Eficiente é o mínimo que se pode dizer da Specialized Epic World Cup S-Works com que andámos durante muitas semanas, muitas mais do que aquelas que tínhamos de “experiências” com ela quando publicámos o nosso hands-on inicial com esta bicicleta de XC de competição da marca norte-americana, no dia do lançamento em todo o mundo…

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Eficiente, tal como o é e deve ser uma topo de gama entre os modelos de BTT; cara, demais até para os bolsos da maioria dos portugueses, como o é afinal qualquer topo de gama neste momento; muito bem concebida, vista e revista ao pormenor para “assentar que nem uma luva” em qualquer praticante da modalidade.

Sim, é um facto que se trata de uma bicicleta talhada para a competição, apesar de sabermos que a nível comercial irá parar à garagem dos mais endinheirados, independentemente do tipo de uso que lhe dão. Não tem mal nenhum, isto, pelo contrário, pois a Epic World Cup nesta versão S-Works é um portento. Mesmo não sendo perfeita.

Specialized Epic World Cup S-Works | GoRide | Details

Comecemos por aí, os pontos a melhorar. Primeiro, tendo em conta o valor, devia trazer espigão telescópico, mesmo sabendo que há compatibilidade para instalar um e que algo do género iria elevar o número na balança. Mas o XCO dos tempos que correm assim o exigiria…

Depois, a ausência de ajustes e sistemas de bloqueio em movimento e em tempo real. A Specialized garante que com estes sistemas de amortecimento nada disso é necessário. Apesar das suspensões funcionarem muito bem, não concordamos em pleno com estas ausências, pois gostamos de poder bloquear o amortecimento e o respetivo “bombear” quando achamos que tal é preciso.

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Queremos ter essa “liberdade”, essa “gestão” no comando no guiador. Não queremos de todo que a suspensão e o sistema façam tudo sozinhos. Repetimos: porque gostamos de escolher nós o que fazer a cada momento no que diz respeito ao amortecimento. Há quem prefira que tudo seja automático, como aqui acontece. E respeitamos isso.

Specialized Epic World Cup S-Works 2023 | GoRide

SID World Cup Integrated Design (SWCID)

Esta é a designação do sistema de suspensão total nesta bicicleta, que tem algo completamente novo na Specialized: a semi-integração do amortecedor traseiro no quadro, no top tube, tal como vemos fazer outra marca originária dos EUA.

Mas já lá vamos. Antes disso, a suspensão frontal. Mesmo não sendo possível “geri-la” ou bloquear o curso quando desejado, é fantástica, funciona muito bem, esta RockShox desenvolvida especialmente para esta bicicleta.

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Com Brain, com “decisões” tomadas pelo próprio sistema, com 110 mm de curso, um patamar intermédio entre os “curtos” 100 mm e os “dispensáveis” 120 mm. Isto para XCO de competição, para a maior parte desses circuitos. Num uso de fim de semana, teríamos preferido os 120 mm…

Atrás, a tal nova tecnologia, que tem realmente muito que se lhe diga… Em colaboração direta com a RockShox, a Specialized surge com um sistema novo que “invade” o quadro na zona de junção entre o espigão de selim, os tirantes traseiros e o tubo superior do quadro em carbono. Isto dá elegância à bicicleta, em primeiro lugar.

Depois, o comportamento. Em qualquer um dos modos que podemos configurar (só podemos fazê-lo com ajuda de uma bomba de suspensões), a sensação é de firmeza em quase todos os momentos. Mas, quando é preciso amortecer, o curso de 75 mm aparece e está todo lá. “Estranho”, mas funcional.

O GoRide.pt no 14º Almourol à Vista | GoRide

 

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Pelo lado positivo, a vantagem é que, assim, esta Epic torna-se mesmo muito responsiva. Parece uma hardtail quando é preciso acelerar, pedalar forte seja para o que for. As rodas correspondem ao que imprimirmos nos pedais, não há delays.

Por outro lado, mais uma vez eis a liberdade que não temos. Não podemos bloquear e em andamento não podemos selecionar seja o que for para ajustar o amortecimento traseiro à situação atual no terreno. Ficamos “reféns” de uma escolha eventualmente boa antes de arrancarmos.

E o sistema não é assim tão fácil de ajustar usando a referida bomba. Quem tem alguns conhecimentos técnicos em bicicletas de montanha, não sentirá dificuldades; quem pouco percebe do assunto, o conselho que podemos dar é que o melhor é deixar o mecânico configurar tudo na oficina. Para os primeiros, este vídeo esclarece tudo e serve de instrução:

How to Set-Up the New Specialized Epic World Cup Shock

Em XC, praticamente não vale a pena usarmos o modo mais “aberto” do sistema de amortecimento traseiro da Epic WC. Amortece demasiado quando o curso é ativado, bombeia bastante a rolar. Mas andar no modo intermédio é algo perfeito, refira-se, isto se os caminhos que percorremos envolvem alguns obstáculos técnicos tanto a subir como a descer.

Porque o modo mais firme é também muito eficaz (e super responsivo), ideal para os percursos mais rápidos, para as voltas que pouca técnica exigem. É aqui que sentimos que se trata de uma bicicleta de XC puro, eficiente, rápida e intuitiva, como mencionámos antes. Confirma-se, e pelo valor a pagar teria mesmo de ser assim. Mas tantos euros pagam bem mais do que isto…

Pagam também o que de melhor há neste momento no portfólio da Specialized (e da Roval) no que diz respeito a material. E tudo assente num quadro em carbono que já dispensa apresentações, muito, muito leve. Já lá vamos.

Antes disso, falar então do material próprio da marca que equipa esta Epic S-Works. E o que mais gostamos nem é propriamente novo: as rodas Roval Control SL. Numa palavra: incríveis. Leves, com apenas 1.240 gramas o par, com perfil dos aros assimétrico, largura de 30 mm e estética apurada.

Rodas Roval Control SL fazem a diferença…

Apesar de leves, estas Roval são muito robustas, aguentaram todos os “maus tratos” sem um único “queixume”. E serem full carbon ajuda também a tornar a bicicleta mais confortável e a performance mais fluida. Rolam muito bem, dão muita estabilidade à condução, não fazem muito ruído. Do melhor que a Specialized tem neste segmento. Sobre os pneus dizemos apenas que cumprem a função, não comprometem.

Por sua vez, também full carbon, o cockpit novo: o Roval Control SL. Uma peça única e com um formato muito próprio, que pode não agradar a todos. A nós agrada, é o nosso estilo de guiador, largo q.b. (760 mm), forma “cortada”, com avanço muito reduzido e integrado, muito leve (250 gramas).

Se é resistente o suficiente, para já não sabemos, pois manteve-se em total funcionamento ao longo destas semanas. Muito controlo, isso é certo. Melhor ainda é quase não apresentar cabos e outras “distrações”, dá um look muito clean à secção frontal da bicicleta.

Mas isso também acontece porque não há comandos extra no guiador. Não há o cabo que vai para o habitual bloqueio da suspensão ou “acionador” de um espigão telescópico, e não há cabos das mudanças… Porque é tudo wireless. Porque é “apenas” o mais recente e melhor conjunto AXS da Sram que temos nesta topo de gama, o novo grupo Sram XX SL AXS.

Transmissão (também) topo de gama…

O comando sem fios no lado direito do guiador está melhor. Mais ergonómico e belo, igualmente preciso e funcional face à geração anterior, ligeiramente mais compacto, até. A forma imediata com que engrena cada velocidade é “deliciosa” e algo que todos deviam experimentar um dia. Dá gosto.

Nos restantes componentes, nomedamente no desviador, na corrente, na cassete, tudo é novo neste conjunto pensado de propósito para tornar mais leves bicicletas de XC. E o pedaleiro 34t é perfeito, ainda para mais com potenciómetro Quark integrado e possível de “acompanhar” e gerir através da app para smartphone da Sram, que também ajuda a gerir o sistema de transmissão. Algumas funcionalidades a mais, mas muito divertido de usar.

Nota-se que com este grupo Sram há mais fluidez na transição entre velocidades, isto quando em comparação com o sistema AXS topo de gama que existia até chegar esta nova geração. É um facto. Talvez por a cassete ser diferente, ter relações de dentes mais equilibradas (já não apresenta aquele “salto” de dez dentes entre as mudanças mais leves, por exemplo).

E especialmente quando a engrenar mudanças “em carga”. Em caso de desafinição mínima, contudo, aí tudo pode correr mal, como acontecia antes. Estes são sistemas para andarem sempre afinados perfeitamente…

E o claim de o desviador ser efetivamente mais robusto também se confirma. Não há dropout, a montagem é direta e feita com uma peça integrada no componente que se revela muito robusta.

Ainda que a autonomia da bateria nos pareça ser exatamente a mesma que a da geração anterior (quer-nos parecer que as unidades de bateria são as mesmas…), eis que a Magic Wheel é algo igualmente fantástico e muito bem pensado.

Em contraponto, os travões, que também são a melhor e mais recente gama da Sram, não trazem melhorias consideráveis. Nota-se alguma evolução com estes Level Ultimate, principalmente por não parecerem tão “esponjosos” nos momentos em que temos de travar com mais força e durante mais tempo, mas continuam a estar um patamar abaixo de uns bons Shimano XTR, em nosso entender. Mas estão melhores e a performance está à altura do portento que é esta S-Works Epic WC.

Tão leve…

Se considerarmos tudo isto, e se não esquecermos itens como o espigão de selim Roval Control e o bom selim Body Geometry S-Works Power, por exemplo, constatamos que tudo foi pensado para tornar a bicicleta realmente leve: na nossa balança, 9,9 kg (sem bidons, com um par de pedais Shimano XT).

A base de tudo é o quadro do melhor carbono que a marca norte-american produz, uma estrutura que tem apenas 1.765 gramas e foi desenvolvido através das mesmas tecnologias que deram origem ao quadro da Aethos, que é a bicicleta mais leve de sempre da Specialized…

O quadro é “dono” de uma geometria interessante, na verdade. Olhamos para a bicicleta e a “postura” parece diferente, capaz de nos colocar numa posição menos racing do que seria de esperar. Mas depois os trilhos “aquecem” e quem está aos comandos desta Epic World Cup S-Works sente quase que um ajuste em relação ao quadro, à posição do corpo, à bicicleta.

Os kms vão passando e a “viagem” continua confortável, divertida, desafiante, rápida, tecnológica, até. Porque é impossível não nos lembrarmos do tempo que equipas completas gastaram no desenvolvimento de uma bicicleta, de uma quadro e de um sistema de amortecimento que têm como objetivos vencer provas, permitir ao ciclista ter sucesso e prazer.

Objetivos cumpridos, tanto por parte de quem anda com esta Epic nas competições como para aqueles que, como nós, apenas usamos a bicicleta ao fim de semana para umas boas voltas de BTT, e o mais depressa que o nosso corpo consegue andar. O que virá no catálogo de BTT da Specialized a seguir a isto…?

Em suma…

A fechar, dizemos apenas que passar mais tempo com esta bicicleta causou duas “inevitabilidades”: primeiro, ficarmos ainda mais apaixonados pela S-Works Epic World Cup e por tudo o que ela traz instalado; segundo, confirmarmos todos os atributos que destacámos no preview.

Uma bicicleta de BTT de topo, a melhor entre as Specialized, e certamente à altura das melhores topos de gama que outras marcas concorrentes comercializam, pois cada uma tem os seus pontos fortes e menos fortes, cada uma à sua maneira. Felizmente, são várias as bicicletas a este nível entre a oferta dos grandes fabricantes. Sortudos os que podem ter uma delas…

Nota final: aconselhamos a leitura do nosso hands-on com esta Specialized Epic World Cup S-Works, publicado a 20 de abril, data de lançamento mundial da bicicleta, pois encontras por lá várias outras considerações relativas ao desempenho da “máquina” e que achámos por bem não repetir neste teste. Link mais abaixo.

Especificações da Specialized Epic World Cup S-Works 2023:

Quadro: Specialized Epic 2023 carbono // Suspensão frontal: Rockshox SID SL Ultimate Brain 110 mm // Amortecedor: RockShox SID World Cup Integrated Design (SWCID) 75 mm // Manípulo transmissão: Sram AXS POD Controller Ultimate // Transmissão: Sram XX SL AXS 12x 2023 // Pedaleiro: Sram XX-SLP 32t // Cassete: Sram XG1299 10-52t // Travões: Sram Level Ultimate Stealth 2023 (discos de 180 e 160 mm) // Rodas: Roval Control SL // Pneus: Specialized Renegade 29×2.35 (t); Specialized S-Works Fast Trak, 29×2.35 (f) // Cockpit: Roval Control SL Cockpit // Espigão: Control SL // Selim: Body Geometry S-Works Power full carbon // Preço: 11.000 euros

Site oficial:

Todas as fotos (clica/toca para aumentar):

Pormenores (clica/toca para aumentar):

Neste teste:

  • Texto: Jorge D. Lopes e Nuno Margaça
  • Vídeos e fotos: Rodrigo Vicente, Jorge D. Lopes e Nuno Margaça
  • Riders nas imagens: Nuno Margaça e Jorge D. Lopes

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