Era uma espécie de assunto pendente para Orluis Aular: ganhar na Europa. Numa semana tratou disso e de que maneira: duas etapas, a classificação geral e dos pontos na 39ª Volta ao Alentejo. E não esquecer que precisamente há uma semana estava a vencer na Clássica da Arrábida. Eis um ciclista que ficará com Portugal no coração. Aos 25 anos, o venezuelano confirma com vitórias as expectativas que a Caja Rural-Seguros RGA tinha para este corredor quando o contratou em 2020.

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Vitórias na Europa, entenda-se, porque no primeiro ano ao serviço da equipa espanhola, Aular foi a casa “limpar” a Volta à Venezuela: três etapas, geral e pontos. A Caja Rural-Seguros RGA acredita neste corredor. Quando renovou o contrato no final a temporada passada, justificou assim: “O sul-americano comprovou durante os seus dois anos na Caja Rural-Seguros RGA a sua capacidade para a média montanha e boa ponta de velocidade em grupos reduzidos, à espera de inaugurar o seu palmarés de triunfos na próxima temporada.” E aí estão eles.

Em boa altura, também, ainda que já não salvem a equipa da exclusão da Volta à Espanha. Há dez anos que tal não acontecia. A reação à má notícia foi com estas vitórias no Alentejo de Aular (25 anos), a melhor resposta para que possa estar nas contas de receber o convite para a grande volta em 2023. Serão precisos mais resultados de nota e Aular sai de Portugal com estatuto reforçado dentro da estrutura e, principalmente, de moral em alta para a restante temporada.

A confiança na Caja Rural-Seguros RGA neste ciclista é compreensível. Mesmo não ganhando, em 2021 somou vários bons resultados, incluindo um segundo lugar numa etapa da Volta à Andaluzia, outro na Route d’Occitanie e um oitavo na Volta a Portugal, entre outros.

Vitória na primeira etapa de Aular, com Iúri Leitão a ser segundo.

No Alentejo foi irrepreensível, ofuscando um o companheiro português Iúri Leitão, que há um ano havia sido figura principal nesta corrida, Desta feita, o ciclista de Viana do Castelo trocou o sucesso individual pelo trabalho coletivo em prol de Aular.

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O venezuelano mostrou que sabe sprintar, sendo que se o grupo for grande tenta antecipar-se, tendo pulmão para aguentar um ataque de longe. Venceu assim a primeira etapa e também na Arrábida. Mas no Alentenjo não foi só esse o seu ponto forte. Não houve montanha que colocasse muita pressão no pelotão, mas no contrarrelógio, o venezuelano demonstrou que é mais uma características positiva que tem. Não sendo especialista, anda bem no esforço individual e até venceu em Castelo de Vide.

O sonho de chegar longe

Como qualquer ciclista, Aular quer chegar longe e nunca se coibiu de aceitar novas experiências para tentar concretizar os seus objetivos. Em 2017 teve uma primeira passagem por Espanha, na EC Cartucho.es-Magro e além de equipas do seu país, também representou uma da Bolívia. Em 2019 foi até ao Japão e na Matrix Powertag realizou uma época muito positiva, com 12 vitórias.

Quando a Caja Rural-Seguros RGA o chamou, Aular nem queria acreditar, mas ao terceiro ano começa a ganhar ainda mais destaque, com triunfos em corridas de estatuto internacional como são os casos da Volta ao Alentenjo e Clássica da Arrábida. Com estes resultados, Aular vai ambicionar entrar em provas num nível ainda mais elevado.

Mas este domingo é dia de celebrar. Aular é o primeiro venezuelano a vencer a Alentejana, um ano depois de um uruguaio o ter feito: Mauricio Moreira, da então Efapel. Também foi uma estreia para a Caja Rural-Seguros RGA, com a última equipa espanhola a vencer a Alentejana a ter sido a Movistar, em 2017, com Carlos Barbero.

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A última etapa

Com apenas cinco segundos a separar Aular de Xabier Azparren (Euskaltel-Euskadi) depois do contrarrelógio de 8,4 quilómetros em Castelo de Vida, não ia ser um último dia descansado para ninguém. Havia bonificações em jogo, mas as fugas acabaram por tirar esses segundos, ajudando ainda a Rodrigo Caixas (LA Alumínios/Credibom/Marcos Car) a ser o vencedor da montanha. A decisão na luta pela amarela foi para a meta, em Évora, numa tirada com 171,9 quilómetros, que arrancou em Castelo de Vide.

O sprint não é um ponto forte de Azparren e a sua equipa apostou em mais uma vitória de etapa, depois do jovem espanhol ter ganho a segunda. Juan José Lobato repetiu a dose de 2021, ou seja, venceu novamente na Alentejana, desta feita na derradeira tirada. O espanhol bateu Daniel Freitas (Rádio Popular-Paredes-Boavista) e João Matias (Tavfer-Mortágua-Ovos Matinados). Aular foi quarto confirmando assim a grande semana que teve em Portugal.

“Estou muito contente com a corrida que fizemos, tanto eu como toda a equipa. Conseguimos ganhar a geral. Era um objetivo porque tinha preparado muito bem esta prova e sabia que poderia sair bem”, realçou um muito feliz Aular no final.

E acrescentou: “Quero agradecer a todos os meus companheiros por depositarem a confiança em mim. Esta vitória é para eles, para a minha namorada e para a minha família, que me apoia sempre. Agora há que desfrutar do feito e preparar com muita vontade as próximas corridas.”

A etapa ficou marcada por duas fugas sem sucesso, a primeira de quatro corredores e mais tarde nove tentaram a sua sorte. Porém, o pelotão não permitiu surpresas, com o objetivo a ser mais um final ao sprint na Praça do Giraldo, palco tradicional da festa de despedida de mais uma edição da Volta ao Alentejo.

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José Neves (W52-FC Porto) repetiu a presença no pódio da edição passada. Havia sido segundo, agora foi terceiro, a 24 segundos do camisola amarela. A sua equipa foi a vencedora na classificação coletiva. No pódio final esteve ainda Pelayo Sanchez, da Burgos-BH, o vencedor na juventude. Isto é, as três ProTeam espanholas (equipas do segundo escalão mundial) estiveram em destaque, com Aular a ser ainda o melhor na classificação dos pontos.

Aos 21 anos, Rodrigo Caixas também vive um momento importante na sua carreira. Subiu ao pódio como o vencedor da classificação da montanha, somando mais três pontos que César Fonte (Kelly/Simoldes/UDO), com apenas uma contagem de quarta categoria na última etapa, a fuga da altura ficou com os pontos, com nenhum dos ciclistas a ser ameaça ao da LA Alumínios/Credibom/Marcos Car.

Passo a passo, Caixas vai tentando afirmar-se na estrada. No ano passado venceu uma etapa na Volta a Portugal do Futuro e na pista – uma forte aposta deste jovem – alcançou o título europeu de scratch, em sub-23.

Últimos vencedores da Volta ao Alentejo

  • 2022: Orluis Aular (Caja Rural-Seguros RGA)
  • 2021: Mauricio Moreira (Efapel)
  • 2019: João Rodrigues (W52-FC Porto)
  • 2018: Luís Mendonça (Aviludo-Louletano)
  • 2017: Carlos Barbero* (Movistar)
  • 2016: Enric Mas (Klein Constantia)
  • 2015: Pawel Bernas (ActiveJet Team)
  • 2014: Carlos Barbero (Euskadi)
  • 2013: Jasper Stuyven (Bontrager Cycling)

Info e classificações:


Foto principal e todas as restantes: João Calado/Podium Events

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