Não há como duvidar, este Tour 2023 pode ser decidido por bonificações, e devemos começar a habituar-nos a esse factor de “desempate”. O que as três últimas etapas mostraram foi isso mesmo: diferenças escassas ou nenhumas na estrada entre os dois “patrões” desta Volta a França, como Jonas Vingegaard definiu a luta entre si e o rival Pogacar na etapa deste sábado, com final em Morzine.

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Poderá esperar-se que em finais em altitude como a deste domingo possa haver diferenças mais substanciais entre os dois líderes supremos da corrida e/ou que haja um dia mau (ou menos bom, bastará) de algum, mas fora isso as margens não deverão ultrapassar meia dúzia de segundos – precisamente o tempo máximo que o esloveno teve de vantagem sobre o dinamarquês após o seu ataque em Joux Plane. O ataque terá de acontecer, forçosamente, mais perto do alto…

Este sábado, apenas um segundo foi a diferença entre ambos, e veio de bonificações. Por isso, repita-se: a não ser que ocorra alguma hecatombe a algum dos contendores, esta Volta a França não será decidida por minutos, como Vingegaard tem vaticinado, mas por segundos.. e poucos.

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Isto se excluirmos um “elemento” que pode ser determinante para a resolução do vencedor – e que por tradição é-o no Tour: o contrarrelógio – Tadej Pogacar que o diga. Foi assim que conquistou, com espanto, o triunfo em 2020, o seu primeiro na prova, frente da Primoz Roglic.

Mais, o contrarrelógio não tem percurso clássico, plano ou mais ou menos plano, termina numa subida de cerca de cinco quilómetros, cujo primeiros dois são bastante duros, com uma percentagem de inclinação média elevada. Porque, obviamente, o esforço é individual, sem fator-roda ou referências visuais, as diferenças podem cavar-se mais profundamente.

De resto, parecem cada vez mais ténues as possibilidades de uma das equipas armar uma estratégia ganhadora, que não a convencional do comboio de montanha. Aliás, essa possibilidade praticamente não existiu para a Jumbo-Visma neste Tour, e aquela memória forte da tática fatal para Pogacar no Col du Granon em 2022, não seria viável na presente edição. Motivo simples e lógico: a equipa neerlandesa não tem nenhum joker nesta corrida como teve em Roglic no ano passado. Ou seja, uma potencial ameaça à liderança – o esloveno era-o por altura da célebre etapa do Granon.

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Por outro lado, a UAE Emirates ainda poderá recorrer a esse joker com o há muito anunciado Adam Yates, que na geral (5.20 minutos) está longe, mas ainda não demasiado para não ter peso. Todavia, não se crê que o britânico, por mais em forma que esteja, consiga ter liberdade para fazer os seus movimentos durante alguma etapa montanhosa. Para tal, a Emirates teria de isolar Vingeggard numa subida intermédia, para Yates lançar-se depois ao ataque, e em ataques sucessivos, como foi capaz de fazer Roglic. E não é para todos!

E sobre isso fica o reparo: se a Emirates tivesse tido lucidez, não teria feito Adam acelerar a ritmo quando passou Sepp Kuss em Joux Plane, mas de esticão, procurando isolar-se quando o trepador norte-americano estivesse vulnerável – e estava naquele momento, de tal modo que ficou descartado. Só que Yates passou à tarefa de puxar Pogacar e Vingeggard. E assim, nada acrescentou…

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Imagens: UAE Emirates e Jumbo-Visma Twitter

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