Um dossiê, a sua palavra e um desejo. Foi assim que começou o projeto que José Azevedo leva para a estrada em 2022, com a ambição de o tornar cada vez maior e assim ajudar o ciclista e o ciclismo português a evoluir, olhando não só para cá, mas também para uma vertente muito internacional.

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Quando durante a época 2021 Azevedo anunciou que estava a preparar uma nova equipa portuguesa, criou-se uma enorme expectativa perante o regresso de uma das referências do ciclismo, tanto como corredor, como depois como diretor desportivo e até responsável máximo de uma equipa World Tour (Katusha).

José Azevedo

Todas as imagens © João Fonseca Photographer

A Efapel Cycling está preparada para ir para a estrada, com uma mentalidade à imagem de José Azevedo e com uma componente fortemente portuguesa, seja nos ciclistas, como também nas marcas que apoiam o projeto, também elas maioritariamente lusas.

Nós em Portugal tínhamos muitos ciclistas com enorme capacidade e faltava-lhes oportunidades. Aqueles que tinham oportunidades de sair e ir para uma equipa internacional conseguiam fazer uma carreira e demonstrar o seu valor.

“Esta equipa foi uma ambição, um desejo pessoal. Eu estava fora de Portugal há cerca de 20 anos. O que eu senti nestes anos todos, em que fui adquirindo experiência, conhecimentos, é que nós em Portugal tínhamos muitos ciclistas com enorme capacidade e faltava-lhes oportunidades. Aqueles que tinham oportunidades de sair e ir para uma equipa internacional conseguiam fazer uma carreira e demonstrar o seu valor”, explicou ao GoRide.pt.

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“O que me levou a este desejo de ter esta equipa foi precisamente esse. Foi com os conhecimentos e com a experiência que adquiri, trabalhando em algumas das melhores equipas do mundo, com alguns dos melhores diretores, managers e também ciclistas, dizer como é que eu poderia fazer para ajudar o ciclismo português a evoluir”.

José Azevedo e o ciclista Rafael Silva.

Todas as imagens © João Fonseca Photographer

“Foi esse desejo, de tentar criar uma estrutura em que eu pudesse aplicar essa experiência, esse conhecimento, criando condições que pudesse dar aos ciclistas para que eles evoluíssem, crescessem e para que nós portugueses também podermos demonstrar que temos capacidade e valor para fazer coisas boas e bem feitas”, acrescentou.

José Azevedo rapidamente ressalva que não quer “pôr em causa os outros projetos, respeitando sempre ao máximo os outros projetos portugueses”, salientando que o que mais quer é que o seja “mais um para ajudar o ciclismo português a crescer e a evoluir”.

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“Não é esta equipa que vem revolucionar o ciclismo. Não estou a querer dizer que os outros fazem mal. A minha forma poderá ser diferente em muitos aspetos, mas eu sou mais um a juntar-me ao que já existe e espero que possa contribuir para essa progressão e que os nossos corredores e o nosso ciclismo continuem a evoluir”, disse.

Começar do zero

Não foi fácil concretizar o sonho de montar uma estrutura ambiciosa do zero, mas um dossiê e a sua palavra acabaram por convencer várias empresas a tornarem-se parceiras, com destaque para a Efapel: “Na altura não tinha nada para mostrar. Simplesmente era um dossiê e a minha palavra que poderia dar (ou não) alguma garantia. Simplesmente isso. Felizmente que houve empresas que se interessaram”.

Há muitos anos ligada a outro projeto, o anúncio que a Efapel seria o patrocinador principal da formação de Azevedo acabou por ser uma surpresa. No entanto, o responsável garantiu que a empresa estava livre e que não houve qualquer desvio de patrocínios.

Era simplesmente um dossiê, umas folhas, um dossiê no computador, em powerpoint… Era o que eu tinha para lhe mostrar. Tenho de estar agradecido a todos os patrocinadores que se quiseram juntar ao projeto.

José Azevedo explicou o processo: “Houve uma situação em que eu me encontrei com o Engenheiro Américo Duarte e nesse almoço falámos de ciclismo. Eu disse a ideia que tinha de futuro, o meu desejo. Foi-me comunicado que a Efapel para 2022 estava livre do contrato que tinha anteriormente e houve um interesse em conhecer o dossiê. Eu depois apresentei-o, noutra reunião. A partir dessa reunião de apresentação houve um interesse por parte da Efapel que levou a que fizessemos um acordo, em que a empresa decidiu associar-se a este projeto do Clube Ciclismo Kyklos Sport”.

José Azevedo e o Eng. Américo Duarte.

Todas as imagens © João Fonseca Photographer

O diretor da equipa não esconde o profundo agradecimento ao responsável da Efapel, assim como a todos os outros parceiros que acreditaram em si: “O Engenheiro Américo Duarte apostou em algo que não viu. Era simplesmente um dossiê, umas folhas, um dossiê no computador, em Powerpoint… Era o que eu tinha para lhe mostrar. Tenho de estar agradecido a todos os patrocinadores que se quiseram juntar ao projeto, pela confiança que tiveram, pelo acreditar em mim. E espero agora não os defraudar”.

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Quando recebeu a resposta positiva para arrancar com a equipa – e a Efapel comprometeu-se para os próximos três anos –, começou o trabalho de criar uma estrutura de raiz, que quer levar o ciclista português ao profissionalismo e ao mais alto nível, mas tendo como base uma formação sólida que o torne competitivo. “Foi criado tudo isto no espaço de seis meses, sensivelmente. E hoje quando eu vejo a estrutura que conseguimos ter, que existe, sinto-me satisfeito, mas sempre agradecido àqueles que apostaram [em nós]”, reiterou.

Os objetivos a curto e médio prazo

A Efapel Cycling começa no escalão Continental (o terceiro), mas José Azevedo nunca fez segredo que é para subir. Quando possível a ProTeam (segundo), mas será que o World Tour está nos planos?

“Até onde pode esta equipa crescer? É difícil de responder. Eu já trabalhei em equipas World Tour, fui diretor geral de uma equipa desse escalão que tinha um orçamento de milhões… Eu sei o que é necessário, os mínimos, para estar num escalão Pro Continental [segundo] e no World Tour”.

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“Sei também o que é necessário para se ser competitivo nesses escalões. Porque há o mínimo para estar presente e o mínimo para se ser competitivo em ambos os escalões. Eu tenho essa experiência, esse conhecimento. Isso para mim não é algo novo. Agora onde pode este projeto crescer? São os investimentos, os orçamentos que fazem os projetos subir de categoria ou não”, respondeu.

A ambição é, para já, “dignificar o patrocinador, sermos competitivos e crescer, evoluir, ano após ano. Depois será o tempo que dirá onde esta equipa irá chegar”.

A nossa mentalidade é sermos competitivos, sempre trabalhando de uma forma afincada, dando o máximo e respeitando as regras do ciclismo.

Está então criada a base e apesar de ser o primeiro ano, José Azevedo nem quer ouvir falar que a pressão é menor para apresentar resultados. Para o responsável a ambição é crescer e vencer, logo desde o primeiro dia.

“A pressão é a responsabilidade que nós temos de trabalhar diariamente, sejam os ciclistas, seja eu, o responsável máximo pela equipa, o mecânico, o massagista, qualquer pessoa que aqui está. A responsabilidade é de dar diariamente o seu máximo e o seu melhor. Essa é a responsabilidade que nós temos. Isso tem de existir sempre”, afirmou.

E acrescentou: “Não é por ser o nosso primeiro ano que iremos ter desculpa, nem eu quero que essa seja a mentalidade do grupo. A nossa mentalidade é sermos competitivos, sempre trabalhando de uma forma afincada, dando o máximo e respeitando as regras do ciclismo”.

Ficou assim a garantia que na Efapel Cycling o objetivo é ser sempre competitiva, “lutar sempre pelo melhor resultado possível, correr de uma forma respeitando todas as regras e as éticas desportivas e do ciclismo, éticas a nível de controlo antidoping, ver estes ciclistas evoluirem, manterem uma imagem forte, digna e respeitosa”. “Isto é a base. Será sempre a base”, frisou Azevedo, que adiantou que, a médio prazo, o objetivo passa por “ver esta equipa crescer”.

O ciclismo português e a possível influência de Azevedo

Em Portugal estão alguns dos diretores mais experientes do ciclismo, com muitos e muitos anos na modalidade. A experiência e sucesso internacional de José Azevedo, tanto como ciclista, como diretor – neste caso, um dos destaques foi a vitória na Volta a Espanha, em 2013, com Chris Horner –, faz com que traga outro olhar para o ciclismo nacional.

“Tenho a minha forma de pensar, tenho a minha filosofia daquilo que é o ciclismo, daquilo que deve ser uma equipa de ciclismo. E é esta equipa pela qual sou responsável, irá guiar-se por esses meus ideais, por essa minha filosofia”, disse.

É notório o número de aumento de competições, isso é de algo muito importante e uma mais-valia para as equipas.

Não consegue dizer como poderá influenciar o ciclismo português, reiterando que respeita todos os diretores que por cá trabalham e que quer ser mais um a ajudar na evolução da modalidade em Portugal.

E, sobre este crescimento, Azevedo considera que, em parte, “há que dar o mérito à Federação, que tem feito um bom trabalho nos últimos anos”. “É notório o número de aumento de competições, isso é algo muito importante e uma mais-valia para as equipas. Haver mais corridas e provas por etapas, isso faz com que haja evolução”, referiu.

Todas as imagens © João Fonseca Photographer

Destaca não só as tradicionais Volta ao Algarve, a Portugal, ao Alentejo, o Grande Prémio Joaquim Agostinho, assim como a reformulação do Grande Prémio Jornal de Notícias, mas também vê a importância de provas mais recentes estarem a consolidar-se no calendário e a ganhar prestígio, casos das clássicas da Arrábida e Aldeias do Xisto e agora, mais recentemente, o Grande Prémio Douro Internacional.

“Todo esse aumento no número de competições e tornando estas provas com uma dimensão maior, nota-se que começa a atrair mais a comunicação social e nós vemos isso. O ciclismo vive dos patrocínios e, para nós, a comunicação social, a exposição da marca é o nosso fator chave. A criação de mais provas ajuda a modalidade e, logicamente, os atletas. Só competindo é que eles evoluem”, realçou.

Tudo pronto para começar a competir

A semana passada foi feito o último estágio na região da Covilhã e José Azevedo garantiu que está tudo preparado para começar a competir já este domingo, na Prova de Abertura Região de Aveiro, seguindo de imediato para a Volta ao Algarve, que arranca na quarta-feira.

“Da nossa parte está tudo estruturado. Estão reunidas todas as condições em todos os aspetos, a nível da logística e também a nível desportivo para iniciarmos o ano. Todos estamos ansiosos e com vontade. Além de ser o início de época, quando existe sempre esse desejo, este sentimento, o facto de ser um projeto novo, no qual todos os elementos estão super motivados, faz com que haja uma contagem praticamente diária, esperando que a época se inicie e comecemos a competir.”


A 2ª parte desta entrevista será publicada aqui em GoRide.pt amanhã, 11 de Fevereiro de 2022.


Todas as imagens © João Fonseca Photographer


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