Ao vermos a Trek E-Caliber 9.9 a passar, fica a dúvida: será ou não uma e-bike de BTT? Os mais distraídos (ou os menos interessados) não darão pela diferença, já que todo este conceito se assemelha a uma bicicleta de suspensão total “normal”. Mas quem percebe destas “andanças” vai identificar este modelo na hora. Vejamos tudo sobre esta e-BTT da Trek, repleta de inovação.

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Antes disso, uma nota especial para o vídeo que acompanha esta nossa review. Durante os nossos testes à Trek E-Caliber 9.9 demos várias voltas pela Serra de Montejunto; numa delas visitámos o nosso amigo youtuber O Ciclista Improvável, o que deu origem a esta bela produção em vídeo sobre a e-bike da Trek. Vale a pena espreitar, até porque este é um dos vários vídeos que contamos fazer no âmbito desta “parceria”!

Agora, olhemos para a Trek E-Caliber 9.9 XTR ao pormenor. E a começar pelo peso. De facto, uma e-bike de BTT a rondar os 16 kgs é algo excecional, como até já vimos noutras marcas. Neste caso, o peso pode descer ainda mais. Mas já lá vamos…

Se pensas que não tens de pedalar forte com uma e-bike, com esta e-bike, estás profundamente enganado.

Sendo uma bicicleta destinada a XC, bastante dinâmica, o sistema de assistência à pedalada está perfeitamente indexado ao ritmo que imprimes à bike.

Mas e se te dissermos que uma grande parte dos muitos kms que fizemos com a Trek E-Caliber 9.9 XTR foi com o motor desligado…? Observa-se à primeira vista que esta bicicleta quase não parece uma e-bike, pois o motor ocupa um espaço mínimo, é muito compacto, e está muito bem integrado no quadro.

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No guiador também não está instalado qualquer ecrã de controlo do sistema elétrico (ao contrário do que muitos preferem…), pois a ideia é minimizar as coisas neste ponto e retirar ainda mais uns gramas.

Existe apenas um pequeno manípulo, o Fazua bX, que serve para ligar o sistema e alternar entre os três modos elétricos.

Por outro lado, ao contrário de muitas e-bikes neste segmento (que apresentam suspensões com cursos de 140 ou 150 mm), aqui a otimização tem em vista o XC e as voltas de BTT mais convencionais. Isto além de um claro trabalho na tentativa de prolongar a duração da bateria neste tipo de utilização.

Neste ponto, a E-Caliber não surpreende, com uma bateria de 250Wh e uma autonomia em modo contínuo que pode chegar a um total de 70 kms. A respetiva assistência à pedalada vai até aos 25 km/hora, a partir daí “corta”. Mas é um facto que não se sente aquele “soluço” típico, acaba por haver fluidez na forma como se dá o processo, de certa forma.

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Sejamos objetivos: esta E-Caliber 9.9 XTR não foi feita para descer e subir serras com grandes drops e rampas, foi sim concebida para outro tipo de adrenalina, aquele que nos mete literalmente andar para a frente, sem horas para chegar a casa. Isto torna a bicicleta rápida, fluida, equilibrada na forma como “entrega” energia elétrica à medida que pedalamos.

Relembramos que a base desta estrutura e geometria é a Trek Supercaliber, uma suspensão total diferente e nascida nas duras provas do campeonato do mundo de XC. À distância, as duas bikes parecem gémeas, só que uma é mais “gorda” que a outra, algo visível no downtube onde está alojada a bateria. Ou não…

‘Substituir’ a bateria

Esta é uma particularidade bastante interessante. Com a E-Caliber vem de origem uma tampa em plástico com a forma da bateria e que serve para ocupar o espaço desta sempre que desejarmos usar a bike como uma suspensão total convencional, sem assistência elétrica.

Nestas situações o motor Fazua Evation continua lá, claro, mas quase não sentimos a sua presença, nem há atrito. O peso total da E-Caliber assim com a tampa no lugar da bateria passa a estar entre os 13 e os 14 kgs.

Na dianteira está uma Fox Factory 34 Step-Cast de 120 mm, com uma leitura de terreno adequada e com uma completa ausência de torções.

O referido motor pesa 4,6 kg e o quadro em carbono de topo da Trek, bem como a gama Shimano XTR (e vários componentes Bontrager), ajudam a manter o peso reduzido.

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Nova aposta no IsoStrut

Esta E-Caliber apresenta o mesmo sistema de amortecimento que conhecemos da Supercaliber, a icónica e exclusiva suspensão traseira IsoStrut, com apenas 60 mm de curso.

Já por aqui falámos bastante deste sistema, por isso deixamos clara a maior vantagem: garante o controlo e a tração que se sente numa hardtail de topo, praticamente.

O amortecedor faz parte integrante da estrutura do quadro e “invade” o toptube, ocupando pouco espaço e dando à geometria uma dinâmica direta às escoras. Estas, assim, dispensam o pivô traseiro inferior. Resulta.

Dinamicamente…

Já conhecíamos a dinâmica da Supercaliber, mas agora o desafio era verificar como se comporta esta plataforma quando está presente um motor, uma bateria, um sistema elétrico de assistência à pedalada.

Conseguimos colocar a bike onde queremos, é leve e incisiva. Quando pedalamos não existe perda na pedalada. O manípulo que liga e aciona o modo elétrico é discreto e de qualidade. Um botão central para ligar e desligar, dois para seleção. E quando ligamos o botãozinho mágico…

Mesmo em terrenos complicados é fácil metê-la às costas, inclusive.

Quando ligado, o sistema mostra LEDs a branco. Ao encostarmos o dedo acima ou abaixo do botão principal, através de uma tecnologia tipo soft touch, alternamos entre os três modos de assistência. 

Divertimo-nos à séria em todos os modos e não é necessário recorrermos ao Rocket para treparmos por singletracks acima com extrema facilidade, dado que a bike é muito leve.

Há fluidez total na transição entre modos,  algo que o sistema Fazua melhora com a atualização do software Black Pepper, que dá apoio ao sistema. Com este podemos mesmo personalizar o funcionamento de acordo com o nosso gosto pessoal.

Estes ajustes são funcionais o suficiente para metermos o motor a reagir de forma imediata a partir do momento em que colocamos força nos cranks.

Bem equipada com Shimano XTR

Com a gama de transmissão e travões XTR por perto, não há muito a dizer, pois a Shimano já nos habituou a um elevado desempenho neste grupo de topo. Somos fãs da eficiência dos travões XTR, sempre com um tacto irrepreensível e um desempenho em bom nível mesmo em descidas técnicas e mais exigentes.

As relações da transmissão 10-51t da cassete e o pedaleiro de 32 dentes (12 velocidades) revelam andamentos perfeitamente ajustados face aos diferentes cenários em que experimentámos a bike. O grupo de transmissão está adequada à faceta elétrica da bicicleta, adicionalmente.

Por fim, sublinhamos as boas sensações transmitidas pelas rodas Kovee XXX Boost TLR, as topo de gama de carbono da Bontrager. Uma roda com um peso inferior a 1.300 gramas e oriunda dos palcos de competição XC.

Com cubos DT Swiss 240, 54 dentes e 29 mm de largura interna, prometem durabilidade e permitem utilizar pressões mais baixas, para obter mais tração. Estas rodas estão cobertas pelo programa de fidelidade Bontrager: caso se danifiquem nos dois primeiros anos, a marca repara-as ou substitui-as gratuitamente. Claramente uma mais-valia.

Alguns destaques:

Cockpit ‘leve’

Avanço urto o suficiente para dar reatividade, guiador largo o suficiente para dar controlo. Componentes Bontrager em carbono, robustos e leves.

Peso sem bateria

A nossa balança mostrou 13,41 kgs com a tampa colocada no lugar onde se instala a bateria.

Comando Fazua bX

Muito responsivo, bastam leves toques para alternar entre estes três modos de assistência à pedalada:

  • Modo Breeze: fornece 100 watts de assistência, com LEDs a verde.
  • Modo River: fornece 210 watts, com LEDs a azul.
  • Modo Rocket: fornece 250 watts, com LEDs a vermelho.

Por e tirar a bateria!

Pormenor que mostra como podemos retirar a bateria e instalar a tampa de plástico. Enquanto a bateria, recarrega, porque não ir dar uma volta na mesma?

XTR e escoras sem pivô traseiro inferior

Esta imagem mostra o desviador de 12x XTR que centraliza o funcionamento da transmissão e ainda mostra que não há pivôs ao fundo das escoras.

A nossa avaliação

A Trek E-Caliber 9.9 XTR está no lote das bikes ideais para os utilizadores mais endinheirados que procuram explorar ao máximo (e a ritmos mais elevados) os melhores percursos de XC.

Enquanto bicicleta elétrica de BTT, admitimos que se trata de um modelo que quebra barreiras e inova bastante, tudo por causa do conceito de remoção da bateria e respetiva substituição pela tampa do downtube. Isto para podermos usars a E-Caliber como uma bike de suspensão total convencional.

É a única do mercado a permitir fazer isto, pelo menos por enquanto. Além disso, há uma integração perfeita e não invasiva do motor Fazua no quadro.

De uma forma ou de outra, estão aqui reunidos todos os “trunfos” da Trek nas bikes de BTT, dando origem a uma bicicleta equilibrada a todos os níveis, muito rápida, muito ágil e na qual dá gosto dar cada pedalada. Recomendada!

Pontos mais positivos

  • O peso reduzido, ainda para mais sendo uma e-BTT. Basicamente, é mais um modelo a abrir caminho para que as bicicletas elétricas de montanha passem a ter pesos muitos aproximados (ou mesmo equivalentes) às bicicletas de suspensão total convencionais. Estamos quase lá.
  • O comportamento dinâmico da bicicleta, culpa principalmente de toda a “mecânica” do amortecimento IsoStrut e do modo como toda a bike está afinada para elevar os ritmos de progressão em percursos típicos do XC.

Pontos a melhorar

  • Os punhos. Não dizemos que estes Bontrager são maus, apenas que preferimos uns punhos em silicone. Até porque certas versões da Trek Supercaliber, por exemplo, vêm de origem com modelos ESI.
  • O preço, inevitavelmente. As bikes neste segmento continuam demasiado caras, em nosso entender. Contudo, se a média de preços está hoje neste patamar de forma transversal a todas as marcas, esta Trek vale o dinheiro pedido.

Especificações da Trek E-Caliber 9.9 XTR:

  • Quadro: Carbono OCLV Mountain, IsoStrut, Boost148
  • Suspensão: Fox Factory 34 Step Cast, revestimento Kashima, Boost110, curso de 120 mm
  • Amortecedor: Trek IsoStrut, amortecedor Fox Factory, revestimento Kashima, curso de 60 mm
  • Travões: Shimano XTR M9120
  • Desviador: Shimano XTR M9100, 12x
  • Manípulo: Shimano XTR M9100, 12x
  • Pedaleiro: E*thirteen E*spec Race carbono, 32t
  • Cassete e corrente: Shimano XTR M9101, 10-51, 12x
  • Corrente: Shimano XTR M9100, 12x
  • Rodas: Bontrager Kovee XXX, Carbono OCLV Mountain, Tubeless Ready
  • Pneus: Bontrager XR3 Team Issue, 2,4
  • Avanço: Bontrager Kovee Pro, 35 mm, Knock Block
  • Guiador: Bontrager Line Pro, carbono OCLV, 35 mm
  • Espigão selim: Bontrager XXX, carbono OCLV
  • Selim: Bontrager P3 Verse Pro, carris em carbono
  • Motor/propulsão: Fazua Evation, 250Wh
  • Manípulo: Controlo remoto Fazua bX
  • Peso: 16,38 kgs (no tamanho M, com bateria).
  • Preço: 11.999 euros

Site oficial:

Todas as fotos:

Galeria de pormenores:

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Neste teste:

  • Texto: Nuno Margaça
  • Fotos: Jorge D. Lopes
  • Vídeo: Diogo Caramujo (O Ciclista Improvável)
  • Rider: Nuno Margaça

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