Imagina-te ao volante de um Fórmula 1 (de qualquer uma das equipas, é indiferente…) e, já dentro do cockpit, a acelerar “forte”. A primeira das sensações seria ver como tudo à nossa volta passaria por nós a uma velocidade incrível. Rapidez a trocar de mudanças, rodas coladas ao chão, irregularidades do terreno bem “absorvidas”… Foi assim que nos sentimos quando pegámos pela primeira vez nesta Canyon Grizl CF SLX 8 eTap Suspension.

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Mas chamemos-lhe apenas Grizl a partir de agora, pois o nome é bastante longo, e não querendo que seja confundida com a divertida Grizl CF SL 8 que testámos em exclusivo por altura do lançamento desta gama de gravel da marca alemã. Mas qual a principal diferença entre elas? Fácil: esta mais recente, como o próprio nome indica, conta com suspensão à frente.

Na verdade, apesar de muitos poderem achar que estamos a exagerar e que há por aí muitas outras boas bikes de gravel (é bem verdade!), garantimos que foi assim que nos sentimos a andar neste novo modelo da Canyon, que adiciona muito bem ao lote de equipamento uma transmissão eletrónica que não falha. Falamos disto e muito mais ao longo desta review. Mas antes olhemos mais em detalhe para a bicicleta.

Canyon Grizl CF SLX 8 eTap Suspension: ‘artilharia’ pesada!

Não se pode pedir muito mais a esta Grizl, certamente, até porque seria “obrigatório” encontrarmos aqui um comportamento exímio quando o preço para o mercado português supera os cinco mil euros… Andámos com a bike bastante tempo, deu para “sentir” tudo o que esta Grizl tem para dar, e a verdade é que a precisão de rodagem é elevada numa boa diversidade de cenários.

Conhecendo as lógicas limitações de uma bicicleta de gravel (não é de todo uma BTT…), esta sugestão da Canyon, muito por “culpa” da suspensão frontal, permite enfrentar praticamente todos os tipos de terrenos off road sem pestanejarmos.

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E temos de começar a prosa exatamente por aí, pela suspensão frontal RockShox Rudy instalada na parte frontal da bicicleta, com os seus curtos 30 mm de curso. É pouco? Relembramos que se trata de uma bicicleta de gravel, um segmento em que ter suspensão é efetivamente uma raridade.

Por sua vez, também o espigão de selim VCLS apresenta um formato habitual nesta gama da marca e que permite filtrar algumas vibrações e assim acusarmos menos fadiga em viagens com muitos kms em estradão e trilhos. Funciona. O selim Fizik Argo Terra X5 ali por perto, com um perfil curto, também nos dá algum conforto e ergonomia, mesmo não sendo dos melhores da sua categoria.

Depois, outro ponto a que é impossível ficar indiferente é à transmissão de acionamento eletrónico. O conjunto Sram Force eTap AXS é uma delícia… Poder trocar de mudança com um simples toque de dedo, mesmo em situações complicadas, é fantástico. Não há falhas, a precisão é absoluta e podemos assim andar um pouco mais descontraídos quanto às necessidades de escolher a velocidade certa.

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Comportamento de BTT, quase…

Atrevemos-nos a afirmar que esta gravel pode ser mais rápida que uma BTT naqueles estradões e terrenos mais planos e “abertos”, sem obstáculos de monta. E talvez até em single tracks mais lineares.

A suspensão vai fazendo a sua parte e o conjunto rodas/pneus ajudam a imprimir velocidade quando é necessário: são umas Reynolds ATR bastante desenvoltas e 45 mm nos pneus, que, apesar de largos, não geram atrito como pode acontecer numa BTT. E com boa tração a subir.

Na estrada de asfalto, cumpre a sua missão. A surpresa chega, no entanto, quando nos aventuramos por uma descida ou outra com um grau de exigência maior. É verdade que o guiador algo estreito requer uma boa dose de técnica, mas temos controlo suficiente para reagirmos com rapidez ao que o terreno nos apresenta. A suspensão dá uma boa ajuda, como já referimos.

A ‘jóia da coroa’ é a transmissão eletrónica Sram Force eTap AXS, que nos liberta um pouco mais para a exploração de todo o potencial desta Grizl.

O sistema de travagem Sram Force HRD também faz a sua parte sem grandes surpresas, ao passo que na relação de mudanças é preciso “fazer contas” à estratégia nas subidas: não se trata de um conjunto típico de uma BTT, pelo que a cassete 44d e o prato 40d vão exigir muito mais às pernas quando o desnível começa a ser mais pronunciado. Fica o aviso…

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Viagens mais longas

Supõe-se que qualquer gravel deve estar preparada para umas boas viagens de bicicleta e esta Grizl parece-nos pronta para tal. Contudo, com a presença da suspensão frontal perdemos alguns pontos de fixação de bagagem e bidons que noutros modelos encontramos na forqueta.

Ficamos entregues apenas aos pontos de instalação existentes no quadro, que são na quantidade normal, por assim dizer. No nosso caso, o modelo que nos enviaram para teste andou quase sempre com uma bolsa Apidura / Canyon que satisfaz por ser prática, útil e espaçosa.

Nas voltas maiores, o amortecimento trazido pela suspensão e pelo espigão de selim dá jeito: não sentimos tanta fadiga ao final do dia quanto sentimos com outras gravel, é um facto. A transmissão eletrónica dura bastante ao nível da autonomia, mas alertamos para o facto de o carregador Sram funcionar apenas em ligação USB ao computador. Para recarga de emergência, podes no entanto usar o cabo do carregador do smartphone.

As rodas Reynolds ATR XDR (perfil de 40 mm de altura e de 23 mm de largura interna) mostram-se capazes de andar depressa tanto no asfalto como nos estradões.

Destacam-se também as rodas, que já referimos neste teste. Alguma surpresa em ver este perfil numa gravel, mas a verdade é que as rodas não se ressentem nos trilhos e na estrada ajudam a alcançar boas velocidades. Se nas tuas voltas maiores vais percorrer muitos kms em alfalto, talvez montar uns pneus mais rolantes seja boa ideia. Para a terra estes são bons.

Alguns destaques:

Rock Shox Rudy Ultimate

Se 30 mm de curso parece pouco, podemos afirmar que numa gravel como a Canyon Grizl é mais do que suficiente. Aliás, em qualquer gravel não será necessário mais do que 30 mm para podermos entrar em qualquer caminho sem receios, desde que não seja um trilho técnico daqueles mais “duros” e que somente enfrentamos com um boa BTT.

Esta suspensão integra um comando de bloqueio numa das coroas, como é típico nas RockShox de entrada, algo bastante acessível à mão e que usámos apenas em alfalto. É também muito fácil tirar e por o eixo da roda da frente.

Grupo Sram Force 1 eTap AXS

A “jóia da coroa” desta Grizl é o conjunto eletrónico Sram Force eTap AXS, especialmente porque nos mostrou como pode ser fundamental conseguirmos tirar todo o potencial de uma bicicleta com estas características.

O funcionamento é perfeito, sem falhas na transferência de mudanças. Apesar dos “maus tratos” que infligimos à bicicleta, não notámos qualquer sinal de desafinação.

A bateria tem autonomia mais do que suficiente para qualquer tipo de uso, gerida a partir da app móvel AXS instalada no smartphone, um recurso que nos permite de certa forma personalizar o funcionamento da transmissão eletrónica. Podemos, por exemplo, definir como queremos que as diferentes manetes mudem as velocidades. Não mexemos na configuração que vinha de origem, contudo, com a manete da direita a meter mudanças e a da esquerda a tirar.

Rodas Reynolds ATR XDR

Já delas falámos mais acima, mas vale a pena aqui o reforço de atenções. As rodas Reynolds ATR XDR (perfil de 40 mm de altura e de 23 mm de largura interna) oferecem um ótimo desempenho a rodar a velocidades elevadas tanto no asfalto como nos estradões.

Não mostraram qualquer problema perante uma utilização mais “intensiva”, mesmo quando era hora de “atacar” uns bons trilhos a descer, e os pneus Schwalbe G-One Bite de 45 mm portaram-se bastante bem especialmente em terrenos enlameados.

A nossa avaliação

Quer sejas um expert em gravel ou alguém que está ainda a pensar entrar nesta vertente do ciclismo, é certo que esta Canyon Grizl CF SLX 8 eTap AXS Suspension é uma bicicleta que recomendamos.

Se tens experiência, a Grizl vai permitir que andes um pouco mais depressa e um pouco mais à vontade nos trilhos mais exigentes, e quem sabe em alguns caminhos por onde ainda não tinhas tido coragem para passar sem desmontar.

É uma bike que coloca à prova a tua técnica, sendo que o amortecimento na roda da frente e a rapidez na passagem de velocidades permitem descontrair um pouco mais da parte mecânica e colocar concentração no caminho e em explorar todo o potencial da bicicleta.

Se tens pouca experiência em gravel, então aí a Grizl pode tornar as coisas um pouco mais simples: não é “rija” como outros modelos, perdoa alguns erros técnicos e faz-te evoluir, de certa forma.

É para as tiradas mais longas em jeito de bikepacking? Sim. Mas atenção a duas coisas: podes sentir falta de mais desmultiplicação para rolar na estrada, e talvez sejam poucos os pontos de montagem de bolsas e suportes no quadro. Mas conforto não falta mesmo ao fim de várias horas em cima da bicicleta.

O que mais nos agrada…

  • Não nos cansamos de referir a transmissão eletrónica da Sram: funciona muito bem, permite um manusear perfeito das mudanças e não acusa falta de afinação em momento algum.
  • Amortecimento: a suspensão frontal é certamente um dos pontos mais positivos e em destaque, tal como o espigão de selim capaz de absorver também algumas irregularidades vindas do piso.
  • Preço: tendo em conta o nível de componentes e equipamento, está correto. Indicamo-lo como um ponto positivo apenas por o acharmos justo, visto que ainda assim a bicicleta é cara…

A melhorar…

  • Peso. Aferimos 10,2 kgs com tudo o que é preciso para começar a andar: pedais, grade de bidon e bidon com 0,5 litros e uma pequena bolsa Apidura / Canyon fixada no tubo superior. Não é que seja mau de todo (está entre os registos de uma BTT de XC de gama média/alta…), mas não é a mais leve do segmento.
  • Ajuste do selim: tal como notámos na outra Grizl que testámos em tempos, ajustar o espigão de selim não é tarefa fácil. Se o tivermos de fazer a meio de uma volta, então aí é que as coisas podem mesmo complicar. A rever pela marca na próxima geração, por favor.
  • Guiador: não pelo desempenho e controlo, que são bons, mas sim porque podia muito bem estar neste modelo topo de gama um cockpit integrado e feito de carbono, não? Este modelo em alumínio “pede” upgrade.

Especificações da Canyon Grizl CF SLX 8 eTap AXS 2022:

  • Quadro: Fibra de carbono CF SLX (955 gramas)
  • Suspensão: RockShox Rudy Ultimate XPLR 30 mm
  • Transmissão: Sram Force eTap AXS (Prato: 40d – Cassete: 10-44d)
  • Travões: Sram Force HRD (discos 160 mm)
  • Rodas: Reynolds Carbon ATR XDR 40 mm
  • Pneus: Schwalbe G-One Bite 700×45
  • Espigão: VCLS Carbon
  • Selim: Fizik Argo Terra X5
  • Guiador: Canyon HB0063 440 mm
  • Peso: 9,42 kg (Canyon), 10,20 kg (verificado pelo GoRide.pt com pedais, grade de bidon e bolsa Apidura X Canyon)
  • Preço: 5.149 euros

Site oficial:

Todas as fotos (clica/toca para aumentar):

Pormenores (clica/toca para aumentar):


Neste teste:

  • Texto e teste: José Escotto / Samuel Escotto
  • Fotos e vídeo: José Escotto e Nuria Iglesias
  • Rider nas imagens: Samuel Escotto

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