A biografia de José Poeira, o selecionador que trabalhou com João Almeida e muitos outros

Um selecionador de excelência que contribuiu de forma decisiva para uma mudança de paradigma do ciclista português, um vencedor, alguém que lê as corridas como poucos e… um contador de histórias. A obra “Alguma Coisa Boa Há-de Acontecer-me – Biografia de José Poeira”, escrita por José Carlos Gomes, foi esta 3ª feira apresentada na sede do Comité Olímpico de Portugal (COP), em Lisboa.

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Na sua juventude, José Poeira, selecionador nacional de ciclismo com presença em sete edições dos Jogos Olímpicos, leu em tempos uma biografia de Joaquim Agostinho que o inspirou a querer ser ciclista.

Apresentação Biografia José Poeira – COP – Foto © João Fonseca Photographer

Agora, o próprio tem a sua, escrita por José Carlos Gomes, recheada de momentos que fazem qualquer um sorrir e conhecer um pouco melhor quem marcou tantos jovens corredores.

Nelson Oliveira foi um deles e as palavras de agradecimento ecoaram com emoção no auditório cheio do Comité Olímpico de Portugal (COP), onde se juntaram quem não podia deixar passar o merecido momento de reconhecimento a José Poeira.

Apresentação biografia José Poeira – COP – Foto © João Fonseca Photographer

“Há um antes e um depois” de José Poeira no ciclismo nacional, salientou Tiago Brandão Rodrigues, ex-ministro da Educação e atual presidente da Comissão de Ética do COP.

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A amizade com o selecionador vem desde os Jogos Olímpicos de Londres2012. Realçou ainda a “tranquilidade no meio do caos” e o “olhar atento aos pormenores” como duas características que marcam a personalidade de José Poeira.

O título da biografia dificilmente poderia definir melhor o selecionador:  “Alguma Coisa Boa Há-de Acontecer-me.” Em momentos em que outros poderiam desesperar, a frase é como o selecionador reage quando tudo parece correr mal.

E muita coisa boa aconteceu de facto desde que José Poeira, de 66 anos, assumiu o cargo em 2001, após ter trabalhado com os juniores.

Porém, a atenção para o talento que ia surgindo nas camadas jovens, sempre pautou a forma de estar do selecionador no ciclismo, como destacou José Carlos Gomes, autor da obra.

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“Desde que agarrou nas seleções, começou a trabalhar em jovens, que, entretanto, se tornaram mais conhecidos. O Rui Costa e o Nelson Oliveira, são aqueles com maior longevidade, mas apanhou outras gerações, como a do João Almeida e também do António Morgado. Portanto, todos os melhores ciclistas portugueses dos últimos 25 anos passaram pela vida de Poeira e também estão neste livro. Muitos deles também com declarações e com pormenores das histórias dos bastidores da Seleção Nacional”, explicou ao GoRide.

A buzinadela que ‘anunciou’ João Almeida

O assessor da Federação Portuguesa de Ciclismo está há mais de década e meia a ouvir as muitas aventuras de José Poeira, afirmando que o selecionador “é um excelente contador de histórias”.

Também ouviu muito que estas deveriam ser colocadas em livro: “Quando estávamos em jantares de seleção e por aí fora, toda a gente dizia que estas histórias deviam passar a livro. Eu tive a lata de começar a escrevê-las e dizer: ‘Olha, está aqui, vamos avançar com o livro que já comecei a escrever.'”

Na biografia ficamos a conhecer a buzinadela que deixou antever que se estava perante o excecional ciclista que João Almeida se tornou, o empréstimo que acabou em oferta de uma das melhores bicicletas de contrarrelógio para um então jovem Nelson Oliveira, a crença que Rui Costa poderia ser campeão do mundo em Florença e como acreditar num ciclista pode fazer toda a diferença, como foi o caso de Rafael Reis. Este último, tal como António Morgado, também estiveram presentes na apresentação do livro.

Porém, a biografia também recorda as inúmeras peripécias que José Poeira viveu para se tornar ciclista, singrar como atleta, até ao seu papel como selecionador. Ou seja, uma viagem que mostra vários momentos da modalidade.

“Dá para perceber a dimensão do ciclismo, ou seja, como era quando ele começou, alguns aspetos de amadorismo que havia na modalidade, como se dá uma transformação através do início da presidência do Artur Lopes, que pouco tempo depois coincide com a entrada do José Poeira e depois a partir daí o trabalho das seleções de uma forma muito séria”, referiu o autor.

A vitória que mudou o ciclismo português

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Se a tendência será pensar que a medalha de prata olímpica de Sérgio Paulinho e o título mundial de Rui Costa são os momentos mais altos, José Carlos Gomes acrescenta a importância de um outro que, na sua opinião, mudou o ciclismo português.

“Acho que o mais importante de todos é mesmo a vitória da Taça das Nações, em 2008-2009. Então havia um ciclista português no World Tour. Aquela Taça das Nações foi fundamental para abrir portas e para que agora tenhamos, com muita frequência, ciclistas ao mais alto nível. Na altura, o ciclismo português era visto internacionalmente como uma coisa muito atrasada, onde havia muito doping. Era uma espécie de América Latina na Europa. Com o José Poeira e aquela Taça das Nações, tudo mudou. O triunfo deu credibilidade ao ciclista português, ao ciclista jovem português, através das seleções nacionais”, explicou.

Artur Lopes e Delmino Pereira, antigos presidentes da federação, João Correia, empresário de alguns dos melhores ciclistas do mundo, foram algumas das muitas figuras que partilharam as suas histórias durante a apresentação, assim como o jornalista Eduardo Dâmaso, que, sendo também de Odemira, recordou como José Poeira era o orgulho da terra.

O orgulho que não esconde ter

Foi difícil para o selecionador esconder a emoção, enquanto correspondia aos muitos pedidos de autógrafos. José Poeira nunca imaginou que viesse a ter uma biografia tal como aquela de Agostinho que o tanto inspirou, então comprada pelo irmão. “O livro significa uma vida dedicada ao ciclismo, vindo de uma região, qualquer tradição da modalidade”, disse ao GoRide.

Contou como José Carlos Gomes insistiu para que a obra fosse escrita, elogiando como a escrita captou o melhor das suas muitas histórias.

Não é pessoa de se vangloriar, mas questionado se sente orgulho pelo que alcançou e pelo que os ciclistas com quem trabalhou alcançaram, não esconde que sim. Mas esse orgulho não se restringe às vitórias, mas também quando se viveram momentos difíceis e foi preciso fazer os atletas acreditarem neles próprios.

Por isso mesmo, as palavras de agradecimento de Nelson Oliveira – que não faltou apesar de estar a poucas horas de se juntar à Movistar para competir em mais uma Volta a França – durante a apresentação, acabaram por ser um dos momentos mais emocionantes e que confirmaram a marca que o selecionador nacional já deixou no ciclismo.

Mais info e aquisição do livro:

• www.guerraepaz.pt

Crédito das imagens: João Fonseca Photographer