta está ganha. Agora se não for para mim, que seja para um colega de equipa”, acrescentou.

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Foto: Agnelo Quelhas/Podium Events

Ano de estreia em grande

Há pouco mais de um ano, Pedro Silva faleceu. O ex-ciclista era o responsável por esta equipa que há tantos anos tem formado jovens e que no nível Continental tem estado em claro crescimento.

Parte da emoção da vitória de Matias também se deveu à vontade de todos de quererem dedicá-la a Pedro Silva, numa temporada de sucesso para a Tavfer-Mortágua-Ovos Matinados: cinco vitórias.

Foto: João Fonseca Photographer/Federação Portuguesa de Ciclismo

Esta é a primeira época de Gustavo Veloso como diretor desportivo, ele que há um ano fazia a sua última Volta a Portugal como ciclista. A sua influência é notória e António Barbio – que tão bem preparou o sprint para Matias – realçou isso mesmo em declarações à RTP.

“O Gustavo faz-nos fazer as corridas de olhos fechados. Correu às mil maravilhas. O Matias ganhou com autoridade”, realçou, referindo como o espanhol prepara minuciosamente as tiradas.

A etapa

Foi mais um dia longo e quente na bicicleta. 181,5 quilómetros que começaram por uma passagem por Espanha. Badajoz recebeu a partida da segunda etapa, com a difícil chegada a Castelo Branco à espera de ver quem melhor preparou as muitas curvas, rotundas e estreitamentos.

Foto: Agnelo Quelhas/Podium Events

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A etapa foi a esperada. Uma fuga de quatro elementos que começou a ser formada logo aos cinco quilómetros e que teve o último resistente a ser apanhado apenas a 10 da meta.

Este foi o basco Asier Etxeberria (Euskaltel-Euskadi), que pedalou um pouco a solo, depois de muito tempo a colaborar com Fábio Oliveira (ABTF Betão-Feirense), Francisco Marques (LA Alumínios-Credibom-Marcos Car) e Edwin Torres (Java Kiwi Atlántico).

O principal resultado desta fuga foi o venezuelano Edwin Torres assumir a liderança da montanha, depois de passar em primeiro duas das três contagens de terceira categoria do dia.

Foto: João Fonseca Photographer/Federação Portuguesa de Ciclismo

Nas restantes classificações, tudo igual. Rafael Reis (Glassdrive-Q8-Anicolor) cumpre o objetivo de partir para a etapa da Torre de amarelo, com nove segundos de vantagem sobre Mauricio Moreira, o seu companheiro de equipa, e Oliver Rees (Trinity Racing). Este último é o líder da juventude, envergando a camisola branca.

As diferenças nas classificações (geral e juventude) são as estabelecidas no prólogo de quinta-feira.

Foto: João Fonseca Photographer/Federação Portuguesa de Ciclismo

O surpreendente Scott McGill (Wildlife Generation) tentou uma nova vitória de etapa, depois de ter sido o mais forte no sprint em Elvas. Desta feita foi segundo, mas foi um resultado importante na luta pela camisola verde, dos pontos.

O americano não resistiu ao arranque fortíssimo, no momento certo, de Matias e quando reagiu, já nada podia fazer para tentar discutir o triunfo.

Dia de subir à Torre

Desde o prólogo que a Torre surge nos discursos dos ciclistas e diretores desportivos. Afinal, vamos estar apenas no quarto dia da Volta a Portugal e pela frente já se terá a subida ao ponto mais alto de Portugal Continental.

A mítica ascensão da Serra da Estrela surge novamente na primeira metade da prova, o que pode fazer com que não seja tão decisiva como se estivesse numa etapa mais perto do final.

Porém, se pode não definir um vencedor, aplica-se a velha máxima do ciclismo: não se ganha nada, mas pode-se perder tudo nestes cerca de 20 quilómetros de ascensão.

As dificuldades vão começar antes da subida final. Haverá três contagens de montanha: uma segunda categoria logo aos 40 quilómetros na Serra de Alvelos e pouco depois, aos 60,8, uma de quarta, seguindo-se quase de seguida, aos 72,7, uma de terceira categoria no Orvalho.

As metas volantes estarão instaladas em Oleiros (49,6), Fundão (119) e Covilhã (138,8).

Recorde-se que em 2021, Alejandro Marque (Atum General-Tavira-AP Maria Nova Hotel)  viveu um grande momento, sendo o vencedor isolado na Torre, vestindo a camisola amarela.

Foto: Agnelo Quelhas/Podium Events

Acabaria a corrida num excelente terceiro lugar da geral e está este ano a fazer a sua última Volta, pois terminará a carreira no final da temporada.

Que história se escreverá este domingo? Rafael Reis quer entregar a “sua” camisola amarela a um companheiro de equipa. Vai finalmente perceber-se quem vai lutar pela geral.

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