Em Kigali, no coração de África, o ciclismo português voltou a escrever história. Entre 267,5 quilómetros de sofrimento e mais de 5500 metros de desnível, foi um jovem de 23 anos, vindo da Figueira da Foz, quem se destacou. Afonso Eulálio terminou o Mundial de fundo no 9.º lugar, conquistando um feito que apenas Rui Costa tinha alcançado antes: colocar Portugal no top 10 da prova rainha do Campeonato do Mundo de elites.

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O próprio corredor confessava, ainda incrédulo, a dimensão do resultado: “Sabia que vinha bem, mas nunca pensei fechar no top 10. Foi um Mundial super duro, mas consegui gerir a corrida. Quando o Pogacar atacou de longe, não fui ao choque nem ao limite, porque sabia que a perseguição seria feita por um grupo maior. Procurei poupar-me e fazer diferenças onde sabia que podia. Conseguir um top 10 num Mundial é muito motivador. Passei o ano a trabalhar para a equipa e, agora, no final da época, alcançar este resultado é muito gratificante.”

A temporada de estreia de Eulálio no WorldTour, com a Bahrain-Victorious, foi uma caminhada de afirmação. Vindo da ABTF-Feirense, deixara já a promessa do seu talento na Volta a Portugal de 2024, onde vestiu a camisola amarela durante cinco etapas — conquistada na mítica Torre e perdida na Senhora da Graça, à beira do sonho. Kigali surge, agora, como a confirmação de que o futuro pode ser ainda maior.

Na corrida deste Mundial, Eulálio soube estar sempre no lugar certo. Leu os movimentos decisivos e integrou, na fase final, um terceiro grupo de perseguição a Tadej Pogacar. Ali, pedalou lado a lado com nomes consagrados como Primoz Roglic, Juan Ayuso, Giulio Ciccone, Tom Skujins ou Isaac Del Toro. Um retrato da sua maturidade precoce.

O selecionador nacional, José Poeira, não poupou nos elogios: “Foi uma corrida muito difícil, com um acumulado duríssimo, e o Afonso soube gerir muito bem. Mas não basta saber gerir, é preciso ter capacidade, e ele mostrou que a tem. Chegar com os melhores, deixando para trás ciclistas de grande valor, e terminar em nono lugar é espetacular. Não podemos esquecer que o Afonso só tem 23 anos. É muito positivo ver um corredor tão jovem alcançar este resultado numa prova desta dimensão.”

E recordou ainda como as cicatrizes do passado se transformaram em força: “Já no ano passado esteve no Mundial, mas teve problemas mecânicos e uma queda que o impediram de mostrar todo o potencial. Essa experiência ajudou-o agora e um ano depois está entre os dez primeiros de um Campeonato do Mundo tão duro. É muito positivo ver um corredor tão jovem alcançar este resultado numa prova desta dimensão.”

Afonso Eulálio não venceu a corrida. Mas, para Portugal, o seu nono lugar em Kigali brilha como uma vitória — talvez a primeira de muitas que o futuro lhe reserva.

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Crédito da imagem: FPC

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