Remco Evenepoel confirmou o que desde júnior se esperava dele. É a nova estrela belga para as grandes voltas. Já lá vai um tempo que o país, que faz do ciclismo o seu grande desporto, tem um ciclista que possa disputar as provas de três semanas. A Quick-Step Alpha Vinyl vê-se numa posição inédita.

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Sempre foi uma equipa mais ligada à conquista dos monumentos (principalmente do pavé) e de outras grandes clássicas, tendo também alguns dos maiores sprinters do mundo para “limparem” etapas nas provas de uma semana e, claro, nas grandes voltas.

Três nomes vêm de imediato à memória: Johan Museeuw, Paolo Bettini e, claro, Tom Boonen. Mas seria redutor dizer que a história da equipa – aqui incluindo os tempos da Mapei – se resume a estes três ciclistas, afinal tem um bicampeão do mundo: Julian Alaphilippe. Tem sido uma estrutura com nomes marcantes da modalidade.

Agora tem mais um: Remco Evenepoel, que conta apenas 22 anos. Ou seja, tem toda uma carreira pela frente. Desde que em 2018, nos Mundiais de Innsbruck, fez uma exibição que deixou tudo e todos de boca aberta, que Evenepoel se tornou numa potencial superstar belga. E era júnior!

Ajudou no ano seguinte ter assinado pela então Deceuninck-QuickStep, “saltando” o passo de sub-23 para ir logo para o profissionalismo, e ao mais alto nível (World Tour).

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Algo atualmente cada vez mais normal, é certo, mas que não deixou de levantar muitas questões, a que Evenepoel fez o favor de ir respondendo com mais umas quantas exibições brilhantes. Até que sobrou só uma pergunta: “Até onde pode ir este miúdo?”.

A queda na Lombardia, em 2019, foi um susto enorme e um adiar da sua afirmação, principalmente nas três semanas. Mas na Vuelta que terminou no último domingo, aí está ele: Remco Evenepoel, o vencedor de uma grande volta e de forma bem convincente. Nem o abandono de Roglic retira a certeza que o jovem belga está pronto para mais grandes embates nestas corridas.

E sim, já só se pensa em vê-lo no frente a frente com Tadej Pogacar, Jonas Vingegaard e mais uns quantos jovens, dois dos quais também se revelaram nesta Vuelta: Juan Ayuso (UAE Team Emirates) e Carlos Rodríguez (INEOS Grenadiers).

Do nosso lado português, temos João Almeida (UAE Team Emirates) e com um historial com Remco Evenepoel aquando da sua passagem pela formação belga. Então, o ciclista das Caldas começou como braço-direito e basicamente mais pareceu terminar como rival!

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Esta confirmação de Evenepoel acontece num momento de ascensão de vários jovens e de saída de algumas das últimas figuras da “velha guarda”: Alejandro Valverde e Vincenzo Nibali, sem esquecer Philippe Gilbert, ainda que este tenha sido mais homem de clássicas.

A Quick-Step Alpha Vinyl tem um ciclista que não se pode dar ao luxo de perder. Um belga numa equipa belga. Desde 1978 que um corredor daquele país não ganhava uma grande volta, só para se perceber melhor a magnitude do feito de Evenepoel.

Na Bélgica há uma Remco-loucura e que mais podem pedir os patrocinadores desta estrutura?

Mas como irá a equipa enfrentar o futuro próximo, é a dúvida. Mais virada para clássicas e sprints, agora vê-se na necessidade de ter mais ciclistas para estar ao lado de Evenepoel nas grandes voltas.

O “patrão” Patrick Lefevere sempre valorizou orçamentos equilibrados, não indo além daquilo que financeiramente pode. Mesmo que Evenepoel possa trazer mais dinheiro de patrocinadores, a verdade é que será preciso investir na contratação de ajuda à estrela, para não correr o risco de a vir a perder.

Tem contrato até 2026, mas isso nem sempre significa ser um ciclista “blindado”.

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As primeiras indicações demonstram que Lefevere estará disposto a mudar um pouco o ADN da equipa para seguir a tendência Evenepoel. Jan Hirt (Intermaché-Wanty-Gobert Matériaux) está a caminho da equipa.

Checo, 31 anos, puro trepador e sem pretensões a lideranças, ao contrário do que sucedia com João Almeida e levou o português a não continuar na estrutura, mudando-se para a UAE Team Emirates.

Não foram renovados contratos com Mark Cavendish (vai chegar Tim Merlier, sprinter da Alpecin-Deceuninck) e Zdenek Stybar, um ciclista com muitos anos de casa. Yves Lampaert também ainda não renovou.

Além de uma eventual nova política de contratações, ou pelo menos adaptada à nova realidade – ainda que a equipa não vá deixar de continuar a apostar nas clássicas –, também se poderá falar de uma mudança de mentalidade.

A Quick-Step (e todas as suas derivações no nome ao longo dos anos) tem tido como imagem de marca dar praticamente a todos os ciclistas uma ou outra oportunidade de lutarem por vitórias.

Ou seja, quando é para trabalhar para outros, trabalham, mas sabendo que vai chegar o seu momento de liderança.

Com Remco Evenepoel, dificilmente será assim. Quem fique com o papel de gregário do belga será isso mesmo sempre que estiver ao lado do mesmo. Não faltam corredores de qualidade e confortáveis nesta função, mas quem presententemente está na equipa não está habituado a esta mentalidade.

Auto-intitulam-se por Wolfpack e agora há um líder da “alcateia”.

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Fotografias: Justin Setterfield e Tim de Waele/Getty Images/Quick-Step Alpha Vinyl.

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