Em 2022 todas as equipas “acordaram” para a questão dos pontos. O primeiro triénio desta nova forma de atribuir licenças está a terminar e vai-se assistir à promoção e despromoção no ciclismo. Não está a ser nada pacífico e até os Mundiais vão sofrer com esta luta que, a cada dia que passa, se torna mais desesperada para algumas formações.

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A Lotto Soudal tem sido a estrutura que desde o início do ano geriu o seu calendário para somar pontos. Começou bem aflita, ainda não está numa situação confortável, mas já conseguiu colocar-se numa menos mal, digamos assim.

Foto: Lotto Soudal

Em setembro, por exemplo, aposta tudo nas várias clássicas (ver imagem em baixo publicada pela Lotto Soudal nas redes sociais) do calendário. Deixou de fora da Vuelta muitas das suas principais figuras para ir atrás de pontos nas corridas de um dia. É que uma vitória de etapa na Volta a Espanha dá 100 pontos, numa clássica 1.1, 125. Esta forma de pontuar está a ser muito criticada.

É penúltima entre as equipas World Tour, à frente da Israel-Premier Tech e mesmo que a Lotto Soudal seja despromovida deverá conseguir os wildcards para todas as grandes provas do principal calendário.

Além destas duas equipas e ainda com muitos pontos em disputa, Movistar, EF Education-Easy Post, BikeExchange-Jayco e Cofidis estão numa intensa luta para escapar à despromoção para o segundo escalão (ProTeam).

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O que é que isto significa? Que vários selecionadores dos países que já olham para os Mundiais na Austrália (18 a 25 de setembro) estão com problemas em convocar ciclistas.

Com a necessidade de pontuar, as equipas não estão a libertar os ciclistas para irem às seleções. Preferem colocá-los nas várias provas em que ainda possam somar valiosos pontos.

O problema de Espanha

A seleção espanhola tem sido das que mais “barulho” tem feito perante esta situação. A Movistar não está a libertar os seus ciclistas.

Alejandro Valverde, por exemplo, um campeão do mundo e em final de carreira, quererá ir a Wollongong, mas a sua equipa prefere que a sua estrela dê uma ajuda para garantir a permanência no World Tour.

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Não foi assim há tanto tempo que a Movistar vencia ou estava nos lugares de topo no ranking. Porém, com a quebra de Valverde e sem um ou vários substitutos à altura para somar bons resultados, a histórica equipa espanhola – mais de 40 anos na estrada – vê-se numa posição delicada. A luta na geral da Vuelta com Enric Mas poderá ser uma tábua de salvação.

“Pagam-me para criar a melhor equipa, com os ciclistas que considero oportunos. Mas desta vez não será possível”, desabafou ao As Pascual Momparler.

Juan Ayuso é uma das duas confirmações da seleção espanhola

O selecionador espanhol admite mesmo que talvez não haja representação do país no contrarrelógio. Porém, o pior chegou a ser equacionado. Numa outra entrevista, à Marca, Momparler referiu que chegou a estar em cima da mesa Espanha nem ir aos Mundiais.

Afastada essa hipótese, também foi ponderada uma mão pesada para os convocados que não fossem à Austrália. Ou seja, seriam sancionados, algo que abriria uma guerra entre federação e equipas, com os ciclistas a serem apanhados no meio desta batalha.

“Agora mesmo, dos oito que tinha pensado, só tenho dois corredores que estão disponíveis para ir [à Austrália]: Juan Ayuso e Marc Soler”, referiu Momparler.

Marc Soler também foi chamado e a UAE Team Emirates não colocou entraves

Ambos são da UAE Team Emirates, equipa confortável na questão dos pontos e que não está a colocar qualquer entrave na ida dos seus ciclistas aos Mundiais.

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Porém, mesmo também longe da luta pela despromoção, a INEOS Grenadiers não parece estar com muita vontade de libertar o campeão espanhol Carlos Rodríguez. A luta é outra: ultrapassar a Jumbo-Visma, líder do ranking que, de repente, todos prestam atenção.

Jesús Herrada – recente vencedor de uma etapa na Vuelta – e Ion Izagirre seriam duas boas escolhas, mas a Cofidis também entrou numa fase de gestão para garantir a licença Word Tour para os próximos três anos.

Pello Bilbao (Bahrain-Victorious) disse ao selecionador que irá terminar a temporada após as clássicas do Canadá, enquanto Mikel Landa e Luis León Sánchez também tiveram uma época longa e uma viagem à Austrália poderá não entrar nos seus planos.

Mundiais também dão pontos, mas…

A Colômbia também não contará com dois importantes ciclistas. Rigoberto Urán e Esteban Chaves ficaram de fora da convocatória. São da EF Education-EasyPost e entre Mundiais e pontos, a escolha é somar pontos.

Os Mundiais também atribuem pontos. Porém, alguns destes ciclistas só competem numa prova, eventualmente poderão fazer o contrarrelógio. Uma vitória na corrida em linha vale 600 pontos, no esforço individual 350.

Mesmo com pontos a serem atribuídos até ao 60º posto, ir à Austrália implica uma viagem longa, vários dias antes para os ciclistas se habituarem à diferença horária e ao clima.

Ou seja, neste espaço de tempo poderão fazer mais que uma corrida na Europa e talvez ainda incluir as clássicas do Canadá.

Tabela dos pontos

Por agora, as equipas estão concentradas em tentar salvar-se das despromoção, enquanto Alpecin-Deceuninck e Arkéa Samsic aguardam pela confirmação da subida ao World Tour.

Foto: Alpecin-Deceuninck

A equipa francesa sofreu um revés com a desqualificação de Nairo Quintana da Volta a França, mas só um final de época muito mau tirará à equipa a desejada licença World Tour para os próximos três anos.

Apesar das muitas críticas ao sistema de pontos e, aqui e ali, também ao próprio sistema de promoção/despromoção, alguma mudança só irá acontecer a partir de 2023, principalmente no que diz respeito ao estranho sistema de pontos que leva uma Lotto Soudal, por exemplo, a colocar as suas estrelas em provas de categoria mais baixa e não na Vuelta.

Tal como a Movistar, a formação belga é das mais antigas no pelotão, com quase 40 anos de história.

Recorde-se que a UCI decidiu começar a atribuir as 18 licenças World Tour para um triénio, iniciando também este novo sistema de promoção e despromoção. Só contam para o ranking os pontos dos dez melhores ciclistas de cada equipa.

Para ficar a conhecer ao pormenor este sistema de pontos, visita o site Lanterne Rouge, no qual é possível não só acompanhar as atualizações na classificação, como ver a tabela de atribuição de pontos.

Fotografia principal e de Alejandro Valverde: Real Federación Española de Ciclismo

Fotografias Ayuso e Soler: Sprint Cycling Agency/UAE Team Emirates

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