Escolher mal o tamanho da bicicleta de BTT (mais propriamente do quadro, claro) pode causar erros irremediáveis e pode levar a que soframos quando a andar. Ficamos desconfortáveis, podemos lesionar-nos, não tiramos de nós todo o nosso potencial e não aproveitamos o que de melhor a bicicleta tem para dar. Vamos querer livrar-nos dela e podemos vir a perder dinheiro e tempo.

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A pensar nisso, recorremos à nossa experiência para fazer uma breve revisão de alguns conceitos que são determinantes para escolher bem o tamanho da bicicleta de BTT. Pontos básicos, na verdade, mas importantes.

E atenção que fornecemos estas informações de acordo com o que temos vindo a aprender nesta área das bicicletas. Isto quer dizer que estas indicações não dispensam a consulta de técnicos profissionais nas lojas e a realização de uma sessão de bike fit quando compramos uma bicicleta!

Tamanho do quadro, reach e stack

O tamanho do quadro, por norma, está diretamente relacionado com o comprimentos do tubo do selim. Até hoje este tem sido um dos parâmetros mais importantes na determinação do tamanho do quadro, mas, como vemos nas próximas linhas, não é o único a ter em conta.

De facto, o reach e o stack também são muito importantes, razão que leva a que cada vez mais os fabricantes se refiram aos tamanhos como estando relacionados com o comprimento do tubo do selim em vez de referirem os tamanhos S, M ou L, por exemplo.

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Aliás, algumas marcas estão a mudar grande parte das medidas de geometria em função do tamanho, como os triângulos posteriores que também se adaptam a diferentes tamanhos de quadro. Os pontos seguintes podem ser importantes.

Reach e stack

É cada vez mais comum encontrar estes dados nas tabelas que resumem as medidas da geometria das bicicletas, os quais nos podem dar uma ideia mais aproximada do tamanho da bicicleta.

O reach é a distância horizontal desde a linha vertical que atravessa o eixo do pedaleiro até à linha vertical que atravessa o centro do tubo de direção. Este dado vai servir para sabermos quão comprida é a bicicleta.

E o stack é a diferença de altura entre a parte superior do tubo de direção e a altura do eixo do pedaleiro. Servirá para determinar a altura da bicicleta. Aqui, recomenda-se que não nos fiemos na medida do comprimento do tubo de direção, pois esta medida varia muito em função do tipo de quadro (para XC, trail, enduro…).

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Diferenças entre marcas

O que referimos acima diz-nos que, muitas vezes, um tamanho específico não é exatamente o mesmo em bicicletas de marcas diferentes. Por vezes até no próprio catálogo de uma marca existem dois quadros de categorias diferentes com tamanhos diferentes…

Como determinar o tamanho certo?

1. Altura

Geralmente os diferentes tamanhos de bicicletas são associados à altura do ciclista. “De acordo com a minha altura, qual é o tamanho que me corresponde?”. A nossa altura pode ser orientadora, mas nunca será decisiva para escolher entre um ou outro tamanho.

Lembrando que o mais importante será sempre experimentar bem a bicicleta, eis que outra medida importante a ter em conta é o comprimento da perna (o da entreperna, melhor dito, que se mede desde o solo até ao períneo. Isto a juntar à altura. Existe uma fórmula para ajudar a determinar o tamanho:

  • Medida entre a perna (cm) x 0,54 = tamanho da bicicleta em cm

É muito prático colocar um livro entre as pernas para saber até onde medir.

2. Cavalo

“O meu comprimento de perna é igual ao comprimento de perna de um amigo meu, que mede menos 5 cm que eu. Escolhemos o mesmo tamanho?”. Poderá não servir o mesmo tamanho de bicicleta de BTT… Embora possam ter a mesma altura de selim, a bicicleta terá de ser mais curta (reach) para se adaptar a esses 5 cm de altura a menos.

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3. Entre tamanhos…

“Segundo esse cálculo orientador, o meu tamanho fica entre os dois disponíveis da bicicleta“. Pode acontecer, por isso temos de nos focar nos seguintes pormenores:

a) Proporcionalidade do corpo

Nem todas as pessoas são iguais mesmo que tenham as mesmas alturas. Podemos usar uma fórmula simples para verificar se temos as pernas mais compridas ou mais curtas; basicamente, dividindo a nossa altura pela medida da entreperna:

  • Altura / medida da entreperna = 2,2

Se o nosso resultado for menor que 2,2, isso é sinal de que as nossas pernas “pedem” o tamanho mais pequeno dos dois disponíveis e nos quais reside a dúvida. Se for maior, o contrário, ainda que seja melhor usar os dados de reach e stack que muitos fabricantes incluem nas suas especificações. Se comparamos dois modelos de bicicleta diferentes mas de tamanhos iguais, com o reach podemos saber que bicicleta é mais comprida ou mais curta, mais larga ou mais compacta.

E o stack servirá para sabermos qual é a mais alta ou mais baixa, mais confortável ou mais “agressiva”. Por exemplo, no caso de teres pernas compridas, é recomendável uma bicicleta com reach curto e o stack alto. Ficarás mais confortável.

b) Comportamento da bicicleta

Se considerarmos que a nossa relação braço-perna é normal, a escolha pode ser baseada no nosso gosto pessoal. Bicicletas mais “controláveis” ou mais reativas para acelerar (tamanho mais pequeno); ou mais estáveis e confortáveis (tamanho maior). Mas voltamos a insistir na utilização do reach e do stack.

4. Maior ou mais pequeno?

“Dependendo dos gostos (bicicletas rápidas e reativas ou mais estáveis) escolhemos um tamanho mais pequeno ou maior?”. Não devemos adquirir um quadro de tamanho menor ou maior de acordo com fatores como a manobrabilidade ou o conforto. Para chegar onde queres a este nível de ajustes, será melhor “jogar” com o comprimento do avanço, a altura, a posição do selim ou trocando um espigão reto por um mais recuado, por exemplo.

5. Tipo de bicicleta

“Acabamos por não nos sentir confortáveis nas nossas bicicletas Certas vezes, temos o tamanho perfeito, tudo é ideal, e mesmo assim não estamos confortáveis“. Tão importante quanto escolher o tamanho é escolher a bicicleta certa para a “modalidade” que praticamos. Ou seja, o tipo de BTT que praticamos.

É que às vezes há bicicletas que nos chamam a atenção, ou surgem com grandes preços, e acabamos por ficar com elas de forma “enganadora”, por assim dizer. Comprar um bicicleta mais de trail quando o que fazemos é XC, por exemplo… Comprar uma com uma geometria mais a puxar para o downcountry, por exemplo, quando na verdade fazemos poucas descidas e andamos quase sempre a subir ou a rolar… Não vai resultar…

6. Para senhora…

“Muitos pensam que as bicicletas para senhora são puro marketing. É mesmo assim?”. Essa afirmação é falsa. A geometria e o design são diferentes entre uma bicicleta para homem e uma para mulher. Muitas senhoras cometem o erro de “herdarem” uma bicicleta de homem, mas mais tarde acabam por ficar desconfortáveis e têm de comprar um outro modelo.

Depois de determinar o tamanho…

Um vez escolhido o tamanho certo, temos de adaptar vários componentes à nossa fisionomia. Existem vários parâmetros que dependem diretamente dos nossos gostos e/ou “manias”.E isto acaba por ser tudo muito subjetivo, claro! Aqui mais uma vez lembramos: o ideal é pedir ajuda na loja e fazer um bike fit. Ficará tudo certinho e ajustado ao mílimetro, pois esse pessoal sabe o que faz! O estudo biomecânico resolve tudo…

Ainda assim, vamos aqui falar de dois componentes que são fáceis de ajustar e que podem ser bons pontos de partida para ficarmos mais confortáveis e conseguirmos aproveitar melhor o potencial do ciclista e da bicicleta.

1. Altura do selim

Existe uma fórmula para conseguirmos posicionar o selim na altura certa, e que serve de referência:

  • Medida da entreperna (cm) c 0.885 = altura do selim* (cm).

* É medida desde a parte superior do selim e desde o seu centro (não faria mal medir o comprimento, para ser mais preciso) até ao centro do eixo do pedaleiro.

2. Altura do guiador

Antes de mais, temos de ter já posicionado o nosso selim, já que se toma isto como referência para a posição do guiador. E a altura do guiador é bastante subjetiva, em especial em vertentes que precisamos de mais liberdade de movimentos, como o trail, o all-mountain ou o enduro.

Apesar da subjetividade e do gosto pessoal, em bicicletas de XC ou maratona acaba por haver valores indicativos que podem ajudar:

Altura do ciclista (160-170 cm):

  • Posição mais alta do guiador: +2 cm
  • Posição mais baixa do guiador: -2 cm

Altura do ciclista (170-180 cm):

  • Posição mais alta do guiador: -2 cm
  • Posição mais baixa do guiador: -5 cm

Altura do ciclista (>180 cm):

  • Posição mais alta do guiador: -5 cm
  • Posição mais baixa do guiador: -8 cm

Temos de ter como referência a parte superior dos punhos. A medida apresentada é a diferença em relação à altura do selim. Valores positivos indicam que o guiador fica mais alto que o selim, valores negativos indicam o contrário.

3. Distância selim-guiador

É difícil determinar uma regra para saber qual é a melhor distância entre o guiador e o selim (comprimento que teremos de ajustar consoante a escolha do avanço). Ainda para mais no BTT, já que um quadro de XC é muito diferente de um de enduro ou downhill, por exemplo.

Aqui, experimentar é o segredo, e até nos sentirmos confortáveis. Podemos usar um truque básico para ir experimentando: colocar o cotovelo na ponta do selim e estender o braço até ao avanço. O nosso dedo mais comprido deve chegar até metade do avanço. Mas este tipo de truques é meramente indicativo…

Em suma, um dos pontos que sublinhando com este artigo é que demorar algum tempo a fazer estes tipos de ajustes pode ser um bom investimento. O corpo agradece e a bicicleta também. Se além destes ajustes recorreres a profissionais e fizeres um bike fit sempre que necessário, ainda melhor!

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Artigo redigido por José Escotto e editado por Jorge Lopes. Caso detetes algum erro ou tenhas informação adicional que enriqueça este conteúdo, por favor entra em contacto connosco através deste formulário.

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