A Irlanda não estará nos próximos mundiais de ciclismo. A federação tomou a difícil decisão de não viajar para a Austrália, justificando com questões financeiras. Os elevados custos que implicaria levar uma delegação àquele país fez o organismo optar por apostar noutras provas.

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A Cycling Ireland salientou que não foi “uma decisão tomada de ânimo leve” ficar de fora de uma competição tão aguardada pelos ciclistas durante a época, sejam eles de elite, sub-23 ou juniores.

“Com o exponencial aumento dos custos para se estar presente em eventos no pós-covid, incluindo alguns que já vivemos este ano com voos e estadias a subirem entre 70/80% comparativamente com edições anteriores, tomámos a decisão de dar prioridade a outros eventos de alta competição e de atividades de desenvolvimento”, salientou Matt McKerrow, presidente da Cycling Ireland.

Já vimos este ano vários países tomarem decisões estratégicas na presença de eventos, baseadas nos recursos disponíveis e nos orçamentos

Olhar para todas as vertentes

Ian Dyer, diretor de alta performance, salienta também a questão do orçamento, referindo como a federação tem a estratégia de apontar a eventos de todas as vertentes que tem na sua alçada. Ou seja, não se concentrará apenas na estrada, nem nos Mundiais.

“Com os gastos em todos os eventos estando a tornarem-se tão altos no pós-covid, é importante que os resultados previstos na participação num evento esteja vinculado aos principais objetivos de desenvolvimento, um processo de qualificação ou sucesso olímpico e paralímpico”, referiu.

Não podes simplesmente mandá-los [ciclistas] numa alegre viagem à Austrália se eles não estão num bom momento de forma

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Isto é, nos Mundiais, a opinião é que “o sucesso está longe de estar assegurado”, segundo Dyer.

O responsável comparou a recente participação nos Europeus de estrada, nos vários escalões. Afirmou que foi “compromisso significativo” que a Cycling Ireland considerou que poderia “gerir de forma eficaz”.

“Não é garantido que, no futuro, vamos estar presentes em tudo para o que nos qualificaremos, ou que preenchamos todas as vagas que teremos. Já vimos este ano vários países tomarem decisões estratégicas na presença de eventos, baseadas nos recursos disponíveis e nos orçamentos”, reforçou.

Dyer salientou que a Irlanda não está sozinha neste tipo de decisões, que deixará ciclistas como Ryan Mullen e Eddie Dunbar sem Mundiais.

Sam Bennett – que recentemente venceu duas etapas na Vuelta, antes de abandonar devido à covid-19 – não era uma presença garantida, já o que o percurso de Wollongong não é o mais benéfico para os sprinters mais puros.

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Desilusão

Sem surpresa, o anúncio da decisão foi recebido com desilusão entre os irlandeses. Uma das vozes mais críticas foi Sean Kelly, ex-ciclista e uma das referências máximas do ciclismo naquele país.

Compreendo que é muito dinheiro, muito longe e, logisticamente, é um pesadelo. Apoio a decisão

Terminou por duas vezes em terceiro nos Mundiais, na década de 80, e recordou como chegou a pagar do próprio bolso para ir competir. No entanto, considera que a decisão da Cycling Ireland também se prende com a vontade dos próprios ciclistas.

“Tens de olhar para a lista de ciclistas e ver quem quer ir e quer mesmo pedalar. Não podes simplesmente mandá-los numa alegre viagem à Austrália se eles não estão num bom momento de forma”, disse Sean Kelly ao Cycling Weekly.

Já Ryan Mullen, corredor da Bora-Hansgrohe, mostrou-se desiludido, mas compreende as limitações financeiras. E até tentou brincar um pouco com a situação.

“Em última análise, eu não estava entusiasmado para ir à Austrália só para ser deixado para trás. Posso fazer isso na Europa. Porque iria à Austrália”, brincou.

Acrescentou ao mesmo site num tom mais sério, mas não totalmente: “Compreendo que é muito dinheiro, muito longe e, logisticamente, é um pesadelo. Apoio a decisão. Tenho a certeza que o Eddie Dunbar poderia estar bem, mas provavelmente ele não quer ir à Austrália e ser picado por uma aranha.”

Fotografia principal: Facebook Cycling Ireland

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