“O coração que desenhei com as mãos era por Oumi, a minha mulher. Esta vitória é para ela”, revelou Remco Evenepoel no final da etapa 18 da Vuelta. O belga voltou ontem a lançar-se na fuga do dia e ao seu estilo foi eliminando aos adversários, um a um, na montanha para concluir a tirada com quase cinco minutos de vantagem sobre o segundo classificado, o trepador italiano Damiano Caruso (Bahrain).

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“Senti que era o mais forte do grupo, não devia perder tempo e só tinha de continuar. As pernas estavam super boas, um pouco como na 14.ª etapa. Foi novamente uma etapa incrível. Queria correr atrás dos pontos para a minha camisola [da montanha], conquistei todos e depois conquistei a terceira vitória em etapas, é incrível terminar a Vuelta assim”, declarou o corredor de 23 anos.

Remco Evenepoel falhou o objetivo principal que se propôs nesta edição da Volta a Espanha, ainda que pecando por algum conservadorismo antagónico com a personalidade e o espírito competitivo do campeão belga.

Depois de ter vencido na sua estreia nesta corrida, em 2022, o jovem ciclista da Soudal-Quick Step repetiu a presença com a pretensão de subir ao pódio final – ainda que sem dizer a que degrau – e ainda vencer duas etapas. E fracassou.

Um desfalecimento clamoroso na jornada rainha (13.ª), que terminou em França no mítico Tourmalet, deitou-lhe tudo a perder na classificação geral. Adeus, sonho do bis da camisola vermelha, adeus pódio…

O que restava então ao campeão mundial de contrarrelógio de 2023 que acrescentasse a uma vitória em etapa entretanto conquistada, logo ao terceiro dia, em Andorra? O que melhor sabe fazer em cima da bicicleta: correr para ganhar, continuar a ganhar, quanto mais melhor.

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Foi essa a nova meta do prodígio de 23 anos imediatamente a seguir ao pior desempenho da sua carreira. À primeira oportunidade aventurou-se numa fuga madrugadora na etapa de montanha com final em Belagua (14.ª) e rubricou uma das melhores exibições que lhe vimos, para vencer isolado, atingindo desde logo a segunda parte do objetivo original, que era um só.

Remco somava a segunda vitória depois de falhar a do contrarrelógio (10.ª), batido pelo italiano Filippo Ganna (Ineos Grenadiers). Mas ainda escasso pecúlio para quem estava relegado das posições cimeiras da geral.

Em consequência das longas cruzadas em montanha deparou-se-lhe outra conquista: a da classificação do melhor trepador, cujo símbolo é a camisola às bolinhas azuis.

Não a enjeitou e já ontem garantiu que a vestirá no pódio final em Madrid no próximo domingo, ao culminar mais um raide triunfal pelas subidas desta Vuelta que lhe proporcionou a terceira vitória nesta edição, superando as duas do dinamarquês Jonas Vingegaard e do esloveno Primoz Roglic (Jumbo-Visma) e do australiano Kaden Groves (Alpecin).

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“Depois do meu dia mau no Formigal e no Tourmalet, tive de virar a página e procurar vencer etapas. Ganhei três das mais bonitas desta Vuelta e conquistei a camisola da montanha. Para a classificação geral não consegui, mas creio que podemos ficar muito orgulhosos. Termino com boas sensações e as pernas mostram que continuo a melhorar, só tive um dia mau, na segunda semana”, explicou Evenepoel.

De permeio, Remco tentou mais dois êxitos parciais e perdeu-os. Na quarta-feira, na etapa do Angliru (17.ª), rumava isolado para a chegada quando foi alcançado nas rudes rampas da terrível subida asturiana, e no dia em que venceu Rui Costa (Intermarché-Wanty). O português deixou-o para trás antes de derrotar ao sprint o alemão Lennard Kamna (Bora-Hansgrohe) e o colombiano Santiago Buitrago (Bahrain) na chegada a Lekunberri (15.ª).

Remco Evenepoel pode não sair desta Vuelta satisfeito com o seu resultado, mas ninguém poderá acusá-lo de falta de ambição se porventura disser o contrário. E no sábado há etapa, a penúltima, que lhe encaixa na perfeição. Desde já, não arriscamos demasiado se afirmarmos que o belga já estará a pensar no tetra.

Sepp Kuss só perde se… falhar              

O norte-americano Sepp Kuss (Jumbo-Visma) deu uma pedalada de gigante para vencer a Volta a Espanha, na primeira etapa em que foi, enfim, indiscutível o apoio dos companheiros de equipa Jonas Vingegaard e Primoz Roglic à sua liderança.

No caso do dinamarquês, vencedor do Tour em 2022 e 2023, a predispor-se a impor um ritmo desencorajador de ataques no grupo principal e perdeu nove segundos na meta, passando a ter 17 de atraso para o líder.

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Uma cedência estratégica de Vingegaard, para prevenir que possa ganhar mesmo sem querer a Vuelta, se Kuss tiver um dia mau na etapa da Serra de Guadarrama no sábado, que resulta de uma decisão interna na Jumbo-Visma, aceite comumente, apesar de Roglic ter reconhecido “sentimentos mistos”.

Kuss, todavia, ainda não se sente vencedor. «A Vuelta só acaba no domingo em Madrid, ainda falta a etapa de sábado com dez contagens de montanha, vamos continuar a lutar para sermos os melhores», declarou o corredor, de 29 anos completados na quarta-feira.

«Sou mais altruísta do que competidor por vitórias a todo o custo. Agora percebo que para vencer é preciso ter instinto assassino [killer instinct]. Refiro-me a Roglic e Vingegaard, que são os melhores e mais fortes companheiros que poderia ter», acrescentou o camisola vermelha.

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Vuelta 2023 – etapa 18: Remco Evenepoel conquista a terceira [com vídeos]

Imagens: La Vuelta e Soudal-Quick Step

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