Ainda na “digestão” do título conseguido na corrida de XCO elites nos Mundiais de BTT de Valais, Jenny Rissveds conta-nos tudo: como foi das primeiras atletas da modalidade a falar de saúde mental, como recuperou para regressar aos grandes triunfos, o que foi preciso para cortar a meta em primeiro no fim de semana passado…

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Está tudo mais abaixo neste artigo, em discurso direto e em exclusivo no GoRide.pt!

Mundiais de BTT 2025: Jenny Rissveds é campeã do mundo de XCO!

O que significa para ti esta vitória no Campeonato do Mundo de XCO, a nível pessoal?

Para ser sincera, ainda não tive tempo para processar. Preciso de tempo e silêncio para me sentar com isso no corpo e sentir. Sinto-me orgulhosa porque trabalhei muito para isto. É uma sensação incrível alcançar algo pelo qual te esforçaste tanto.

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A corrida correu conforme o plano ou improvisaste?

Ambos. Tinha um plano de fazer basicamente a minha própria corrida e confiar no meu padrão de corrida e depois deixar que as outras fizessem o que quisessem.

Não queria pensar demasiado no que elas estavam a fazer. Queria manter o foco. Nas corridas há sempre alguma improvisação e eu tive de improvisar.

Mudaste alguma coisa em relação à temporada anterior?

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Mudei de equipa. Mudei de treinador. Mudei-me para Andorra. E com isso aprendi muito sobre mim enquanto atleta e sobre as minhas estratégias de corrida.

Ainda estou a tentar perceber como tirar o máximo de mim. O que acho que mudou esta época foi o facto de ter uma melhor compreensão de mim própria e do que é preciso para ganhar.

Foste uma das primeiras atletas femininas a falar sobre saúde mental. Qual a importância disso nas tuas vitórias?

Acho que é importante para toda a gente manter a mente saudável de uma forma sustentável. Manter isso e ser consistente é muito difícil. Tens de ser simpática contigo própria e não ser demasiado dura.

És uma pessoa, ganhes ou fiques em 12.º ou 25.º lugar. Não és os teus resultados e tens de te separar disso. Agora entendo isso melhor.

Sei que continuo a ser uma boa pessoa sem este resultado no Mundial. Continuo a ser eu, continuo a ser a Jenny. Depois dos Jogos do Rio fiquei um pouco confusa quanto a quem eu era. Desde então aprendi muito sobre mim.

Falemos de bicicletas. Os circuitos são mais duros hoje em dia e a algumas ciclistas usam mais curso. Sentes-te confortável com 100 mm? Tens experimentado diferentes afinações?

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Venho de 120 mm na suspensão dianteira e no amortecedor, por isso tive de aprender a andar com esta bicicleta (a Lux World Cup CFR) e habituar-me a ela.

Mas tenho-me dado bem, por isso é evidente que me sinto confortável com ela. É mais rápida. Talvez pareça que os circuitos estão mais duros, mas na verdade estão mais suaves e mais rápidos.

Bike dos Prós: A Canyon Lux WC CFR de Jenny Rissveds, campeã do mundo de XCO

Como foi a mudança da Team 31 para a Canyon?

Foi uma boa mudança e uma boa transição. Perguntam-me sempre como é estar numa equipa de fábrica. Obviamente, há mais recursos, mas quando se trata do que realmente importa (as pessoas e o ambiente) é semelhante. Estar rodeada de pessoas atenciosas e carinhosas, isso é o que realmente importa.

Falaste sobre o afastamento em 2018/2019 e o regresso. Como conseguiste encontrar equilíbrio?

Diria que a idade e a experiência ajudaram. Ajuda muito para entender e aprender. O mais importante é não perderes quem és. E perceberes que não és os teus resultados.

Depois do Rio, de repente, tinha muitos amigos novos e pessoas a querer coisas de mim. Havia muito ruído e eu não sabia o que estava a sentir. É importante saberes quem és sem todas essas camadas de pessoas, resultados e ruído.

Desde que voltaste ganhaste vários títulos. Cresceram as expetativas dos patrocinadores e da comunicação social?

É comum pensarmos que as pessoas esperam coisas de nós, mas depende de como lidamos com isso. Tens sempre a escolha de deixar essa pressão entrar ou não.

No início da minha carreira sentia que os outros esperavam coisas de mim, mas era eu que punha essa pressão em mim própria. Aprendi isso sobre mim.

Agora tento controlar o que posso controlar. No desporto há coisas que não podes controlar. Tento não colocar demasiada pressão. Quero fazer o melhor possível na corrida, e isso é tudo o que posso controlar.

Passaram pouco mais de nove anos desde que ganhaste o ouro no Rio e uma semana desde o arco-íris. Qual significa mais para ti?

Não gosto de comparar vitórias ou resultados. Para mim, trata-se de uma conquista, não do resultado em si. Posso ficar tão feliz com um 5.º lugar se tiver feito tudo o que podia para o conseguir.

Ganhar os Jogos Olímpicos e ganhar agora o Mundial: continuo a ser a mesma pessoa. Cria-se muita expetativa, mas depois da corrida acordei na mesma cama e era a mesma pessoa, nada mudou. Independentemente do nível da prova, no dia seguinte continuas a ser a mesma pessoa.

O que te motiva a continuar a dar tudo? Já alcançaste tanto…

Se os resultados fossem a única coisa que me motivava, então já teria feito tudo. Mas ainda sinto que tenho alguns anos pela frente porque o que me motiva é continuar a aprender e a acompanhar as mudanças do desporto.

Há sempre coisas novas para aprender. Já corro a este nível há 12 ou 13 anos e ainda me surpreende o quanto há para aprender.

Crans-Montana é um dos circuitos mais técnicos neste novo estilo de corrida. Para onde está a evoluir o XCO e para onde gostarias que fosse?

Parece que está a evoluir para circuitos menos técnicos, com corridas mais rápidas e compactas, com o pelotão mais junto. Os desenhadores de percurso estão a preencher zonas naturais com raízes para as tornar mais suaves e rápidas.

Eu prefiro percursos mais naturais, mais decisivos e desafiantes, como eram há três anos. Espero mesmo que voltemos a ter secções mais naturais e técnicas.

Se tivesses de escolher um circuito favorito, qual seria?

Lenzerheide, mas como era antes. Esse era o meu preferido. Natural, com bom fluxo e muitas raízes. É esse tipo de terreno que eu gosto mais.


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Crédito das imagens: Canyon / Boris Beyer 2025

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