Na penúltima batalha da 80.ª Volta a Espanha, o cenário não podia ser mais épico: a Bola del Mundo, uma montanha dura, áspera, daquelas que não perdoam. Foi lá que Jonas Vingegaard selou a vitória final, num ataque frio e certeiro a pouco mais de um quilómetro do cume, deixando para trás todos os rivais e confirmando o porquê de ser já um dos grandes da história do ciclismo.

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Mas, se o triunfo do dinamarquês parecia escrito nas pernas desde cedo, a história do dia trouxe também um protagonista português. João Almeida, incansável, comandou a ofensiva da UAE Emirates. A equipa acreditou até ao limite, endurecendo o ritmo e tentando, a todo o custo, virar o destino da Vuelta. O ciclista de A-dos-Francos respondeu com coragem, assumiu a frente a três quilómetros do alto, e fez sonhar todos aqueles que viam nele a esperança de derrubar o camisola vermelha.

O sonho, contudo, esbarrou na realidade dura do ciclismo: Vingegaard, sempre calculista, colado à roda do português, esperou o momento perfeito. Quando atacou, já ninguém teve resposta. Cruzou isolado a meta, em êxtase contido, após 165,6 quilómetros desde Robledo de Chavela, em 3:56.23 horas. Atrás dele, o esforço de Almeida pagava-se caro, mas o suficiente para garantir o segundo lugar da geral, a 1.16 minutos do bicampeão do Tour.

Na luta pelo pódio, Thomas Pidcock resistiu aos ataques de Jai Hindley e segurou o terceiro lugar, a 3.11. O australiano ficou-se pela quarta posição, a 30 segundos do britânico.

A etapa foi intensa desde o tiro de partida: a INEOS lançou a ofensiva inicial, colocando nomes sonantes na fuga — Pedersen, Ciccone, Bernal, Landa, entre outros —, mas o pelotão não permitiu veleidades. Na aproximação final, Landa e Ciccone ainda ousaram sonhar, mas sucumbiram perante a fúria dos favoritos.

Entre os prémios paralelos, a emoção também foi forte: Jay Vine assegurou a montanha pelo segundo ano consecutivo, Matthew Riccitello arrebatou a juventude na última subida, e Mads Pedersen já tinha a camisola verde bem segura.

Para Portugal, fica um feito histórico: aos 27 anos, Almeida iguala o lendário Joaquim Agostinho, repetindo a proeza de 1974 ao subir ao segundo lugar do pódio final da Vuelta. Em Madrid, no domingo, o pelotão desfilará em festa, mas para os adeptos portugueses a festa já começou: a confirmação de que o país tem em João Almeida um dos grandes voltistas da sua geração.

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Crédito da imagem: Visma-Lease a Bike Twitter

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