Tal como sucedeu quando publicámos as nossas impressões sobre a Canyon Spectral deste ano, a primeira coisa que queremos fazer agora que aqui temos a review completa à Canyon Spectral 125 CF 8 é… chamar a atenção para o vídeo acima. Se ainda não o viste, acredita que vale a pena… Modéstia a parte, claro!

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E agora uma breve “introdução” à bicicleta. A Canyon constatou que podia pegar na ágil Spectral e montar-lhe um amortecedor traseiro com menos curso, afinando depois o quadro em função disso. Fê-lo optando por 125 mm atrás, algo que até nem destoa dos 140 mm da suspensão frontal.

A ideia era tornar a bicicleta mais divertida, mais adequada para a prática do BTT na vertente trail, ao mesmo tempo que “vai buscar um pouco do que vemos em modelos de all mountain e enduro”. E torná-la mais “amiga” das descidas.

A Canyon acertou, porque a bicicleta é tudo isto. Não que a Spectral original não consiga fazer tudo isto, mas nota-se de facto alguma diferença. E tal pode ser determinante para um praticante de BTT que esteja pela primeira vez a “atacar” esta abordagem à modalidade.

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A juntar a isso, e alertando de que falamos mais em detalhe do quadro e das suspensões mais à frente, é igualmente determinante a forma como os componentes montados conseguem acompanhar o que a estrutura de base nos deixa fazer. Aqui, há uma lógica notória: para não encarecer a bicicleta, estão montados vários componentes que ficam na gama média tanto em termos de peso como de valor.

No entanto, no que toca à eficácia funcionam muito bem e não comprometem nunca. Falamos em concreto de dois pontos, ambos traduzidos por material Shimano Deore XT. Em primeiro lugar, os travões M8120…

Com discos Ice Freeza de 180 mm atrás e 203 mm à frente, nunca sentimos problemas neste campo da travagem, mesmo nas utilizações mais extremas. Travagem progressiva, mais “brusca” quando precisamos que seja dessa forma. Não é XTR, é verdade, mas em termos de performance pouco lhe deve.

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Depois, a transmissão. Também full Shimano XT e com uma configuração que até encontramos em muitas bicicletas de BTT convencional e XC, efetivamente.

Ou seja, além de notarmos um funcionamento linear e sem falhas (mais uma vez sublinhamos que acima deste patamar nas gamas Shimano apenas há o XTR, cuja performance é um pouco mais fluida, por assim dizer), as relações parecem-nos adequadas a uma bicicleta que não vai só descer, também vai subir. Ou seja, está correta a instalação de cassete 10-51t e monoprato 32t. Com 12 velocidades, claro.

Como se porta a Canyon Spectral 125?

Como antes experimentámos a Spectral na versão Mullet, agora conclui-se que, da mesma forma, a roda 29” à frente e atrás não prejudica em nada o que a bike é capaz de fazer em todos os terrenos.

A Spectral 125 curva muito bem, conseguimos puxá-la do chão como se não fosse nada e é aquele tipo de bike em que sentimos muita confiança a andar depressa. A ajudar neste campo está um sector frontal bem afinado, com um guiador ligeiramente sobreelevado e com 780 mm.

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Neste campo agradou-nos mais a posição de condução que nos é proporcionada e menos os punhos, por exemplo exemplo. Há sempre coisas que desejamos trocar, certo? Continuando a falar dos periféricos, damos crédito ao espigão telescópico de marca própria, com um funcionamento tranquilo e sendo uma “peça” fundamental neste tipo de bicicleta.

Umas das bicicletas mais divertidas em que já andámos, muito ágil, leve. Boa a descer e igualmente boa a subir.

Ao longo desta review elogiamos bastante o facto de nesta Spectral o curso do amortecedor ter sido reduzido para 125 mm, mas há algo que se constata: em zonas mais técnicas como rock gardens e zonas de buracos, sente-se ligeiramente a falta de curso.

Em compensação, a bicicleta rola muito bem nestes ambientes, defende-se perfeitamente, sendo fácil de “agarrar” e recuperar corretamente quando parece estar a “fugir”. Deixa-nos andar depressa e sem sobressaltos, algo que é fruto da agilidade que apresenta.

Experimentámos esta Spectral em todo o lado, desde trilhos mais soft a pistas de downhill, dirt jumps e até skateparks. Nos trilhos mais “tranquilos”, há diversão autêntica, pois nem damos pela velocidade… A bicicleta rola muito bem, é silenciosa e confortável.

Em pistas de downhill (e trilhos equivalentes a isso…) é onde acabamos por sentir mais no corpo a falta de curso atrás. Mas a bike consegue cumprir a missão sem problema, diga-se. Nos saltos é fácil de manobrar no ar e apontá-la para onde queremos (como se pode ver no vídeo acima…!).

Nesse sentido, também no skatepark e em alguns dirtjumps percebemos que a Canyon Spectral 125 é quase como uma bike de dirt, às tantas, pois tanto alcançamos aqueles grandes saltos como também “sacamos” manobras mais técnicas. Mas atenção: para este tipo de utilização é preciso fazer alguns ajustes como a redução da pressão de ar nos pneus, por exemplo.

Alguns destaques:

Quadro em carbono

Tal como a Canyon tem feito ultimamente neste segmento, há detalhes “deliciosos” nesta estrutura em carbono que está pensada para descer, sendo isto algo que se constata perfeitamente quando estamos a andar na bicicleta. Parece que quando chega uma descida a Spectral 125 ganha uma espécie de “vida” especial…. A subir, contudo, não vamos desconfortáveis e o sistema funciona.

A geometria, no entanto, difere um pouco do habitual e parece que “pesca” um pouco do que se conhece de bicicletas de enduro e até all mountain. Falamos de 64º no ângulo da direção, 1.230 mm de distância entre eixos, escoras com 437 mm, reach de 460 mm. Tudo isto neste tamanho M.

E repetimos o que já mencionámos no artigo de preview à Spectral 125: a bicicleta é muito versátil e muito reativa. E ainda tem aquele “toque” de personalização que às vezes dá jeito: o flip chip no quadro tem duas posições para mudar em 0,5 graus os ângulos do tubo da direção e do tubo do selim, alterando também a altura do pedaleiro em 8 mm. Isto faz com que possamos aumentar um pouco a distância ao chão quando os obstáculos do terreno assim o requerem, especialmente a subir.

‘Frente’ minimalista

Tudo muito clean e “direto”, no cockpit. Além da parte estética, isto dá-nos controlo; ou seja, sabemos que conseguimos controlar a bike da forma que imaginamos antes de cada obstáculo. Pode não ser a mais eficaz de sempre neste capítulo, mas porta-se muito bem, com uma direção muito próxima do rider e direta ao que interessa.

Os elementos que compõem este sector são todos componentes G5 da Canyon: um avanço de apenas 40 mm, para ajudar a “encurtar” o alcance, e um guiador G5 Riser  (elevado a 30 mm) com uns bons 780 mm de largura.

Uma nota para a Canyon melhorar: achámos os punhos demasiado frágeis, até porque a primeira queda foi suficiente para ficarem danificados nos bar ends.

Menos curso é melhor?

Neste caso em especial da Canyon Spectral 125, ficamos tentados a dizer que sim. A marca diz às tantas que uma da razões para criar este modelo é o facto de em trail raramente se usar todo o curso das suspensões. Ok, podemos concordar com isso, de certa forma.

Sublinhamos que a Spectral “normal”, “irmã” desta 125, é uma grande máquina. Mas também admitimos que esta Spectral 125 é um verdadeiro “parque de diversões”, e principalmente por ser incrivelmente versátil. E as suspensões são base de toda a diversão, se atentarmos bem, em conjunto com o quadro, claro.

À frente, a Fox 36 Performance Elite de 140 mm não falha e não traz surpresas. Deixa-nos arriscar sempre um pouco mais, recompensando. Atrás, amortecedor Fox Float X Performance com 125 mm apenas torna esta bike muito ágil.

Trilhos com mais buracos e regos, segmentos de downhill e rock gardens? Aqui sim sente-se (no corpo e nos braços…) a falta do curso “roubado” quando em comparação com a Spectral normal, mas o que obtemos em termos de agilidade acaba por compensar.

Rodas ‘anti tudo’!

É claro que a marca poderia ter optado por colocar nesta versão umas rodas em carbono, leves e versáteis. Mas concordamos com a opção de montar um par robusto e pronto para a ação mais “intensa” nos trilhos e noutras superfícies mais duras.

Estas DT Swiss XM 1700 garantem robustez e rígidez, rolam bem e até nem são pesadas, com cerca de 1.800 gramas no total do conjunto. Os pneus, por seu turno, não comprometem e não nos trouxeram qualquer percalço. São Maxxis, um Dissector 2.4 atrás e um Minion DHRII 3C MaxxTerra EXO à frente, também 2.4.

A nossa avaliação

Acaba por não ser fácil apontar pontos menos bons nesta bicicleta, pois, no fundo, a versatilidade está acima de tudo. E ficamos agradecidos à Canyon por isso.

Nos componentes, vence o meio termo. E isto quer dizer que equipar todo este modelo com elementos que não são topo de gama (mas que se revelam muito eficazes e fiáveis) é uma boa decisão, pois assim o preço não “trepa” muito na tabela. Um exemplo disso é a linha Shimano XT na transmissão e nos travões.

E ainda destacamos o que nos aparece na balança na hora da pesagem: uma bike assim tão versátil só funcionaria se fosse leve, isto dentro do segmento em que se insere. E a Canyon Spectral 125 CF, com cerca de 14 kgs, é leve. A “culpa” é do (bom) carbono do quadro, essencialmente.

O que mais nos agrada:

  • O conjunto quadro / suspensões (com menos curso) torna a Spectral 125 leve, versátil, divertida, ágil e muito adequada para quem pretende entrar nesta vertente mais radical do BTT.
  • O lote de componentes instalado, pois, não estando num patamar topo de gama, faz com que o preço fique abaixo dos 5.000 euros (até no mercado português), e isto sem comprometer a fiabilidade.
  • A coragem da marca em pegar num bicicleta como a Spectral e “roubar” curso às suspensões com um objetivo muito específico em mente. Pode não conseguir vender muitas unidades, mas está bem pensado em termos de conseguir agradar assim a mais um conjunto de consumidores de biccletas do género.

A melhorar:

  • Já falámos dos punhos, com elementos nas extremidades que nos parecem demasiado frágeis e fáceis de partir em caso de queda. Até porque as “pontas” do guiador são das partes que mais saem afetadas em qualquer queda de BTT.
  • Por último, aquele ponto a que fazemos sempre referência: os preços das bicicletas têm de baixar! Especialmente nestes segmentos do BTT menos praticados (face ao XC, por exemplo…). Este não é dos casos em que os preços são escandalosos, mas deixamos expressa a nossa vontade para que a Canyon continue a fazer um bom trabalho neste sentido. Porque o faz, sem dúvida.

Especificações da Canyon Spectral 125 CF 8 2022:

  • Quadro: Spectral CF 125
  • Suspensão frontal: FOX Float X Performance 125 mm
  • Amortecedor: FOX 36 Performance Elite 140 mm
  • Desviador e manípulo: Shimano Deore XT 12x
  • Corrente: Shimano M7100 12x
  • Cassete: Shimano XT, 12x 10-51t
  • Pedaleiro: Shimano XT M8120 32t
  • Guiador: Canyon G5 Riser Bar 780 mm
  • Punhos: Ergon GE1 Evo
  • Avanço: Canyon G5 Stem
  • Travões: Shimano Deore XT M8120 (discos Ice Freeza 180 mm atrás e 203 mm à frente)
  • Espigão: G5 Adjustable Dropper Post
  • Selim: Ergon SM10 Enduro Comp
  • Rodas: DT Swiss XM 1700
  • Pneus: Maxxis Minion DHRII 3C MaxxTerra EXO 2,4×29“ e Dissector 2.4″
  • Peso: 13,78 kgs anunciados pela marca (14,5 kgs na nossa balança, com pedais de gama média)
  • Preço: 4.649 euros

Mais info:

Todas as fotos (clicar/tocar para aumentar):

Galeria de pormenores (clicar/tocar para aumentar):

Neste teste:

  • Texto: Rodrigo Vicente e Jorge Lopes
  • Fotos e vídeo: Rodrigo Vicente
  • Rider: Rodrigo Vicente

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Teste GoRide.pt: Canyon Spectral Mullet CF 8 2022 [com vídeos]

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