Se há uns tempos perguntássemos aos especialistas se as bicicletas de gravel são iguais às de ciclocrosse, a resposta teria sido um redondo não. Hoje, contudo, as diferenças existentes entre estes dois tipos de bicicletas estão mais esbatidas que nunca…

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No gravel, neste momento, tudo é reatividade e até competição quando olhamos para as características das bicicletas destinadas a essa (nova) vertente do ciclismo. Há sensações mais fortes a aparecerem, indo além da tradicional aventura de bikepacking, longa e tranquila.

Talvez por isso, os fabricantes de bicicletas, apesar de diferenciarem a categoria gravel da de ciclocrosse, não conseguem impedir que as “máquinas” se aproximem cada vez mais. Até já partilham quadros… Então, é efetivamente necessário ter uma bicicleta de gravel para praticá-lo ou uma de ciclocrosse serve? E vice-versa, é possível competir em ciclocrosse com uma bicicleta de gravel?

Lembrámo-nos da Specialized Cruz, por exemplo, que a marca “atira” tanto para o gravel como para o ciclocrosse, e também da Cannondale SuperSix Evo mais recente, que recorrem ao mesmo quadro para ambas as vertentes, e fomos olhar para as mais importantes bicicletas do momento nestes segmentos.

Afastámo-nos um pouco das gravel de cariz mais aventureiro, fomos em busca de pontos em comum, mesmo sabendo que é complicado encontrar um padrão idêntico em ambos os tipos de bicicletas. Em termos gerais, estas são algumas das conclusões que obtivemos de acordo com a nossa experiência e visão do mercado. Esperamos que ajudem!

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Os quadros

Há que fazer duas diferenciações, uma na geometria e outra no equipamento/capacidade de bagagem. Basicamente, vemos que as geometrias tendem a diferir pouco entre o gravel e o ciclocrosse.

De uma forma geral, os modelos de ciclocrosse apresentam uma geometria mais compacta, com uma distância entre eixos mais “comedida”, o que acaba por dar uma maior reatividade à custa de perdermos um pouco de equilíbrio em linha reta, por assim dizer.

Há bicicletas de ciclocrosse com longitudes que superam por pouco os 1.000 mm (em tamanhos M), enquanto nos modelos de gravel, aqueles mais virados para a competição e velocidade, esta medida cresce entre 20 a 30 mm.

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Ou seja, não há assim uma diferença tão grande. Mas atenção que estamos a comparar modelos de ciclocrosse com os de gravel mais “agressivos” e talhados para andar rápido.

Outro exemplo dessa reatividade crescente nas gravel é que as escoras são praticamente semelhantes às dos modelos de ciclocrosse, talvez um pouco mais longas em algumas bicicletas mais de viagem.

Outras características que as diferenciam são as alturas da frente, que afetam a posição do corpo e o controlo: uma bicicleta de ciclocrosse permite ter mais reatividade e “imediatismo”, com um ângulo de direção mais vertical, talvez a rondar os 72 graus. No gravel há modelos com 71 graus neste campo…

Outro detalhe é a altura do eixo pedaleiro face ao solo, que no criclocrosse é mais baixa, o que permite ter um centro de gravidade mais perto do solo (mais controlo). Também aqui as gravel se aproximam dessa tendência, apesar de ainda serem mais altas.

Por último, os quadros de ciclocrosse são um pouco mais “abertos”, para facilitar o transporte da bicicleta ao ombro quando necessário. Esta características não se nota nas gravel, até porque dificulta um pouco o momento de subir e descer da bicicleta…

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Depois, o equipamento. E aqui falamos mesmo da capacidade de o quadro conseguir transportar bagagem. Orifícios roscados tanto no quadro como na secção frontal (suspensão ou forqueta simples) destinados a instalarmos alforges, bolsas, bidões de hidratação. Nas gravel de viagem há muito disto, como sabemos, mas nas de velocidade, tal como nas bikes de ciclocrosse, não se aplica.

As rodas e os pneus

Uma boa bicicleta de ciclocrosse para competir tem sempre rodas em carbono, mas nas gravel isso nem sempre acontecia, pois o alumínio garante um pouco mais de resistências nos trilhos, certo?

Mas hoje o objetivo de andar rápido no gravel faz com que grande parte das bicicletas para essa vertente do ciclismo também contam com rodas em carbono e com perfil médio.

Por outro lado, nos pneus encontramos ainda fortes diferenças entre o gravel e o ciclocrosse. Nesta modalidade, há uma largura máxima de 33 mm indicada pela UCI, em competição.

Nas gravel, por seu turno, utilizam-se larguras maiores para aguentar melhor as irregularidades do terreno. Quem competir em ciclocrosse com uma gravel terá sempre de fazer esta alteração, à partida.

A transmissão e o sistema monoprato

Aqui acaba por ser a carteira do ciclista a ditar que nível de equipamento pode ter na sua bicicleta. Contudo, há certezas. Uma delas é que no ciclocrosse, até porque é a competição que mais importa, o sistema monoprato no pedaleiro é o mais utilizado. Neste capítulo, as gravel estão a seguir essa tendência, embora encontremos ainda muitas versões com dois pratos.

As versões disponíveis

A “explosão” do gravel fez com que os utilizadores que desejam uma bicicleta com as morfologia das de estrada para circular por caminhos de terra deixassem de lado as de ciclocrosse e se lançassem para as de gravel.

Assim, notamos algo curioso a acontecer. Nas gravel de viagem, o que não falta são opções em carbono ou alumínio, versões com nível de equipamento mais baixo, etc. Tudo para que sejam mais acessíveis a quem deseja entrar na modalidade a pensar nas viagens, no bikepacking…

Nas gravel de velocidade, acontece o contrário, tal como nas de ciclocrosse. O objetivo aí é andar rápido, treinar forte, competir. Por isso, a tendência é para que nas gamas desapareçam os modelos mais baratos e menos bem equipados para que predominem os modelos mais caros e com muito equipamento de topo.

Em suma…

Confessamos que a redação deste artigo foi alavancada pelo crescente aparecimento de provas e eventos de gravel na Europa, na Península Ibérica… Achamos que existe um modelo de bicicleta adequado para cada utilizador e respetivas necessidades, mas não temos dúvidas de que, neste sentido da competição, os modelos de ciclocrosse e gravel estão cada vez mais próximos.

Se competes em ciclocrosse, a escolha é fácil: tens de ter uma bicicleta de ciclocrosse, a de gravel pode não trazer o mesmo desempenho nessas exigentes provas.

Mas, se em paralelo com umas boas viagens de bicicleta também tens em mente participar em provas ou eventos de gravel, então esse tipo de bicicleta tem de estar no teu horizonte. É uma gravel “agressiva” que procuras!

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Artigo redigido por José Escotto e editado por Jorge Lopes. Caso detetes algum erro ou tenhas informação adicional que enriqueça este conteúdo, por favor entra em contacto connosco através deste formulário.

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