Não apenas por a Ghost ser a marca oficial do Titan Desert há já algum tempo, ou por a Ghost Lector ser a bicicleta oficial da prova. Levámos para Marrocos uma nova “companheira”, a Ghost Lector FS Universal 2022, também porque a marca alemã endereçou-nos diretamente um convite para participarmos com esta bicicleta de suspensão total.

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E queremos agora contar como se comportou a Ghost Lector ao longo de toda a prova, apesar de já a conhecermos bastante bem antes da partida para o deserto. Já a estávamos a utilizar há algumas semanas tendo em vista a review completa aqui em GoRide.pt, que podes ler aqui.

Por outro lado, ao aceitarmos o convite de participar no Titan Desert deste ano com a Ghost Lector, concordámos também com a marca prepararmos nós a bike ao nosso gosto, pois pela frente estavam mais de 650 kms na companhia da “máquina”.

Ou seja, preparámos a prova com a bicicleta, com a devida antecedência, e cumprimos todas as etapas em Marrocos com ela, sendo que antes disso fizemos duas alterações consideráveis, além dos “normais” ajustes ergonómicos: instalámos umas rodas de carbono Bontrager Kovee Pro 30 TLR Boost 29 emprestadas pela Trek Portugal e um grupo de transmissão Sram XX1 AXS por empréstimo da Sram Europa. Mas, antes de avançarmos mais, aqui ficam alguns dados sobre o que se passou na prova.

O Titan Desert de 2022

Está conotado como o “Dakar das bicicletas” por ser uma prova de BTT por etapas bastante dura, não apenas pela dificuldade das etapas, mas também pelas elevadas temperaturas que normalmente se fazem sentir em Maio no norte de África, pelo vento e pelos caminhos com muita pedra e areia.

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Mas também porque os participantes dormem em tendas com aproximadamente 15 metros quadrados para cada três pessoas. Mais: uma das etapas é a etapa maratona, que nos leva a dormir numa tenda comum nessa noite, e isto numa autêntica filosofia de “todos ao molho fé em Deus”. Sem qualquer colchão, cobertor ou outra e “mordomia”.

Portanto, quem deseja dormir com alguma comodidade e não passar frio tem que transportar tanto o colchão como o saco-cama na bicicleta ao longo dos 120 kms. Bem, 120 kms não, mas sim 240 kms para aqueles que não desejam deixar por lá estes itens pessoais (em jeito de oferta ao povo marroquino)…

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A edição deste ano ficou marcada pelas elevadas temperaturas, a rondarem os 45 graus, e pelo vento, que em alguns dias soprou contra e a 32 kms/hora, por exemplo. Estes fatores contribuem para um desgaste acentuado, mais acelerado, ainda para mais para os europeus que tiveram semanas anteriores com frio e chuva nos seus países de origem. O corpo nunca está preparado para este “choque”.

Neste sentido, a boa alimentação é fundamental. A organização tem-se esforçado para que a alimentação seja cada vez melhor e mais parecida com a alimentação europeia, mas nos temperos é bem diferente e o nosso corpo reage e precisa de habituação. Outro factor importante é a água; apenas deveremos ingerir água engarrafada; mesmo para lavar os dentes é essa a opção mais segura para evitarmos problemas de saúde, à partida.

Em prova, a organização “obriga” a que cada concorrente inicie cada etapa com 3 litros de água, em que estes são distribuídos entre a mochila e os bidons. No nosso caso, cada etapa começou com 2 litros na mochila e meio litro em cada um dos bidons.

A organização “obriga” a que cada concorrente inicie cada etapa com 3 litros de água.

Ao longo da cada etapa todos os atletas são obrigados a passar pelos três ou quatro controlos de passagem e também pelas estações de hidratação: caso algum atleta não o faça, é penalizado em cinco horas. A organização fornece o track de cada etapa, apesar de cada participante poder aventurar-se com base na navegação. Tem apenas de passar em todos os pontos referidos acima.

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São seis etapas e um total de 650 kms, com uma altimetria relativamente baixa face à distância percorrida, mas com grandes “armadilhas”. Um exemplo disso são os extensos bancos de areia, em que a bicicleta vai em esforço contínuo e num movimento de pedalada constante. Pressões bastante baixas nos pneus.

Na etapa das dunas, a juntar ao esforço normal, não temos outra solução que não caminharmos ao longo de 5/6 kms com a bicicleta à mão. Em certos momentos, montamos, fechamos os olhos, puxamos o corpo para trás e mandamo-nos pela duna abaixo… Resulta!

Alguns números ao longo da prova…

Sem dúvida que esta foi das edições mais duras do Titan Desert: nunca se tinha realizado tão tarde no calendário do ano, e nunca tinha sido tão a sul. A temperatura facilmente chegava aos 44/45 graus à hora das etapas, e quem chegava duas ou mais horas depois dos primeiros enfrentava temperaturas ainda mais elevadas (mais de 60% dos participantes, refira-se).

Os nossos números no Titan:

  • Concorrentes inscritos: 523
  • Concorrentes que terminaram: 410
  • O nosso total: 638 kms
  • Água consumida: 17 litros
  • Sais Born Iso Pro + e água = 12 litros
  • Géis normais Born: 25
  • Géis com cafeína Born: 3
  • Barras energéticas: 13
  • Barras de proteína: 4
  • Magnésio em frasco Born: 5
  • Furos: 0
  • Transmissão Sram AXS: bateria substituída com 445 kms, aquando da luz vermelha a piscar pela primeira vez
  • Pressão pneu frente: 2 bar
  • Pressão pneu trás: 2.2 bar
  • Incidências mecânicas: 0
  • Quedas: 3
  • Posição na categoria Adventure: 5º lugar (sem assistência mecânica e de fisioterapia, com oorigatoriedade de pernoitar em tenda comum sem cama)

A Ghost Lector FS Universal no Titan

Esta bike é daquelas que faz tudo bem. Rola bem, desce bem e, por incrível que pareça, sobe bem. De uma forma resumida, não é a melhor em nada mas é a numero dois ou três em tudo, passamos a expressão. É um pouco pesada, conforme já referimos no anterior teste, no entanto tem um desempenho eficaz, com uma leitura de terreno perfeita. Anda mesmo para a frente, gostámos!

O Titan Desert é uma maratona em que a cabeça manda muito, pois a gestão do esforço, da resistência e do sofrimento é o fator que mais dita o sucesso. Frequentemente apanhamos retas com 6 ou 7 kms onde conseguimos ver o fim e que podemos rolar a 45 kms/hora com vento de costas…

Ou na maior parte das vezes com vento contra, alturas em que a bike não sai dos 15 kms. Em todos os cenários, esta Ghost revelou ser uma “máquina” cómoda mas rápida, talhada para este tipo de maratonas.

Têm noção do que é realizar mais de 30 kms seguidos sobre pedra solta com relativa dimensão, pressões altas para não furar e velocidade elevada? Tudo na bike trepida e é essencial o reaperto de vários elementos e parafusos antes de arrancarmos na etapa do dia seguinte. Todos os componentes e acessórios montados na bike são sujeitos a pressões constantes e, de facto, o fabrico tem que ser de uma qualidade elevada. A Ghost mostrou-se à altura.

Rodas Bontrager Kovee Pro 30 TLR Boost 29

Admitimos que gostamos bastante da performance e fiabilidade destas Kovee Pro 30, e não é de agora! Um dos nossos melhores amigos, companheiro de treino e de grandes maratonas de BTT, é um verdadeiro “animal” tanto em performance de andamento como a “destruir” material, e foi com ele que nossa curiosidade em experimentar estas rodas da Bontrager se evidenciou.

A maior parte das Trek de BTT que temos testado vem equipadas com estas rodas, tal como acontece com a Trek Supercaliber na versão que testámos em tempos. Agora, colocámos à prova estas Bontrager numa prova repleta de pedra, areia e pistas muito duras. Umas rodas em carbono numa prova deste calibre e com esta especificidade têm sempre de ser boas e de elevada resistência.

A rigidez das rodas é soberba, com baixo peso, fazendo com que a relação qualidade/preço saia reforçada. Cubos Rapid  Drive 108, que ajudam a que não exista qualquer quebra ou perda de rendimento, e aros em carbono OCLV. Mais: tubeless ready, largura interior de 29 mm e exterior de 36 mm, o que permite ter mais suporte para o pneu.

Nesta prova montámos um pneu dianteiro 2.35 e um 2.25 na rodas traseira, pois procurámos uma relação perfeita para rolar bem e ao mesmo tempo assegurar um bom grip na frente da bike, para enfrentar as curvas rápidas. Este ano não tivemos qualquer furo ao longo da prova, talvez por termos utilizado sempre pressões elevadas, e assim conseguimos rolar muito bem e enfrentar ainda melhor as longas etapas de 120 kms.

A seguir ao quadro de uma bicicleta, as rodas assumem um papel preponderante quando procuramos leveza e o melhor desempenho. E, em suma, estas Bontrager Kovee Pro 30, com um preço de aproximadamente 700 euros (cada uma, não o par) podem ser um excelente investimento para quem procura rodas novas para a BTT.

Bontrager Carbon Care (with Cam McCaul!)

Ainda para mais, a Trek tem para estas (e outras) rodas um serviço de garantia vitalícia (para o primeiro dono). Praticamente todos os conjuntos de rodas de carbono da Bontrager estão cobertos pelo programa fidelidade de Rodas Carbon Care. Este programa assegura a reparação ou substituição gratuita caso as rodas tenham qualquer dano estrutural durante a utilização nos primeiros dois anos. Mais informação no site oficial da marca.

Transmissão Sram XX1 AXS

Por vezes temos dúvidas se vale a pena fazer upgrade para um sistema eletrónico de transmissão. Nas bicicletas de estrada são uma maravilha, é certo, e têm um funcionamento irrepreensível. Mas nas BTTs é diferente, pois sabemos que estão sujeitas a condições muito mais agressivas, desde os diferentes tipos de terrenos aos factores climatéricos.

No Titan, as condições diferem de dia para dia, mas o terreno é sempre desafiante. E este grupo Sram XX1 AXS, neste caso no sistema de upgrade como é vendido pela marca diretamente, revelou ser de uma eficácia e de uma suavidade extremas. Tudo funciona na perfeição e ao longo dos 650 kms (e treinos prévios) nunca sentimos qualquer mudança engrenar sem precisão, tanto para cima como para baixo.

O desviador traz a bateria muito bem fixada na parte posterior, ainda para mais com uma proteção suplementar que a protege em caso de impacto ou queda. O desviador é acionado com um pequeno manípulo montado no guiador, mais pequeno do que o do sistema AXS GX, sendo que a informação é enviada por wireless.

Com este kit AXS tudo é simples, com uma passagem de mudança precisa e rápida. E não existem quaisquer cabos, tudo é clean. Até a montagem é rápida: em cinco minutos temos um sistema sem fios que emparelhamos em segundos o manípulo com o desviador. Basta premir o botão de ambos para acionar a luz verde e estamos prontos a desfrutar desta maravilha concebida pela Sram.

Quanto à bateria, e segundo dados do fabricante, a duração é de aproximadamente 20 horas. Em kms e na realidade dos trilhos no Titan, percorremos cerca de 445 kms com bateria e com a luz verde a aparecer no desviador. Segundo a Sram, a luz verde indica que a bateria está totalmente carregada ou com energia. Já a luz vermelha começa a aparecer (fixa) com carga abaixo de 50%; quando começa a piscar a vermelho, é porque é necessário recarregar. Há um sistema que desliga automaticamente o conjunto e a eletrónica quando a bicicleta não está a ser utilizada.

A app para smartphone Sram AXS

Para finalizar, e ainda em relação a este conjunto de transmissão eletrónica da Sram, refira-se que podemos instalar no smartphone a app Sram AXS, que faz com que o sistema emparelhe com o mesmo e nos mostre tudo o que se passa. Podemos ver inúmeros dados e informações com a carga da bateria, os parâmetros de acionamento do sistema, fazer personalização, ajudtar configurações e proceder a atualizações do grupo.

Dar cerca de 1.000 euros (o preço aproximado do conjunto Sram XX1 AXS) por algo deste género é um upgrade de custo elevado . Há bicicletas que custam menos! Mas acaba por ser um investimento, isso é certo, até porque criamos habituação e nunca mais queremos de outra coisa!

Para quem não quer gastar tanto, está também disponível o conjunto eletrónico Sram GX AXS, que também já testámos e garantimos que é igualmente fiável (apesar de mais pesado em vários componentes e com um manípulo um pouco maior…), com um preço a rondar os 650 euros.

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