Um dia depois de terminada a Volta a Portugal, José Azevedo deixou um duro diagnóstico ao estado atual do ciclismo português. O diretor desportivo da Efapel Cycling mostrou-se desiludido com aquilo que considera ser um “retrocesso” no combate ao doping e anunciou que, em 2026, a sua equipa deverá privilegiar o calendário internacional, deixando o português em segundo plano.

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“Há dois anos criou-se esta ferramenta [passaporte biológico] que foi muito importante. E isso aí foi algo de muito positivo. Deveria ser usado como um instrumento de credibilidade. Mas para isso tem de haver rigor. Rigor, 100%. Não pode haver 99%”, disse à Lusa o antigo corredor, acusando a nova direção da Federação Portuguesa de Ciclismo, liderada por Cândido Barbosa, de não estar a defender devidamente a verdade desportiva.

Azevedo, que viu Tiago Antunes terminar a Volta em 5.º lugar a 3.14 minutos do vencedor, Artem Nych (Anicolor-Tien24), lamenta a falta de medidas preventivas contra corredores sob suspeita:
“Não se pode permitir que, por exemplo, no ano passado, haja corredores a ganhar provas, quando todos nós sabemos [que vão ser suspensos]. (…) Para a verdade desportiva prevalecer, um corredor não deveria estar a competir quando está um processo aberto.”

O diretor da Efapel recorda o trabalho iniciado pela direção anterior, presidida por Delmino Pereira, que considera ter sido um “caminho de sucesso”. Agora, identifica um recuo claro: “Não sei o porquê, mas houve um retrocesso. Isso não pode acontecer. Isso volta a ser penalizador. E, claro, faz-nos ponderar tudo isso, se vale a pena investir no ciclismo português.”

Azevedo não fugiu a exemplos dentro de casa, lembrando os casos de Rafael Silva e João Benta, suspensos por anomalias no passaporte biológico. “São pessoas por quem tenho muita estima, porque enquanto estiveram na Efapel tiveram um comportamento exemplar. (…) Mas tomei as medidas, porque nesta equipa há regras de que eu não abdico. Mas, se calhar, somos os únicos a trabalhar dessa forma.”

Face ao cenário atual, o antigo quinto classificado do Tour de 2004 anunciou uma mudança de rumo: “O projeto Efapel foi repensado no futuro e, no próximo ano, nós vamos procurar calendário internacional, vamos tentar competir o máximo possível no calendário internacional, e possivelmente em Portugal não iremos competir. (…) Não é uma decisão fácil, não é a decisão que nós mais desejávamos, mas no contexto atual do ciclismo português não há vontade de continuar a fazer parte.”

E deixou uma promessa: a equipa voltará a dar prioridade às provas nacionais “um dia que isto mude”. Até lá, concluiu, “temos que mudar a direção, porque este contexto de ciclismo português para nós está esgotado”.

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Crédito da imagem: Volta a Portugal Facebook

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