As maravilhas das bicicletas modernas, entre muitas outras vantagens, trouxeram-nos algo muito positivo: para ter uma bike de BTT acima da média já não é preciso gastar valores exorbitáveis. Prova disso é esta Cube Reaction C:62 Race 2021, que está tranquilamente instalada na gama média das hardtail da marca. Tendo em conta os 2.149 euros pedidos por ela, acaba por apresentar uma equilibrada relação entre preço, componentes, qualidade e desempenho.

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Antes de vermos em pormenores cada ponto desta Cube, relembramos desde já que não se trata de uma topo de gama. Também não é a melhor hardtail que já vimos. Mas tem uma base muito boa: um quadro com uma geometria bem projetada, como a marca já nos habituou na linha Reaction, produzido com recurso à fibra de carbono C:62 da Cube; não tão leve e otimizada quanto o materia C:68 que encontramos por exemplo nas AMS 100, a gama de XC com suspensão total da marca.

Mas há pormenores muito interessantes no quadro, sendo que todo o conjunto transmite uma boa dinâmica assim lhe pegamos. Pelo menos no tamanho M, que nos encaixou perfeitamente assim que a bike saiu do caixa e levou os primeiros ajustes.

Race ready?

Após as primeiras pedaladas, fica bastante claro que estamos perante uma bicicleta de cross country “race ready”. Mesmo não sendo a mais bem equipada da gama. A rigidez proporcionada pelo quadro em carbono, manufaturado através do processo Advanced Twin Mold, assegura que a força vai diretamente das pernas para a roda traseira. Sem complicações. Haja então pernas, até porque não se trata das hardtail mais leves do mercado. Neste patamar de preços, não é suposto que assim seja. Justo.

Basicamente, o quadro tem duas facetas distintas: por um lado, o downtube e as chainstays são grandes e volumosas, tendo em vista a otimização da eficiência da força da pedalada, como já referimos. Por outro, o toptube e as seatstays são menos volumosas, acrescentando conforto e aliviando o peso. O espigão também entra neste campo do peso, com uma menos habitual medida de 27,2 mm.

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O quadro está preparado para receber espigão de selim telescópico e a respetiva cablagem a passar por dentro dos tubos.

A cablagem entra no quadro na frente do mesmo, junto à direção, uma solução que vemos já em muito modelos de muitas marcas. É engenhoso e bem pensado, pois vai eliminando o desgaste por contacto e reduzindo também o arrasto, aliás, como é apanágio de qualquer cablagem interna. Existe proteção na escora do lado da transmissão contra os “chupões” de corrente, apesar de nos parecer que num sistema 1x, hoje em dia totalmente instaurado, estes acontecimentos são raros.

Ainda em torno do quadro, note-se que a remoção da roda traseira exige o uso de uma chave, o que acaba por continuar a ser normal, e a bicicleta apenas tem aperto rápido na roda da frente. Um ponto a ter em conta é o facto de o clearance traseiro não ser muito generoso, o que deverá servir para chamar a atenção do rider para duas situações: as voltas com muita lama, que podem acumular demasiados detritos do género entre a parte de cima das escoras e o pneu; e a medida do pneu traseiro, que não deverá ser superior a 2.25. Fica o aviso.

Sensações positivas…

A versão da Cube Reaction C:62 Race 2021 que experimentámos apresenta-se em preto mate, muito elegante, sóbria e discreta. As primeiras impressões remetem para a rigidez: uma pedalada realmente eficiente, sem desperdício de energia. Subidas íngremes não são problemas para este bike, com tração e estabilidade, sem levantar a roda da frente. Deixará de haver desculpas para apear naquela subida mais difícil. Mas também será preciso ter pernas, apesar de o prato pedaleiro ser de apenas 32t. Já lá vamos.

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Prototype

A descer, logo a seguir, vê-se que todo o conjunto transmite segurança, um comportamento q.b., tendo em conta que percebemos que se trata de uma bicicleta com traseira rígida. Em terrenos mais planos, estamos perante uma roda de 29” com um bom poder rolador, estável e rápida.

Enquanto isso, em single track é responsiva, ágil e rápida, também, encarando as mudanças de direção bruscas com relativa facilidade e segurança. Fosse um nadinha mais leve, algo muito possível de alcançar com alguns upgrades, e o controlo seria maior.

Por falar em upgrade, aqui está um ponto em que tal pode valer a pena: a transmissão. Mas, pelo preço, está muito bem, sem falhas notórias (pelo menos enquanto é relativamente nova…). Todo o conjunto está a cargo da Shimano, com um sistema de 12v, monoprato no pedaleiro. Fiabilidade e performance são palavras chave. Um desviador traseiro XT long cage que se mostra sempre preciso e silencioso, com trocas de relação suaves. Sem falhas.

Um desviador traseiro XT long cage que se mostra sempre preciso e silencioso, com trocas de relação suaves.

Já a cassete está mais abaixo na gama, é uma Deore com 11-51t de relação. Parece-nos claramente abaixo dos restantes componentes do conjunto. Pesa 595 gramas, mais 60 que uma SLX e mais 125 que uma XT. Mas a nível de performance não temos queixas; a nível de peso, no entanto, poderá ser um componente a ser alvo de upgrade, se formos mais exigentes a esse nível. Se assim não for, dá perfeitamente conta do recado.

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Schwalbe Pro One Tubeless

O shifter é também Deore. Mais uma vez, podíamos ter um componente de gama superior, embora este shifter cumpra perfeitamente a sua função. O pedaleiro, também Deore e com 32t, como já referimos, também se porta bem. Apesar de todos os abusos a que sujeitamos a bicicleta, mesmo sem guia de corrente a mesma não saltou uma única vez. Pelo menos até agora.

Aqui, é certo que os BTTistas com uma forma física mais apurada irão desejar instalar um prato 34t. Ou até mesmo 36t, caso haja mesmo energia e treino para “dar e vender”. No nosso caso, sentimo-nos perfeitamente à altura de um 34t e seria certamente o primeiro upgrade a fazer.

Polivalente!

Mais uma vez, falando em possíveis upgrades, acabamos por ir parar às rodas. Umas Answer Attack AM (15 x 110 mm à frente, 12 x 148 mm atrás) tubeless ready, mas com câmaras de ar de origem. Toca a converter para tubeless, rápido!

Não sendo um conjunto propriamente leve, é, contudo, robusto, rígido e fiável. Construídas em alumínio com raios em aço, certamente não deixarão ninguém apeado. À frente encontramos montado um Schwalbe Racing Ray, Addix Performance, Kevlar, 2.25, um pneu fabricado especificamente para montar na roda da frente.

Atrás temos Schwalbe Racing Ralph, Addix Performance, Kevlar, 2.25. O conjunto pode facilmente ser convertido num sistema tubeless, diminuindo o peso e aumentando o conforto a rolar. A borracha é um bocado dura, pelo que nem sempre é fácil encontrar o balanço perfeito de pressão, de modo a que possamos encarar aquela descida mais técnica com grip suficiente… e não termos um furo por pressão insuficiente.

Os travões são também Shimano, da gama XT, com disco de 180 mm à frente e de 160 mm atrás, como é normal neste segmento. Um componente com um comportamento à altura do restante conjunto, um poder de travagem eficaz e progressivo. As manetes são acionadas mesmo com um só dedo, algo típico dos conjuntos topo de gama. Transmitem segurança e confiança, estando ao nível de outros sistemas concorrentes, de certa forma.

Uma suspensão competente, quer em curvas acidentadas, descidas, raízes, pedras…

Entrando nos domínios do amortecimento, neste caso apenas à frente, a suspensão é uma Fox 32 Float SC FIT4 Performance, com bloqueio remoto no guiador. Nota para o desenho dos braços, “cortados” em baixo, uma engenharia que permite aliviar peso sem comprometer a performance, mantendo o sistema boost.

Uma suspensão competente, quer em curvas acidentadas, descidas, raízes, pedras… O comportamento parece-nos ser sempre bom, tal como vimos acontecer noutras bikes que experimentámos antes e que estão equipadas com esta solução. Nada a assinalar.

No entanto, para que o sistema funcione bem, aconselhamos que se gastem alguns minutos a ajustar todo o sistema de ar e o rebound conforme o gosto e características de cada um. Este último pode demorar algum tempo, mas, uma vez afinado, irá catapultar a experiência para outro nível. Aconteceu connosco, visto que os settings quevieram de fábrica não nos estavam a “convencer”. Ficou perfeita, contudo, após a afinação.

Os periféricos são quase todos da marca Cube, e também à imitação do valor que é pedido pela bicicleta, com o alumínio como base de construção. Já o avanço, o guiador e o espigão são da Newmen, gama Evolution. O avanço é mais curto que o do modelo de 2020, o que, em nossa opinião, aumenta a responsividade da bicicleta. Especialmente em single track.

O guiador é plano e com 720 mm, o que, nos dias de hoje, pode não ser suficiente para alguns riders. No nosso teste, o guiador respondeu bem a todas as solicitações.  O espigão, de 27,2 mm, em teoria, aumenta o conforto por “ceder” um pouco, pelo menos no papel. A medida pode, no entanto, limitar a disponibilidade de componentes, caso se pretenda optar por um sistema de espigão telescópico.

Todos estes componentes são em liga de alumínio, sendo possível, caso se entenda, subtrair uns bons gramas ao conjunto fazendo a substituição por elementos em carbono. Os menos exigentes, contudo, ficarão perfeitamente bem como o que está montado de origem.

O selim é um Natural Fit Nuance Lite: não sendo desconfortável, por gosto pessoal talvez optemos pela substituição por um modelo com buraco prostático.

Alguns destaques:

Travagem

A suspensão porta-se bem, como habitual. E o disco de travão de 180 mm à frente ajuda a reforçar as capacidades de travagem.

Pedaleiro 32t

Os mais bem preparados depressa instalarão um de 34t; mas manter o que está também garante desempenho normal em qualquer volta.

Pneus Schwalbe

Vêm de origem uns pneus robustos e bastante duros, não sendo também os mais leves do mercado.

Espaço para ‘hidratar’

Sendo uma hardtail, há sempre espaço para estarem montadas duas grades de bidão.

A nossa avaliação…

A Cube Reaction C:62 Race 2021 é uma bicicleta hardtail que responde bem a quase todas as solicitações e que proporciona uma experiência perfeitamente à medida do preço.

É forte e estável a subir, é uma roladora implacável e apresenta um comportamento interessante em single track. Uns furos abaixo em descidas mais acidentadas, situação que poderá ser mitigada com outro tipo de pneu e pressão.

Podemos melhorá-la em vários pontos, principalmente para tirar peso, mas é certo que esta geometria e todo o conjunto apresentam características “racing”, de certa forma, algo que faz com que não desiluda em nada nas voltas mais descontraídas do dia-a-dia.

Repetimos: não é um topo de gama absoluta, não é uma hardtail equipada com o melhor que existe de momento em termos e componentes e “periféricos”; mas, pelo valor em causa, está bem “resolvida”. E as sensações que transmite são muito positivas, isso é certo.

Pontos mais positivos

  • O comportamento a subir, já que o quadro hardtail em carbono C:92 canaliza bem a força das pernas para a roda motriz.
  • O quadro parece-nos de boa qualidade, uma patamar acima de gerações anteriores. Estética incluída, até porque os tempos das cores “berrantes” já lá vai.
  • O desempenho da suspensão e do sistema de travagem está em bom plano e perfeitamente à altura do tipo de utilização a que esta bike se propõe.

 Pontos a melhorar

  • A cassete e as rodas não estão em linha com o patamar dos restantes componentes, pelo que alguns upgrades trarão muitos benefícios ao nível do peso.
  • A medida “exótica” do espigão do selim. De resto, tudo ok.

Todas as fotos:

Galeria de pormenores:

Especificações da Cube Reaction C:62 Race 2021:

  • Quadro: C:62 Monocoque Advanced Twin Mold Technology, ARG2, Tapered Headtube, PressFit BB, Boost 12x148mm, Integrated Cable Routing, Dropper Post Ready.
  • Suspensão: Fox 32 Float SC FIT4 Performance, Tapered, 15x110mm, 100mm, 2-Position Remote Lever.
  • Travões: Shimano XT BR-M8100 (discos de 180/160 mm).
  • Desviador: Shimano XT RD-M8100-SGS, ShadowPlus, 12x.
  • Manípulo: Shimano Deore SL-M6100-IR.
  • Pedaleiro: Shimano Deore FC-M6100-1, Boost, 32t.
  • Cassete: Shimano Deore CS-M6100, 10-51t.
  • Corrente: Shimano CN-M6100.
  • Rodas: Answer Attack AM, 15x110mm/12x148mm, Tubeless-Ready.
  • Pneus: Schwalbe Racing Ray e Racing Ralph, Addix Performance, Kevlar, 2.25.
  • Avanço: Newmen Evolution 318.4, 31.8 mm.
  • Guiador: Newmen Evolution 318.10, 720 mm.
  • Espigão selim: Newmen Evolution, 27.2mm / Cube Varioclose, 31,8 mm.
  • Selim: Natural Fit Nuance Lite.
  • Peso: 10,6 kg.
  • Preço: 2.149 euros

Outros modelos na gama Cube Reaction C:62:

Site oficial:

Neste teste:

  • Texto: Nuno Granadas e Jorge Lopes
  • Fotografia e vídeo: Jorge Lopes
  • Riders: Nuno Granadas

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