Ciclismo e ambiente. É uma equipa que chegou à Volta a Portugal relativamente desconhecida, mas por esta altura já todos sabem o nome da Wildlife Generation Pro Cycling. Principalmente o de Scott McGill. A equipa que tenta passar uma mensagem ambiental enquanto luta por vitórias, conquistou o respeito do pelotão e quer mostrar mais esta quinta-feira, na Maia. “Mas não diga a ninguém!”.

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Matthew Rice, diretor desportivo, brincou quando questionado pelo GoRide.pt se McGill vai atrás da segunda vitória da corrida nesta sexta etapa. É impossível esconder a tática! Na Wildlife Generation reina a boa disposição e a alegria pela exibição até ao momento. Ficou a garantia que vai ser dado tudo para conquistar mais uma tirada.

A vitória em Elvas (no segundo dia) e depois, na quarta etapa, a tremenda perseguição de mais de 60 quilómetros, para tirar quase seis minutos que a fuga tinha de vantagem, arrancaram a Wildlife Generation Pro Cycling do anonimato nesta Volta a Portugal.

“Acho que ganharam muito respeito do pelotão”, considerou Matthew Rice (43 anos), sobre a performance dos seus ciclistas. Confessou que estava a ficar nervoso no carro quando a vantagem da fuga aumentava, mas sempre acreditou que era possível proporcionar mais um final ao sprint.

Estou tão feliz por ele e pela equipa. O Scott McGill é tão boa pessoa, traz boa energia.

McGill acabou por ser segundo, pela segunda vez. Ninguém desanimou. Só se pensa em tentar de novo.

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“Era muito… Seis minutos em 60 quilómetros… Sabíamos que na marca dos 100 quilómetros tínhamos de fazer alguma coisa. Tínhamos perdido o Noah Granigan por problemas no ombro dois dias antes e não podíamos ir para a fuga todo o dia. Por isso, planeámos ficar no pelotão com o Scott, para lhe dar a melhor oportunidade. Claramente ele é um dos mais rápidos aqui”, explicou.

A merecida vitória

Vencer em Elvas foi um grande momento não só para a equipa. Rice é perentório em salientar o quanto McGill merecia o triunfo.

“Foi fantástico! Não só para a equipa, mas pessoalmente para ele. É novo na equipa e tem andado perto das vitórias, tem sido muito consistente o ano todo, top cincos, mas conseguir a vitória… Estou tão feliz por ele e pela equipa. O Scott McGill é tão boa pessoa, traz boa energia. Estou muito feliz por ele”, disse.

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Sendo o segundo dia de prova, o triunfo em Elvas serviu como cartão de apresentação de uma equipa que se apresenta na Volta como muito low budget.

Matthew Rice referiu que na base da estrutura, nos Estados Unidos, a formação dispõe de todas das infraestruturas de uma equipa Continental. Porém, viajar para a Europa é caro, pelo que é preciso adaptar-se.

Podemos não parecer a equipa mais profissional aqui, mas quando estamos na bicicleta, deixamos as nossas pernas ‘falarem’.

Quando se chega ao local onde a equipa tinha estacionado, encontra-se a carrinha, sem qualquer publicidade, onde o staff vai preparando os bidões. À sombra é montada uma mesa onde está tudo o que é preciso para a alimentação durante a etapa.

Simples, mas sem que falte nada aos ciclistas.

“É um desporto caro. Através dos nossos conhecimentos na Roménia alugámos aquela carrinha, viajámos com tudo nela. Alugámos o carro à Glassdrive. Podemos não parecer a equipa mais profissional aqui, mas quando estamos na bicicleta deixamos as nossas pernas ‘falarem'”, salientou.

O desejo de estar na Volta a Portugal

E as pernas têm ‘falado’ muito. Há que realçar que está é uma equipa que inscreveu apenas seis ciclistas, menos um do que o máximo permitido e que já só tem cinco em prova.

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No entanto, Rice destacou como o objetivo passa por aproveitar este convite para a Volta a Portugal, um desejo no início da temporada.

“Estou feliz por estar em Portugal. É um país fantástico. Era uma das corridas que tínhamos marcado no início do ano. Acreditávamos que a equipa tinha capacidade para competir nela. Ficámos muito agradecidos por receber o convite e de estar aqui a competir. Esperemos que se repita noutros anos.”

O lado ambiental

Este é um projeto que vai além do ciclismo. O nome assim indica. A ligação ao ambiente é real e não só se tenta passar uma mensagem, como a equipa junta-se a iniciativas de limpeza do ambiente e tenta dar um exemplo positivo, até durante as corridas.

Este ano fizemos muitas limpezas de praia, limpámos trilhos de bicicleta… As pessoas deixam lixo em todo o lado.

“O que defendemos, a mensagem que queremos passar, é que todos aproveitem o ar livre, que desfrutem de tudo. No entanto, quando saímos de casa, conduzimos o nosso carro, deixamos uma pegada no ambiente. Se conseguirmos mitigar essa pegada, quando se está a acampar, a caminhar, a andar de bicicleta, a pescar… Tudo o que se leva, plásticos, por exemplo, levamos de volta e protegemos o ambiente.”

Matthew Rice frisou como a Wildlife Generation Pro Cycling não se limita a tentar passar a mensagem. Passa à ação: “Este ano fizemos muitas limpezas de praia, limpámos trilhos de bicicleta… As pessoas deixam lixo em todo o lado. Agora todos usam as máscaras por causa da covid e em vez de as levarem, deitam-nas para o chão. Fazemos muitas limpezas de apanhar máscaras.”

Foto: Wildlife Generation Pro Cycling (Facebook)

Mostra-se consciente que são pequenos gestos, é certo, mas pelo menos diz ser algo que é feito para ajudar.

Nas corridas, Rice referiu como há o cuidado de não deitar bidões fora, a não ser que seja para dar aos fãs. Nada de atirar para campos sem ninguém: “Temos muita consciência do que temos de fazer. Representamos esta marca, esta imagem e tentamos fazer o melhor que podemos para passar esta mensagem.”

Considerou ainda que o ciclismo em geral está a melhorar na questão de proteger o ambiente, exemplificando com a criação das zonas verdes, locais onde os ciclistas podem atirar o lixo para o chão, sendo depois recolhido pela organização das provas. Fora desses locais é agora proibido fazê-lo.

Empatia pelos ciclistas

Matthew Rice também foi ciclista. “Eu era bom em tudo, mas excelente em nada! Nos sprints ficava no top 10, nos contrarrelógios top 15, nas subidas fazia dois quilómetros e ficava para trás”, recordou muito bem disposto.

Além da experiência, houve mais que transpôs para a sua carreira como diretor desportivo: empatia! “É um desporto muito duro. Acho que o que trago à equipa é muita empatia de como geri-la. É preciso ter empatia pelos ciclistas.”

Acredito totalmente que podem ir longe! Nós somos um passo na carreira deles. Para alguns. Outros voltam [ao escalão Continental] para alcançar resultados depois de correrem grandes provas.

 

Esta Wildlife Generation, do escalão Continental, é a herdeira da Jelly Belly p/b Maxxis, cujos equipamentos eram muito populares. Ou seja, há muito que faz parte da realidade do ciclismo americano.

Entre dar oportunidades aos mais jovens e dar novo foco na carreira a ciclistas que já estiveram em escalões mais altos, a ambição está em conquistar resultados, esperando que possa também servir de trampolim para outros voos para corredores como Scott McGill.

“Acredito totalmente que podem ir longe! Nós somos um passo na carreira deles. Para alguns. Outros voltam [ao escalão Continental] para alcançar resultados depois de correrem grandes provas.

Serghei Tvetcov correu um Giro, mas os jovens, há tantos, e poder dar-lhes a oportunidade de competirem, de estar neste tipo de corridas é excelente. Há tantas no mundo e não podemos fazer todas.

Temos de escolher as que queremos fazer e a Volta a Portugal estava na nossa lista de desejos. Por isso, a vitória não poderia ter chegado em melhor altura para o Scott e para a equipa. Ele tem a ambição de ir mais longe. Esperemos que consiga”, referiu.

A equipa já soma vitórias em 2022, e Matthew Rice recordou como no ano passado o romeno Tvetcov – que não está em Portugal – foi segundo na Volta à Roménia e Alex Hoehn terceiro na do Ruanda.

“Nós somos do escalão Continental, mas competimos a nível mundial. Temos os resultados para comprovar isso mesmo. Nós temos a consciência que os patrocinadores querem ser associados com um projeto ganhador, um projeto que tenha significado. Se não se está a ganhar e se se está a acabar sempre entre os últimos, não será bom para esse patrocinadores”, disse.

Vencer mais uma etapa na Volta a Portugal e lutar pela camisola verde dos pontos é uma forma de mostrar a força da equipa. McGill está numa luta muito particular com João Matias (Tavfer-Mortágua-Ovos Matinados).

Hoje a Maia espera por num novo duelo: “Claramente ele é um dos mais fortes aqui. Há três ou quatro sprinters ao mesmo nível. O Scott tem confiança para sprintar com os melhores. Já fez dois segundos, não é grande coisa, por isso, vamos dar tudo amanhã. Mas não diga nada a ninguém!”


Fotografia principal: Elisabete Silva/GoRide.pt

Restantes fotografias: Agnelo Quelhas e Fernando Correia/Podium Events

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