Lisboa foi palco de mais um dia em grande do russo Artem Nych (Anicolor-Tien21), que se sagrou este domingo vencedor da Volta a Portugal… pelo segundo ano consecutivo. O corredor de 30 anos confirmou o triunfo no contrarrelógio final, de 16,7 quilómetros, ao ser segundo classificado, apenas batido pelo companheiro de equipa Rafael Reis.

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Nych inscreve-se na restrita lista de ‘bicampeões’ da prova rainha do calendário nacional, mostrando enorme consistência. O francês Alexis Guérin, também da Anicolor-Tien21, fechou em segundo lugar da geral, a 1.15 minutos, num pódio completado pelo sul-africano Byron Munton (Feirense-Beeceler), que conseguiu ultrapassar o colombiano Jesús Peña (AP Hotels&Resorts-Tavira-Farense) no esforço individual de Lisboa e garantiu o terceiro posto, a 1.51.

Se Nych foi o herói da classificação geral, Rafael Reis brilhou novamente no relógio. Já tinha aberto a corrida com vitória no prólogo e voltou a vencer na despedida, parando o cronómetro com o melhor registo do dia. O português deixou o colega russo a 16 segundos e o norte-americano Tyler Stites (Caja Rural-Seguros RGA) a 28.

Um desfecho que confirma o domínio da Anicolor-Tien21 nesta edição da Volta e que reforça a ligação de Nych a Portugal, país onde já começa a ser visto como um habitual no lugar mais alto do pódio.

Do exílio com mochila às costas ao trono da Volta

Fugiu da guerra com pouco mais do que uma mochila às costas. Este domingo, venceu pela segunda vez consecutiva a Volta a Portugal. Artem Nych, o gigante russo de 1,95 metros que encontrou em Santa Maria da Feira o seu porto de abrigo, tornou-se bicampeão da Volta a Portugal, depois de ter repetido o triunfo alcançado em 2024.

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“Estou feliz por ter conseguido vencer o ano passado, já me deixou mais tranquilo. Sinto que já não tenho pressão para ganhar, porque já ganhei uma vez”, disse antes da partida desta edição. Essa tranquilidade foi a sua arma: impassível na estrada, sorridente fora dela, dominou a geral desde a quarta etapa até à consagração final.

O contraste é gritante. Fora das provas, é um homem introvertido, ainda a perder a timidez da língua portuguesa. “As duas primeiras entrevistas foram mais difíceis do que subir a Torre”, confessou entre risos, ecoando a comparação lançada pelo seu diretor desportivo, Rúben Pereira. Agora, garante: “É top!”.

A história de Nych é feita de resistência. Campeão nacional de fundo em 2021, viu a sua carreira desabar com a extinção da Gazprom-RusVelo, consequência da invasão russa à Ucrânia. Sem equipa, sem rumo, foi resgatado pela então Glassdrive-Q8-Anicolor. Portugal deu-lhe um contrato, uma casa e uma nova vida. Ele respondeu com aquilo que sabe: pedalar até ao topo.

Atrás ficou um passado de fraturas pessoais. De relações cortadas com o pai, apoiante de Putin e da guerra, Nych só mantém o contacto com a mãe e a irmã, que deixou na Rússia e nunca mais viu. Da Sibéria ao Minho, passando pela Bielorrússia, Cazaquistão e Turquia, transportou-se sempre no fio da incerteza até se fixar na Feira.

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Hoje, quando cruzou a meta, já não é só o russo que venceu a Volta. É o corredor que Portugal adotou e que devolve em força, pedal e gargalhadas largas o acolhimento recebido. Um campeão frio na estrada, mas de coração aberto fora dela — e agora senhor absoluto da prova-rainha do ciclismo nacional.

Classificações

Crédito da imagem: Volta a Portugal Facebook 

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