A vitória de Remco Evenepoel na Volta ao Algarve teve um forte impacto não só por ser mais um triunfo irrepreensível do belga, mas principalmente pelo fantástico contrarrelógio que realizou.

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O ciclista da Quick-Step Alpha Vinyl pulverizou a concorrência, incluindo o bicampeão europeu, Stefan Küng. O “trabalho de casa” que fez na pré-época revelou agora como Evenepoel está cada vez mais forte e completo.

Foto: João Calado/Volta ao Algarve

Não foi uma surpresa a vitória no contrarrelógio, mesmo sendo mais longo do que é normal na Algarvia. 32,2 quilómetros entre Vila Real de Santo António – tem sido mais tradicional rondar os 20 -, com a maioria a serem feitos a fundo. Havia partes técnicas, mas não tantas como no percurso de Lagoa, por exemplo.

Evenepoel até já é um campeão europeu da especialidade, apesar dos seus 22 anos. Conquistou o título em 2019, ainda mal saído do escalão de juniores. Inclusivamente, já havia ganho a etapa de Lagoa na Volta ao Algarve, em 2020.

Mas desde então há algumas diferenças no belga, que tem aperfeiçoado a sua posição e a sua técnica, sem prejudicar a capacidade de subir bem. Ou seja, quer ser o voltista perfeito, algo mais do que necessário quando há um Tadej Pogacar ou um Primoz Roglic, fortes a subir e exímios no contrarrelógio.

O que mudou Evenepoel?

Há cerca de quatro meses, no final da temporada passada, Evenepoel viajou até aos Estados Unidos. Foi notícia a participação numa prova de gravel, mas o belga admitiu, mais tarde, que aproveitou para ir até ao túnel de vento da Specialized, marca de bicicletas que a equipa de Evenepoel utiliza.

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Segundo o site CyclingTips, o diretor da Quick-Step Alpha Vinyl, Tom Steels, explicou que foram feitos alguns ajustamentos no extensor e “noutras coisas, mas nada de especial”. Nada de especial… Não será bem assim!

Relativamente ao extensor, na parte de apoio do cotovelo ao pulso estará tudo idêntico. No entanto, será um pouco mais comprido e as mãos estão mais juntas. O ciclista ficará um pouco mais alto, demonstrando algo que se começa a ver cada vez mais.

Nesta especialidade tem-se utilizado uma posição muito baixa, principalmente entre os especialistas. Costas quase direitas, num alegado melhor aerodinamismo. Agora já se vê os corredores numa posição mais alta e, mesmo assim, continuam a ser fortes no esforço individual.

O CyclingTips refere também cranques mais pequenos. Mais uma vez, uma mudança de paradigma, pois a tendência era serem cranques maiores do que os utilizados na bicicleta de estrada, digamos assim.

Ajustando a altura do selim, Evenepoel fará a mesma extensão no joelho quando a pedalada está em baixo na rotação. Tudo indica que o belga estará mais confortável nesta posição e, claramente, está a andar muito bem.

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De recordar que no sábado o vento dificultou um pouco a tarefa e em certas partes do percurso verifica-se mesmo ventos cruzados. Evenepoel disse que até teve mais cuidado nas descidas, mas mesmo assim foi imbatível. No final, considerou que tinha feito o melhor contrarrelógio da sua carreira.

Mais um pormenor…

A Volta ao Algarve foi apenas a segunda corrida do ano para Evenepoel. Tinha antes estado na Volta à Comunidade Valenciana, que não teve contrarrelógio.

Além de ser o primeiro teste em prova após a passagem pelo túnel de vento da Specialized, Evenepoel contou ao Het Laatste Nieuws que só tinha recebido a bicicleta com as novas especificações no início da semana.

Ou seja, não estava completamente familiarizado com a nova posição. Como o contrarrelógio era a etapa que tinha marcado para ganhar tempo e tentar assim garantir a segunda vitória na geral na corrida portuguesa, Evenepoel utilizou a bicicleta de contrarrelógio no trainer após a etapa, para assim tentar adaptar-se à nova máquina.

E parece que resultou. Evenepoel fez uma média de 51 quilómetros, mais 1,2 que Stefan Küng. O bicampeão europeu da Groupama-FDJ tinha o objetivo de ganhar a tirada, mas ficou a uns surpreendentes 58 segundos de Evenepoel, que cumpriu os 32,2 quilómetros em 37:49 minutos.

E Küng nem era um ciclista que estava a pensar na geral. Esses ficaram com uma missão quase impossível com apenas o Alto do Malhão para disputar a camisola amarela. Todos os candidatos “levaram” com mais de um minuto, ou até a dois.

Melhorar nas subidas

Durante muitos anos, o poderio da então Sky (atual INEOS Grenadiers) fez-nos falar incessantemente dos “ganhos marginais”. Hoje em dia, esses “ganhos marginais” fazem parte de qualquer equipa e significa que nenhum pormenor pode ser deixado ao acaso.

Este trabalho de contrarrelógio de Remco Evenepoel é mais um exemplo disso, ele que ainda não mostrou o que pode de facto valer numa grande volta, muito por culpa da aparatosa queda que sofreu na Volta à Lombardia em 2020.

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Patrick Lefevere, o eterno “patrão” da Quick-Step Alpha Vinyl, diz não estar interessado em colocar já o jovem talento no Tour, mas em 2022 Evenepoel quer acabar de vez com dúvidas que possam existir sobre a sua capacidade para as três semanas. As sequelas da referida queda parecem estar a ficar definitivamente para trás. Agora quer melhorar no que mais precisa.

Faltam as subidas curtas e íngremes. Evenepoel sofreu na Volta à Comunidade Valenciana neste tipo de ascensão, acabando por perder a geral para o russo da Bora-Hansgrohe, Aleksandr Vlasov. O belga admitiu logo que era mais um pormenor que tinha de se concentrar.

No Algarve, explicou que parte da táctica passava por sobreviver nas etapas de montanha. Esteve bem na Fóia – onde em 2020 ganhou – e no Malhão só Daniel Martínez (INEOS Grenadiers) tentou testar Evenepoel.

Defendeu-se bem e quando parecia que poderia ceder já faltavam tão poucos metros que se deixou ficar para trás e assim celebrar a vitória na geral a cortar a meta. A diferença feita no contrarrelógio deixou-o descansado no momento em que percebeu que não iria sofrer muitos ataques.

Evenepoel está preocupado com todos os pormenores, como tem de ser para assim poder definitivamente confirmar as enormes expetativas criadas quando ainda era júnior.

Em 2022 está, para já, apenas marcado para a Volta a Espanha nas grandes voltas, sendo que irá perseguir vitórias nas provas de uma semana e algumas clássicas. Como curiosidade, na Vuelta está previsto um contrarrelógio de 31,1 quilómetros, entre Elche e Alicante.

A próxima corrida de Evenepoel é o Tirreno-Adriatico – começa a 7 de março -, corrida do calendário World Tour e onde poderá haver um frente a frente com Tadej Pogacar, se se confirmar a presença do esloveno da UAE Team Emirates.

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Imagem principal: Volta ao Algarve

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