José Santos lançou o repto no arranque da Volta a Portugal: Hugo Nunes tinha de assumir mais responsabilidade na Rádio Popular-Paredes-Boavista. Com o aproximar do final da corrida, não é o papel inicialmente previsto pelo diretor desportivo da equipa, mas este domingo o jovem ciclista terá a responsabilidade de ser uma valiosa ajuda para Luís Fernandes, na ambição de chegar à camisola amarela.

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“Vamos ver se consigo lidar com essa responsabilidade toda”, começa por dizer ao GoRide.pt, entusiasmado por ver um colega de equipa numa posição tão privilegiada na classificação geral, a 38 segundos da liderança.

Foto: Agnelo Quelhas/Podium Events

O corredor, de 25 anos, é perentório em dizer que acredita que é possível vencer a Volta a Portugal, mesmo que coletivamente a Glassdrive-Q8-Anicolor esteja a ser muito superior. “Em comparação à Glassdrive estamos um pouco mais frágeis”, afirmou.

Contudo, tal não significa que a Rádio Popular-Paredes-Boavista não vá dar luta. Luís Fernandes foi o único ciclista capaz de ficar com uma diferença abaixo dos dois minutos depois da terceira etapa. Foi nessa que a geral ganhou forma, após a subida à Torre, na Serra da Estrela.

Estamos a prever muita dureza, mas estamos preparados [para a etapa da Senhora da Graça].

Com apenas a tirada da Senhora da Graça pela frente, no que a etapas em linha diz respeito – segunda-feira é dia do contrarrelógio final -, Luís Fernandes tem à sua frente dois homens da Glassdrive-Q8-Anicolor: Frederico Figueiredo e Mauricio Moreira. O uruguaio está sete segundos do português.

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“Tenho de ser o braço direito do Luís Fernandes nas fases decisivas”, admitiu a pensar na complicada nona etapa. É essa a responsabilidade que neste momento quer focar-se. Ser líder na Volta como pede José Santos? Fica para outro ano.

A difícil etapa da Senhora da Graça

Não se pode pensar apenas na derradeira e mítica subida do Monte Farinha. Em cerca de 100 quilómetros dos 174,5 da etapa, haverá duas primeiras categorias: Serra do Marão e Barreiro, com uma quarta categoria pelo meio no Velão.

De recordar que a Senhora da Graça é uma primeira categoria e para lá chegar haverá muitas oportunidades para se mexer na corrida, com a ascensão no Barreiro a ser um local onde se tem visto ataques em edições anteriores.

“Estamos a prever muita dureza, mas estamos preparados. A equipa já está a poupar um pouco de energia nestas etapas mais a rolar a pensar na Senhora da Graça”, referiu Hugo Nunes.

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Ficou a garantia que Luís Fernandes está bem quando se aproximam as grandes decisões da Volta: “Ele acorda todos os dias animado, penso que ele está bem. A brincar pergunto-lhe se lhe doem as pernas. Ele diz que não. Acho que ele está na luta pela Volta a Portugal.”

Para quando a responsabilidade de líder?

José Santos tem motivado Hugo Nunes a ser um líder da equipa. Desde que chegou à estrutura, em 2019, foi sempre um corredor visto como um muito provável número um para disputar as corridas que tenham um terreno com pouco plano.

Em 2020, foi o rei da montanha da Volta a Portugal. O crescimento como corredor desde então é notório.

Foto: João Fonseca Photographer/Federação Portuguesa de Ciclismo

“Eu evolui muito como ciclista. Na Rádio Popular-Paredes-Boavista permitiram essa evolução. Deixam-me tranquilo. Aquele ano em que ganhei a camisola da montanha acho que foi um clique na minha curta carreira e a partir daí moralizei-me bastante. Os resultados estão cada vez a aparecer mais e espero evoluir mais”, salientou.

Mas para quando o assumir da responsabilidade que José Santos tanto lhe pede?

“Eu acho que o diretor quer mais do que eu. Ele diz que eu sou um ciclista que um dia posso discutir a Volta a Portugal. Eu, para já, ainda não incuti isso em mim, mas quem sabe um dia”, revelou.

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Hugo Nunes em fuga na sexta etapa, Águeda-Maia. (Foto: Agnelo Quelhas/Podium Events)

E explica porquê: “Ainda não tenho aquela veia de líder. Acho que ainda estou numa fase de ajudar os meus colegas, como gregário. Não me vejo como um líder.”

“Ganhar uma montanha é diferente de ser um líder para a geral da Volta a Portugal, mas penso que um dia vou incutir isso em mim. Tenho de treinar mais em alta montanha e vamos ver como será o futuro”, acrescentou.

O exemplo de Luís Fernandes

Quer subir um patamar de cada vez e olha para Luís Fernandes, agora com 34 anos, como um bom exemplo.

Foto: Agnelo Quelhas/Podium Events

“Eu revejo-me um pouco nele. Ele foi sempre um gregário ao longo da carreira e agora está a tornar-se num bom líder. Tento fazer igual: tornar-me num bom gregário e depois um bom líder”, realçou.

E nesta Volta, não vale a pena falar mais em lideranças, nem sequer na ambição de ganhar novamente a classificação da montanha, mesmo que esteja a ter um 2022 muito positivo.

Coloquei esse objetivo em segundo plano. O primeiro é ajudar o nosso líder, Luís Fernandes, a discutir a Volta a Portugal.

Já subiu várias vezes ao pódio em diversas corridas, na luta por classificações secundárias e venceu uma etapa no Grande Prémio Abimota.

Tem sido regular toda a temporada e até chegou a vestir a camisola da montanha nesta Volta a Portugal. Nesta altura da corrida, esse pensamento está praticamente afastado. É tudo por Luís Fernandes e pela camisola amarela.

Hugo Nunes vestiu um dia a camisola da montanha nesta Volta a Portugal (Foto: João Fonseca Photographer/Federação Portuguesa de Ciclismo).

“Juntamente com o meu diretor e colegas, pensamos que este ano a camisola da montanha irá para os da geral. Coloquei esse objetivo em segundo plano. O primeiro é ajudar o nosso líder, Luís Fernandes, a discutir a Volta a Portugal. Se der a montanha, muito bem, se não der, tranquilo na mesma”, reiterou.

Luís Fernandes é também candidato nesta classificação, pois está apenas a um ponto de Mauricio Moreira, enquanto Hugo Nunes está a 17.

O ciclista explicou a presença em fugas com a intenção de “antecipar algumas jogadas de adversários” e assim proteger o seu líder, não tanto a pensar em somar pontos nos contagens de montanha.

Agora que venha a Senhora da Graça onde Hugo Nunes espera estar à altura de ser o gregário que Luís Fernandes precisa, pois segunda-feira, último dia da Volta, será cada um por si no contrarrelógio Porto-Gaia (18,6 quilómetros).


Fotografia principal: Elisabete Silva/GoRide.pt

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