Líder, mentor, até gregário… André Cardoso está pronto para tudo na ABTF-Feirense. Aos 37 anos, o entusiasmo é enorme e não esconde nem um pouco. Quer mostrar que ainda tem capacidade para concretizar alguns objetivos, olhando muito para o Troféu Joaquim Agostinho e para a Volta a Portugal, mas piscando o olho a outras provas que tenham subidas ao seu gosto. Porém, o papel de mentor está a ser abraçado com igual importância ao de líder na estrada.

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Cardoso começa logo por destacar isso mesmo, como quer ajudar uma equipa jovem, que sofreu uma renovação quase total. O ciclista quer ver os seus colegas atingirem o potencial que demonstram e destaca de imediato um. Tem nome de campeão, já venceu uma Volta a Portugal do Futuro e André Cardoso considera que está na altura de “dar o clique”: Venceslau Fernandes. Coloca-o com o estatuto de quem pode ir atrás das primeiras vitórias como profissional, assim como o sprinter Francisco Pereira, mais um jovem talento a sair da Sicasal-Miticar-Torres Vedras.

André Cardoso já com as cores da nova equipa para este ano, a ABTF-Feirense.

Todas as imagens © João Fonseca Photographer

O sentido de responsabilidade para com a equipa é algo que se nota desde as primeiras palavras na conversa que teve com o GoRide.pt. Começou por explicar porque escolheu a ABTF-Feirense para a sua primeira temporada completa desde que regressou ao ciclismo, após a longa suspensão de quatro anos, reencontrando alguém com quem se cruzou na Fercase-Rota dos Móveis, quando um estava a tentar vingar na carreira e outro já estava na reta final (2007 e 2008).

“É uma equipa criada quase de raiz, cara lavada, novo projeto e isso enquadra-se naquilo que eu idealizo.”

“Primeiro, o [diretor desportivo] Joaquim Andrade já foi meu colega de equipa. Depois dá-me liberdade na Volta a Portugal, que acaba por ser um grande objetivo pessoal e acho que a equipa também padecia um bocado desse mesmo líder. Acho que toda a minha experiência e aprendizagem que tive, todos os anos que estive no World Tour, acho que será uma mais-valia em torno dos jovens e mesmo dos mais velhos. É uma equipa criada quase de raiz, cara lavada, novo projeto e isso enquadra-se naquilo que eu idealizo”, disse.

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E não tem dúvidas que a equipa será competitiva: “Temos muitos jovens, alguns com muito talento. Eu acredito que isto será o clique para eles e também a oportunidade que eles precisam para vingar na modalidade. Acho que vamos ter muitas agradáveis surpresas”.

Confortável no papel de mentor

André Cardoso deseja muito poder transmitir a muita experiência que teve ao mais alto nível do ciclismo. Em 2012 deu o salto do Clube de Ciclismo de Tavira para a Caja Rural, equipa espanhola do segundo escalão. Dois anos depois estava no World Tour, entrando para a então Garmin Sharp, a atual EF Education-EasyPost. Participou em muitas das mais prestigiadas corridas mundiais, incluindo Giro e Vuelta.

“Todo esse percurso foi uma aprendizagem tão positiva, tão longa, que acho que está hora de começar a transmitir isso aos mais novos. Já estou a tentar fazê-lo e acho que vai ser positivo para todos eles”, realçou.

“Acho que tive experiências como poucos em Portugal. Tenho essa mais-valia. O que eu acabei por fazer acho que não houve muitos portugueses a conseguir, que é começar de baixo, subir a uma Caja Rural, de uma Caja Rural para o World Tour e manter-me lá fora. Tenho um percurso que me dá bastante orgulho”.

“Penso em fazer mais alguns aninhos. Acredito que agora com calma e sabedoria possa estar ao mais alto nível.”

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Por isso mesmo, disse estar muito confortável neste papel de mentor e tal não significa que já vá pensando no final da carreira como atleta. Muito pelo contrário, está focado em alcançar bons resultados na ABTF-Feirense, depois de no regresso à competição pela Efapel no final de junho de 2021 ter assumido o papel que tão bem conhecia de gregário.

“Penso em fazer mais alguns aninhos. Esta é a minha primeira época desportiva após a paragem. No ano passado acabei por pagar um bocado a fatura talvez do overtraining. Acredito que agora com calma e sabedoria possa estar ao mais alto nível”, assegurou.

Os objetivos para 2022

Cardoso quer aprender com o erro de não ter conseguido chegar à Volta a Portugal no seu melhor, depois de ter entrado forte no Troféu Joaquim Agostinho: “Acho que tive um papel preponderante nessa vitória [do companheiro Frederico Figueiredo], mas paguei um bocado caro a fatura na Volta a Portugal. Mas é o que é. Nunca tinha estado numa situação do género, de uma paragem tão longa e regressar à competição. Comecei forte, mas não consegui manter”.

Aqui ainda com as cores da antiga equipa, a Efapel, numa das etapas da Volta a Portugal.

Todas as imagens © João Fonseca Photographer

Agora que preparou uma temporada completa, já sem o peso de uma paragem tão longa, Cardoso considera que irá chegar bem aos seus principais objetivos: “Sou um voltista e as qualidades não se perdem do dia para a noite”.

Olha para os meses de julho e agosto como aqueles que na temporada de 2022 o mais favorecem, mas isto não significa que centre tudo nas duas provas já referidas. Corridas por etapas serão quase sempre objetivo, como é o caso dos Grandes Prémios O Jogo e Jornal de Notícias e ainda o Douro Internacional. Ou seja, sempre que apareçam provas com subidas duras, bem ao seu género.

Mas falando dos seus dois principais objetivos… “Um bom resultado na Volta a Portugal seria ganhar uma etapa e fazer um top cinco. Isso seria um ótimo resultado para nós. Relativamente ao Agostinho, é o que vier, faz parte do percurso da Volta a Portugal e se puder estar numa ótima condição e ombrar com os mais fortes, ótimo”.

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“Estar ali, medir forças, talvez um top cinco. No ano passado estive ali à porta, mas por estar a trabalhar para o Frederico abdiquei do resultado pessoal em prol do resultado coletivo. E muito bem. Se não fosse esse trabalho extra acho que teria estado no top 10. As chegadas eram muito duras e enquadravam-se nas minhas características”, referiu.

“Eu já tento incutir essa mentalidade, principalmente no Lau, que está na hora de começar a ganhar corridas.”

E se na Efapel – agora Glassidrive/Q8/Anicolor – esteve numa das estruturas mais fortes de Portugal, a situação na ABTF-Feirense é diferente. Mas isso não intimida este experiente ciclista a querer ir à luta. Ficou a garantia que vai procurar mostrar-se e cumprir o que Joaquim Andrade lhe pediu: “Que eu seja a imagem daquilo que sou, que seja eu próprio, que transmita toda esta energia, toda esta alegria dentro do balneário, digamos, que isso vai acabar por ser a mais-valia numa equipa jovem como a nossa”.

No entanto, não deixa que se pense que apenas vai ser o líder. Se for preciso assumir mais uma vez o papel de gregário, fá-lo-á. “Eu já tento incutir essa mentalidade, principalmente no Lau [Venceslau Fernandes], que está na hora de começar a ganhar corridas e acho que terei muito orgulho em trabalhar para o Lau, ou para o Márcio ou para quem tenha a oportunidade de ganhar. O objetivo é sempre a equipa e estamos aqui para trabalhar uns para os outros”.

“Um dia que o Lau ou o Márcio estejam de líderes, estou aqui para trabalhar e acho que serei uma mais-valia como fui para o Ryder Hesjedal, para o Rigoberto [Urán], para o Alberto [Contador]. Toda esta experiência para os ajudar também a manter a calma para conseguir levar o barco a bom porto”.

Regresso ao contacto com o World Tour

Depois de ter começado a temporada no domingo, na Prova de Abertura Região de Aveiro, Cardoso vai estar na Volta ao Algarve, a partir desta quarta-feira [hoje]. Terá assim a oportunidade de contactar novamente com uma realidade que tão bem conhece: a do World Tour.

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Recordou que foi bem recebido por cá quando regressou da suspensão e acredita que o mesmo irá acontecer com os ciclistas do escalão máximo da modalidade.

“Acho que foi notório que esta luta era um bocado inglória e toda a gente ficou um bocado sensibilizada com esta situação e de todos estes anos recebi sempre mensagens positivas, mensagens de incentivo e isso também foi o que me fez repensar na ideia de voltar ao ciclismo. Tenho sido sempre bem recebido, por ex-colegas, mesmo por ciclistas do World Tour, mensagens que recebo de todos eles… Acho que sim, fui sempre bem recebido”, afirmou.

“Não sou ciclista de me apresentar mal nas corridas. Estarei sempre a um bom nível.”

Na Algarvia terá também a oportunidade de fazer os primeiros testes à sua condição física, com as subidas ao Alto da Fóia e do Malhão: “Veremos o que diz o diretor. Acredito que o Lau já esteja minimamente bem. Com calma. Temos sempre os objetivos da equipa, mas nunca estarei mal. Não sou ciclista de me apresentar mal nas corridas. Estarei sempre a um bom nível. Pode não ser excecional, mas bom para poder trabalhar, para poder ajudar os colegas. Todo um trabalho que é obrigatório numa equipa ciclista”.

Pelotão nacional competitivo

Em 2022, o pelotão nacional cresceu, sendo agora dez equipas Continentais portuguesas, além de sete de clube. A pandemia fez tremer o ciclismo, mas André Cardoso até pensou que poderia ter sido bem pior e olha para a situação atual com otimismo.

“Eu pensei que pudesse ser muito mais difícil depois de tudo o que passámos com a pandemia, covid, etc, etc… Mas somos resilientes! Os patrocinadores também foram sensíveis a toda esta situação. Sabem que os ciclistas profissionais e todas as direções relacionadas com a modalidade vivem dos seus patrocínios e eles foram sensíveis a isso”.

“De certa forma deitaram-nos a mão. Com muito ou pouco foram ajudando sempre a modalidade. Acho que este ano, se a covid deixar, será um de reviravolta e que para o ano seja ainda melhor”, afirmou.

E quanto ao pelotão: “É competitivo. As equipas estão bem organizadas. Com a entrada da Efapel, a própria Rádio Popular-Paredes-Boavista, nós, acho que está tudo bem encaminhado para termos aqui dez equipas a um bom nível, para dar um bom espectáculo desportivo a todos os adeptos. E as equipas de formação são sete, não são muitas, mas face ao panorama que vivemos nestes últimos dois anos, principalmente, as coisas estão a encaminhar-se e isso é o mais importante”.

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