Há algo garantido com Tiago Machado em prova: tendo liberdade, é ciclista para “mexer” nas corridas. Perto ou longe da meta (e muitos são os ataques de longe), este corredor nunca se coíbe de dar espetáculo. É uma das suas características desde muito cedo na sua longa carreira.

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Porém, aos 36 anos, decidiu que chegou o momento de se retirar. Não já. Ainda o vamos ver até ao final da temporada e claro que já só se espera pelo próximo ataque que lhe possa dar uma vitória que certamente procurará para ter uma saída em grande.

Este domingo assistimos a um momento à Machado. Lá atacou de muito, muito longe, na fase inicial de uma corrida com mais de 160 quilómetros. Não resultou. Começou ao seu estilo, mas acabou por abandonar. A notícia que Machado considera estar na altura de sair de cena e começar uma nova fase da sua vida chegou pouco depois.

O anúncio foi feito nas redes sociais. “Não era assim que queria fazer o meu último campeonato nacional, mas não deu para melhor”, lê-se, depois de referir o abandono nos Nacionais do Mogadouro.

“No final desta temporada irei retirar-me do ciclismo profissional, pois as oportunidades quando surgem são para ser aproveitadas e é o que irei fazer. Gostava e sentia-me capaz de continuar a competir pelo menos mais uma temporada, mas acredito que isto será sem dúvida o melhor para o meu futuro! Obrigado a todos pelo apoio ao longo destes 18 anos como profissional, mas em especial hoje, sem dúvida o último nacional ficará para sempre no meu coração”, escreveu.

Sempre ambicioso para ganhar, mas também um gregário de qualidade

Um irreverente na forma como encara as corridas e alguém que nunca teve problemas em expressar as suas opiniões publicamente. Tiago Machado mostrou-se sempre ambicioso, querendo sempre mais. Em 2005, o Boavista (então Carvalhelhos-Boavista) abriu-lhe as portas do profissionalismo e por lá evoluiu nos cinco anos seguintes.

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Esperava-lhe algo maior. Assinou pela americana RadioShack em 2010, chegou ao World Tour, passou pela NetApp-Endura em 2014 (2º escalão), antes de regressar na temporada seguinte ao mais alto nível, na Katusha. Metade da sua carreira foi passada nos grandes palcos.

Foi companheiro de equipa de grandes nomes do ciclismo mundial, como Fabian Cancellara, os irmãos Schleck, Andreas Klöden, Joaquim Rodríguez, Tony Martin, Marcel Kittel, e só para referir corredores que já terminaram a carreira. Dos que ainda competem, temos Michal Kwiatkowski, Tony Gallopin, Giacomo Nizzolo, Alexander Kristoff…

E foi colega de outros portugueses nas equipas estrangeiras por onde passou, como Sérgio Paulinho, Nelson Oliveira e Manuel Cardoso na RadioShack; José Mendes na NetApp-Endura e José Gonçalves na Katusha.

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Participou nas três grandes voltas (dois Giros, três Tours e duas Vueltas) e nos monumentos esteve na Liège-Bastogne-Liège (quatro vezes) e na Lombardia (duas). Foi gregário, mas também teve os seus dias de liberdade. E não era atleta de desperdiçar essas oportunidades. Alcançou vários pódios, venceu uma Volta à Eslovénia em 2014 (tanto se fala agora desta prova…), mas, por cá, antes de partir para o estrangeiro, conquistou um Troféu Joaquim Agostinho e foi campeão nacional de contrarrelógio.

Faltou-lhe um título de fundo. Por três vezes subiu ao pódio, mas nunca ao 1º lugar. No Mogadouro fez uma última tentativa, como se espera que fará para ganhar uma etapa na Volta a Portugal e não só. Haverá mais corridas para se ver Machado em ação até ao fechar da época de 2022.

Uma última grande fuga! Vimo-lo tentar em grandes corridas, como numa Liège-Bastogne-Liège. E foi cá que fez algo com contornos épicos, quando em 2018 andou 130 quilómetros em fuga, 80 em solitário! Ganhou a Prova de Abertura Região de Aveiro, com as cores da seleção nacional, num daqueles dias impossíveis de esquecer.

Em 2019, regressou ao pelotão nacional, entrando num Sporting-Tavira de grandes ambições para a Volta a Portugal, mas os objetivos não foram alcançados.

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Mudou-se depois para a Efapel, mas ficava a impressão que o Boavista era a casa a que tinha de regressar. Assim foi em 2021. Será na Rádio Popular-Paredes-Boavista que fará a sua despedida, ele que é dos ciclistas mais populares do nosso pelotão.


Imagens: Federação Portuguesa de Ciclismo

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