A marca vê esta fantástica Cannondale Scalpel Carbon SE LTD de duas formas: diz que é uma bike de XC em tudo alinhada com a versão de 100 mm, que bem se conhece da Taça do Mundo de XC, mas refere que nesta versão SE é possível aproveitar um pouco melhor alguns trilhos mais exigentes e virados para o trail…

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Concordamos a 100%. Pelas nossas experiências com ela, sentimos que é uma bicicleta de XC. E de qualquer percurso de BTT onde andamos ao fim de semana, umas vezes com mais intensidade que outros.

Contudo, quando o “desafio” é um pouco mais exigente e os trilhos “fogem” mais para a parte técnica, a subir ou a descer, e talvez até no campo do enduro ligeiro, então aí as capacidades efetivas deste modelo saltam à vista.

Trata-se de um modelo topo de gama, dispendioso, bem equipado a todos os níveis, e com as características típicas das melhores bicicletas da nossa “praça”. Que isto fique bem claro, pois todas as sensações que esta Cannondale Scalpel Carbon SE LTD transmite merecem que assim seja.

Lefty Ocho Carbon com 120 mm

É por onde temos de começar… Esta suspensão é diferente do habitual, mas é um conceito que já não é novo. É uma versão reformulada e que se “estica” até aos 120 mm de curso para equipar a Scalpel SE LTD. É o ex-líbris do nível de equipamento SE, como referimos por aqui por alturas do lançamento.

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Diz a marca que é uma adaptação “para adequá-la a uma utilização mais agressiva”. O peso da suspensão frontal Lefty Ocho Carbon 120 é de 1.550 gramas (menos 250 gramas que a Lefty de base) e integra regulações da pressão do ar e da recuperação e compressão a baixa velocidade.

O bloqueio é no seletor integrado no braço único da suspensão, pois comando no guiador é coisa que aqui não encontramos. Um upgrade a efetuar…

Mas… e a performance? Estupenda! É algo diferente e que é exclusivo da marca, ter apenas um braço de construção no amortecimento frontal. E é algo que não nos passa pelas mãos todos os dias…

A leitura do terreno é excelente, nada ficando atrás do formato mais convencional. Nada de desequilíbrios, reações incríveis nas descidas técnicas e um trabalho praticamente perfeito nas subidas repletas de pedra soltas que teimámos em trepar.

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Também faz um grande trabalho a complementar a ação do amortecedor traseiro RockShox SID Luxe Ultimate. No capítulo do amortecimento, nada a apontar; pelo contrário, está tudo ao nível do topo da gama que esta bicicleta ocupa. E à altura do que é preciso para a utilização a que se destina.

Carbono Ballistec

É este material que faz com que o quadro da Cannondale Scalpel Carbon SE LTD pese apenas 2.190 gramas (incluindo amortecedor), menos 200 gramas do que o conceito anterior. Neste segmento, está dentro da média, sendo mais pesado que a versão do mesmo quadro na bike de XC com o mesmo nome.

A geometria também é praticamente a mesma, o que faz com que se consiga encaixar bem o corpo e ficar confortável logo na primeira volta. O resto vem com o tempo.

O cockpit clean e com guiador de 780 mm adequa-se ao que é preciso para termos controlo total neste tipo de trilhos.

Esta combinação de quadro com créditos firmados e suspensões com 120 mm dão bons “frutos”: subidas com raízes, pedras e regos não são sinónimo de roda de trás a derrapar em demasia.

A rolar, os pneus montados vão dificultar-nos a vida se for em alcatrão. Na terra e nas pedras, cumprem a missão, mas não impressionam. Opiniões divididas e de que falamos mais à frente neste artigo.

A descer, aí sim revela-se o caracter trail desta bike: veloz, estável, responsiva na direção, ágil na transposição de tudo o que vai aparecendo à nossa frente. E ao mesmo tempo confortável, ressalve-se.

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As rodas HollowGram 25 em carbono “trabalham” bastante bem nesse sentido, ajudando a absorver e trabalhando em boa medida com o sistema que permite à secção traseira, fruto do design das escoras, torcer na medida certa. Sente-se essa ação, há tração em praticamente todos os momentos.

É verdade que pelo preço poderíamos querer encontrar aqui um par de rodas um pouco mais acima da escala de leveza e qualidade, mas, atendendo à vocação trail deste modelo, as escolhidas revelam rigidez e uma performance que não nos deixa razão de queixa, na verdade.

Nota para o facto de a roda da frente ter integrado um sensor que nos dá algumas leituras das voltas que damos. Nada de muito elaborado e longe do que temos à nossa disposição em qualquer GPS, mas algo interessante e que é de louvar. O emparelhamento com a Cannondale App no smartphone é muito fácil.

Equipamento de topo

Um valor acima dos 8.000 euros, além de englobar um quadro a este nível e suspensões acima da média, tem de estar justificado com componentes e elementos de qualidade inquestionável.

É o caso. E tudo material que conhecemos bem, tirando talvez o espigão telescópico Cannondale DownLow Dropper de 125 mm, pois foi a primeira vez que o utilizámos.

Sem surpresas e sem eletrónica pelo meio, a transmissão está a cargo da Sram com o conjunto X01 Eagle de 12x, cassete 10-52t combinada com um pedaleiro de 34 dentes da Truvativ que transpira robustez. Funcionamento sem mácula. Este grupo, tal como o Shimano ao mesmo nível, não compromete.

A travagem também está em bom nível, pelo menos sem reparos a fazer (como mencionamos mais à frente), cortesia do kit SRAM Level TLM. Discos de 180 mm à frente e 160 mm atrás, naturalmente.

Alguns destaques:

STASH Kit integrado

Basicamente, é um kit com um pequeno conjunto de chaves úteis para a manutenção de bike a meio de uma volta. Entre dois utilizadores ao fim de mais de 1.000 kms, temos a sorte de poder dizer que só o tivemos de utilizar uma vez e para um ajuste simples a meio de uma volta mais técnica em trilhos da Serra de Montejunto.

Está instalado num ponto do quadro em que não incomoda, a meio do downtube, por baixo da grade de bidon. Não produz ruídos “chatos”, não vibra, não estorva. E também não interfere em nada na possibilidade de instalar duas grades para o efeito.

Travagem em bom nível

Uma boa supresa. Fugindo à Shimano neste ponto, esta bike apresenta-se com um conjunto SRAM Level TLM com discos de 180 mm à frente e 160 mm atrás.

Desempenho muito bom. Travagem eficaz e sem acusar fadiga mesmo ao fim de uns bons metros a descer e com forte uso dos travões. Como a bicicleta nos chegou já com uns bons kms, tem sido preciso fazer um ajuste ou outro, mas nada de especial.

Leveza?

Temos de confessar que, por este preço, este modelo podia ser um “nadinha” mais leve. Várias vezes pesada e várias vezes a mostrar peso entre os 11 e os 12 kgs. Isto com pedais e não os que aparecem nestas fotos, mas sim uns Shimano XTR.

Se fosse um modelo exclusivamente dedicado ao XC, como a sua irmã com curso de 100 mm na suspensão (a que anda nas mãos de Avancini na Taça do Mundo de XCO), não haveria perdão. Sendo esta versão “vitaminada” até aos 120 mm atrás e à frente, o peso está adequado.

Cockpit ‘sensível’

Isto quer dizer que transmite boas sensações a cada momento. Bastante controlo com o guiador Cannondale 1 Riser em carbono (780 mm), cabos arrumadinhos, avanço na medida certa neste tamanho M e uns belos punhos ESI Chunky de silicone, os nossos preferidos.

A nossa avaliação

Com as várias opções que hoje encontramos na área do downcountry no portfólio de várias marcas, esta versão mais trail da Scalpel LTD tem de se “por a pau”. Já pede uma revisão de geometria? Talvez… Mas o que é certo é que se trata de uma bike acima da média.

Consegue acelerar rápido. Consegue subir bem, desde que tenhamos forma física à medida dos atributos da bike. E não há dúvida de que sabe descer muito, muito bem, não fosse esta versão aos 120 mm e a uma “postura” bem mais atrativa para transpor obstáculos a boa velocidade, para saltar.

Em voltas mais longas, acima dos 100 kms, não nos fez acusar cansaço, devido a um conforto efetivo em cima da bicicleta.

A posição do corpo é assumidamente mais direita, o amortecimento faz a sua parte e as rodas completam um conjunto que se revela propício às tiradas longas.

Uma bela bike, que “vai a todas”: fora de ambientes de competição, permite praticar o XC tal como a versão de 100 mm que está no topo da gama; em voltas do tipo maratona, maiores, é uma máquina eficaz e confortável; e num regime mais trail e all mountain, até, é uma “delícia” dos single tracks, especialmente a descer.

Por este preço, diga-se que teria de ser assim, não? Contudo, há pontos a melhorar, como vimos, pontos estes que a Cannondale deve pronta para ajustar muito em breve.

Pontos mais positivos

  • A fantástica suspensão frontal Lefty Ocho Carbon 120, exclusiva da marca, é um portento da engenharia e do desempenho. Não muda a nossa forma de andar, não demonstra diferenças face aos formatos mais convencionais, muito pelo contrário. Aprovadíssima!
  • A robustez transmitida pela bicicleta, com especial nota para o quadro, sem que isto se reflita no desempenho, que está em altas.
  • A relativa inovação do Cannondale Wheel Sensor integrado na roda e a comunicar com a app móvel para o smartphone. Não fornece informações ao nível de muitos sistemas do género, mas é interessante.
  • Os conjuntos Sram selecionados para a transmissão e travagem. A qualidade do costume neste patamar mais topo de gama.

Pontos a melhorar

  • Um ou outro ruído “parasita” que nos chateia agora ao fim de algumas centenas de kms… Mas temos a certeza que a próxima revisão deixará tudo no sítio. Até porque nos parece bike para aguentar muito “abuso” sem acusar seja que problema for…
  • O binómio rodas-pneus, por este preços, podia estar um ligeiro patamar acima. Os Maxxis Ardent Race de 2.40 e Recon Race de 2.35 dividem opiniões deste lado: numas situações favoreceram-nos a curvar, noutras perderam um pouco de tração a subir pedras com ligeira humidade…
  • Faz falta um sistema para bloquear as suspensões no guiador. Não está presente.
  • Se a bike fosse nossa, o selim seria das primeiras coisas a trocar (por um modelo mais curto e ergonómico).

Especificações da Cannondale Scalpel Carbon SE LTD Lefty:

  • Amortecedor: RockShox SIDLuxe Ultimate, 2-Pos mode adjust
  • Suspensão: Lefty Ocho Carbon 120 mm
  • Manípulo: SRAM X01 Eagle, 12x
  • Desviador traseiro: SRAM X01 Eagle, 12x
  • Pedaleiro: Truvativ Stylo C Eagle DUB, 34t
  • Cassete: SRAM XG-1295, XO1 Eagle, 10-52t, 12x
  • Corrente: SRAM X01 Eagle, 12x
  • Travões: SRAM Level TLM com discos de 180/160 mm CenterLine
  • Rodas: HollowGram 25, Superlight Hi-Impact Carbon, 28h, 25 mm IW
  • Pneu frente: Maxxis Ardent Race, 29 x 2.40″, EXO Protection
  • Pneu trás: Maxxis Recon Race, 29 x 2.35″, EXO Protection
  • Selim: Fabric Scoop Flat Race
  • Espigão telescópico: Cannondale DownLow Dropper, 31.6, 125 mm (M)
  • Guiador: Cannondale 1 Riser, carbono, 15 mm rise, 780 mm
  • Punhos: ESI Chunky Silicone
  • Cannondale Wheel Sensor + Cannondale App
  • Peso: 11,4 kg
  • Preço: 8.399 euros

Site oficial:

Todas as fotos:

Galeria de pormenores:

Neste teste:

  • Texto e teste: Jorge D. Lopes e Rodrigo Vicente
  • Fotos e vídeo: Rodrigo Vicente
  • Rider nas imagens: Rodrigo Vicente

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